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Cibertúlia

Dúvidas, inquietações, provocações, amores, afectos e risos.

Julho 27, 2021

Fazer amor sem suar e com a roupa interior vestida

Miguel Marujo

Vicky-Cristina-Barcelona.jpg

Os clichés das produções de Hollywood estão registados num site divertidíssimo. Saiba tudo aquilo que os argumentistas repetem nos seus guiões.

 

Cena 7, take 2. Ação! Os dois principais protagonistas fazem amor, com a sua "roupa interior vestida". "Ela geme, mas não sua" e, depois do sexo, "ela deita-se de costas e puxa os lençóis até ao pescoço, exatamente como na vida real".

Não se trata do argumento de nenhum filme em particular. Retrata apenas três clichés das produções de Hollywood, em cenas de sexo, segundo um site divertidíssimo que regista os estereótipos dos filmes – Moviecliches.com. E clichés há muitos!

Qualquer personagem "apanha um táxi instantaneamente", basta esticar a mão e gritar. Mas se se tratar do herói do filme em perigo, "nenhum táxi aparece". É como os elevadores, que estão sempre no piso em que se encontram os protagonistas (como no filme Ricos e Pobres), exceto quando os heróis fogem dos vilões – e aí nunca mais chegam! Já se o herói foge do vilão, por elevador, o mau-da-fita consegue descer os 20 andares do prédio ao mesmo tempo.

A criatividade dos argumentistas não é posta em causa por estes detalhes (chamemos-lhes assim), mas lendo as 73 categorias disponibilizadas é impossível não reconhecer muitas cenas dos filmes que se veem. De A de "airplanes" [aviões] a W de "wood" [madeira], as mais diversas e hilariantes situações são listadas. "Há sempre uma freira em aviões que têm acidentes. Moral da história: nunca apanhem um avião com freiras" (como nos filmes Aeroplano e Aeroporto 77). Ou: "Quando os homens bebem whiskey, fazem-no sempre num copo pequeno, e bebem-no de um trago", lê-se na secção de "bares e bebidas".

Se encontramos secções que se limitam a um ou dois clichés, há outras que parecem autênticos tratados do disparate: em "Carros e condução", "os protagonistas encontram sempre lugar de estacionamento junto do seu destino"; em "mulheres", "as mulheres têm sempre as pernas e os sovacos depilados, mesmo na Idade das cavernas"; ou em "telefones", "todos os números de telefone começam por 555" (e há lá melhor exemplo que em O Último Grande Herói, quando um miúdo "entra" no filme do seu herói e para provar ao personagem de Schwarzenegger que "está" num filme, pergunta à menina do clube de vídeo o número de telefone e obtém como resposta o inevitável prefixo?!).

"Armas", "guerra", "lutas" e "vilões" são outras secções bem guarnecidas de estereótipos. E há ainda outras duas secções especiais: uma sobre "asteróides" e outra sobre o "Dia da Independência". A ficção científica sempre viveu de seres verdes, muito parecidos com... os homens.

Um site como este vive da contribuição de cinéfilos [apesar de hoje estar inativo]. E tem como mote uma frase do “rei dos clichés”, Jerry Seinfeld: "Quando se gosta de uma coisa, não se deve ser muito racional com isso. Como os vilões de todos os filmes de James Bond. Sempre que Bond entra na sua casa: 'Ah!, Mr. Bond, seja bem-vindo, entre. Deixe-me mostrar o meu plano diabólico e depois ponho-o numa máquina de morte que não funciona'."

[artigo revisto a partir do texto originalmente publicado em 2001, no Culto, site de cultura do iol.pt, hoje inacessível e cujo arquivo está apenas parcialmente disponível em Arquivo.pt; a foto é de Vicky Cristina Barcelona, filme de 2008, de Woody Allen, nesta cena com Scarlett Johansson.]

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