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Cibertúlia

Dúvidas, inquietações, provocações, amores, afectos e risos.

Abril 26, 2020

Dez discos que influenciaram o meu gosto musical. 6

Miguel Marujo

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Pediram-me para escolher 10 álbuns que influenciaram o meu gosto musical. Um álbum por dia, 10 dias consecutivos. Pediram-me sem ordem cronológica, sem explicações, sem críticas, apenas as capas de álbuns. Mas não consigo deixar de contar um pouco da (minha) história de cada um deles. E à boleia acrescentar outras influências que nasceram daqui.

Various Artists: Lonely Is An Eyesore

Houve um tempo em que o selo de uma editora era garantia de que se podia ouvir (e comprar) um disco quase cegamente. Pelo menos para mim. Les Disques du Crépuscule, Real World, a marca Made To Measure, da Crammed Discs, eram (são) algumas das labels em que praticamente nem pestanejava na hora de picar um disco. 

Depois havia a 4AD, a editora que Ivo Watts-Russell criou para durar a década de 1980 (mas que, felizmente, apesar de ter perdido a importância desses tempos, mantém a sua atividade), e na qual fui descobrir alguma da melhor música que ainda hoje ouço. Foi aqui que gravaram os Birthday Party, Matt Johnson dos The The, os Pixies ou os Bauhaus, os Xmal Deutschland ou His Name Is Alive…

Apesar de todos estes nomes, de que já ouvia algumas coisas, à 4AD cheguei por causa de um programa de música na TV, o Music Box with Simon Potter, que passava no espaço da Europa TV, na RTP2. 

O tal do Simon dedicou uma emissão a passar os vídeos de uma coletânea (e sempre gostei muito de boas coletâneas) chamada Lonely Is An Eyesore (nome retirado de um verso de uma canção dos Throwing Muses, incluída no álbum), que juntava alguns dos principais nomes da editora: Cocteau Twins, de que já andava a ouvir o genial Victorialand, Dead Can Dance, The Wolfgang Press, Clan of Xymox, Dif Juz, This Mortal Coil, com Acid, Bitter and Sad, ou as já referidas muses de Kristin Hersh e Tanya Donnely.

Tudo somado, apaixonei-me pelos ritmos encantatórios e hipnóticos dos Dead Can Dance, sobretudo em The Serpent's Egg (1988) e Aion (1990), pelos lirismos que voam de Elizabeth Fraser nos Cocteau Twins, pelas guitarras e vozes de Throwing Muses, e mais ainda pela diversidade misteriosa do coletivo This Mortal Coil, que juntava músicos de bandas da editora, apercebendo-me então que aquela belíssima Song To The Siren que já tinha ouvido, na interpretação de Fraser e Robin Guthrie, era de um dos mais espantosos discos da 4AD (melhor dito, da música em geral): It'll End in Tears.

Tudo somado: thank you, Simon Potter!