Dezembro 28, 2022
Linda de Suza. E, entretanto, crescemos
Miguel Marujo
Em 1995, numa viagem pela Costa do Marfim, fiquei alojado numa instituição que acolhia crianças e jovens deficientes abandonados pelas famílias. Estávamos em Bouaké, bem no interior do país. Ao pequeno-almoço, no primeiro contacto com os que lá moravam, aquela mulher cega, que nunca tinha saído dali (era a única "deficiente" adulta, deixada na rua quando bebé, por ter nascido cega), de riso expressivo e conversa desenvolta, soltou uma gargalhada quando ouviu de onde eu vinha. "Ah, Portugal! Lindá de Suzá! Ouço muito na rádio" — e começou a cantarolar uma canção da portuguesa da "valise en carton". Há malas de cartão que nos deixam marcas, mesmo que na nossa adolescência fossem apenas um nome para piadas fáceis. Entretanto, crescemos.
[texto originalmente publicado na minha página do Facebook]