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Cibertúlia

Dúvidas, inquietações, provocações, amores, afectos e risos.

Setembro 29, 2021

Autarcas que levantaram o país do chão

Miguel Marujo

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Fernando Gomes foi eleito aos 30 anos: "Não havia uma única rua alcatroada, não havia iluminação pública, era fazer tudo do zero." (Foto Maria João Gala/Global Imagens)


O Portugal de 1976 era um país onde "faltava tudo". Ruas por pavimentar, bairros sem luz, água canalizada que não existia, esgotos a céu aberto. [Em 2017,] o DN viajou pelo país de então com quatro dos primeiros presidentes eleitos de câmaras municipais para fazer o retrato do que foram essas primeiras eleições autárquicas e das prioridades políticas que cada um deles teve para os seus concelhos. Perante a imensidão dos problemas, todos pediam tudo, recordam. E garantem que eram tempos de política pura.


Ruas por pavimentar, bairros sem luz, água que não chegava às torneiras, esgotos a céu aberto, transportes inexistentes e gentes sem casas. O Portugal de 1976 era o retrato de um país sem os mínimos de uma vida digna para muitos dos seus cidadãos, herança pesada de uma ditadura que gostava de ter os portugueses pobres e remediados. É este país que vai a votos a 12 de dezembro de 1976 para eleger, pela primeira vez em democracia, os seus órgãos autárquicos. Quase 41 anos depois, o DN percorreu essas ruas com quatro protagonistas eleitos nesse dia, autarcas que ajudaram o país a levantar-se do chão.

Fernando Gomes, 71 anos, eleito aos 30 presidente da Câmara Municipal de Vila do Conde, pelo PS, conduz o DN até um bairro social que nasceu no seu primeiro mandato. À passagem pelas Caxinas, perto do limite norte da cidade, vai apontando para os arruamentos. "Não havia uma única rua alcatroada, não havia iluminação pública", recorda, "era fazer tudo do zero". Talvez um pouco mais que zero.

Com mais ou menos variações, os exemplos repetem-se. "Faltava tudo", concorda Alda Santos Victor, uma das quatro mulheres eleitas presidentes da câmara em 304 municípios. Aos 95 anos, quase 96, eleita com 55 pelo CDS, a antiga presidente da Câmara de Vagos constata que "fez-se alguma coisa, fez-se o saneamento, que não havia".

[artigo originalmente publicado no DN, em 30 de setembro de 2017]