Setembro 29, 2022
Sigur Rós. Da ordem do espanto
Miguel Marujo
Quando o espanto se apresenta à nossa frente, nem sempre estamos preparados. Quando o belo se passeia aos nossos olhos e ouvidos, podemos ficar muito tempo pasmados, sem saber articular o que sentimos, o que acabámos de viver – e ficamos pasmados. Talvez por isso, horas depois de termos visto os Sigur Rós em palco (no sofrível Campo Pequeno, que tanta luta terá dado aos técnicos de som dos islandeses) ainda nos faltem as palavras e sobrem as emoções para descrever o que foram aquelas quase três horas de concerto.
Podíamos enumerar vulcões e geiseres, uma natureza que irrompe por entre a lava, como a voz de Jónsi se eleva para lá de todas as notas e explosões, de todos os tecidos sonoros que tecem planícies e montanhas, que arrepia no som mais grave ou no tom mais agudo, entre o rouco e o sussurrado, entre o dito e o que ficou por dizer.
Cada uma das 21 canções (aos primeiros dez temas, mais intimistas, seguiu-se um hlé, intervalo, para novo set de 11 músicas sob a luz de um solstício de verão) mostrou um público ávido, mesmo que ali não se acompanhe cada um dos versos, e em comunhão com os quatro islandeses. Por trás da exaltação de cada espectador, desconfiamos que todos estavam entre o espanto e o pasmo. E a melhor forma de ir contando a história da noite de 28 de setembro é mergulhar uma e outra vez na discografia mágica destes druidas dos tempos novos.
[foto MM]