Novembro 11, 2022
Dos gostos tardios. Ou um pretexto para falar de Gal
Miguel Marujo
Gal Costa (1945-2022), aqui com Gilberto Gil, Maria Bethânia e Caetano Veloso, como Doces Bárbaros.
Gal Costa é um gosto tardio, aprendido aos 20 já por Lisboa – apesar de exceções que já começavam a estar no radar: Milton, Chico, Caetano e Gil. Mas Gal nem por isso. Algures na adolescência, embirrava muito com uma certa mpb, que se tornou saco para meter tudo, um pouco como a secção de música portuguesa onde se mete tudo e um par de jarras. Por esses anos, um disco de Gal encheu-me pouco as medidas e afastou-me por tempo demasiado das suas obras. Depois, fui compondo a descoberta, que começou na inevitável Gabriela, a modinha que (já na minha infância) nos colava a todos ao ecrã a preto e branco. A adolescência tem as suas coisas parvas, já sabemos. Mas depois crescemos - e felizmente ouvimos Gal Costa.
E aqui, comovente, Caetano a chorar a sua morte:
"Minha voz, minha vida
Meu segredo e minha revelação
Minha luz escondida
Minha bússola e minha desorientação
Se o amor escraviza
Mas é a única libertação
Minha voz é precisa
Vida que não é menos minha que da canção".