Saltar para: Post [1], Pesquisa e Arquivos [2]

Cibertúlia

Dúvidas, inquietações, provocações, amores, afectos e risos.

Setembro 30, 2018

As concertinas que viajaram mar dentro

Miguel Marujo

dançasocultas.jpg

Danças Ocultas apresentam no seu novo registo, Dentro Desse Mar, com produção de Jaques Morelenbaum, um cheiro intenso de Brasil. A descobrir esta linguagem universal

As quatro concertinas mais desconcertantes da música portuguesa regressam esta sexta-feira, 28 de setembro, com o seu novo registo, Dentro Desse Mar, onde embarcam numa aventura, agora com a produção do brasileiro Jaques Morelenbaum.

Fazendo um uso extraordinário das concertinas, compondo em conjunto, como no trabalho de uma oficina, a elegância do sopro que surpreendeu crítica e público em 1996, com o álbum homónimo, que nos mostrava quatro cadeiras desenhadas na capa e uma imensa vontade de rasgar com o som que tradicionalmente se associa a este instrumento, estes rapazes de Águeda voltam a apostar noutros músicos, vozes e instrumentos que dialogam consigo.

Ao quinto álbum de originais, a que se soma um EP em parceria com Dom La Nena, duas coletâneas e um álbum ao vivo com a Orquestra Filarmonia das Beiras, Artur Fernandes, Filipe Cal, Filipe Ricardo e Francisco Miguel juntam às concertinas outras vozes e instrumentos para melhor fazer ouvir a sua respiração, como logo se anuncia em Azáfama, o tema de abertura.

Os quatro das Danças Ocultas explicam esta escolha para abrir o álbum por ser uma música que transmite a "energia" que colocaram "na criação e gravação dos temas deste disco" e também "por revelar um novo caminho para Danças Ocultas".

Há Brasil a rodos, ou não houvesse Morelenbaum com o seu violoncelo e na produção, como já se disse, e um álbum quase todo ele gravado nos estúdios Casa do Mato, no Rio de Janeiro, mas também há Zélia Duncan na voz em As Viajantes, Dora Morelenbaum, a filha de Jaques, a cantar em Dessa ilha, que tem letra de Arnaldo Antunes, dos Tribalistas. Há uma tradição que nunca se deixa acantonar no tradicionalismo mais conservador, como se ouve em O Teu Olhar, cantada por Carminho, ela que também já cruzou várias vezes o seu fado com o um certo tropicalismo brasileiro.

O enorme oceano que separa Portugal e o Brasil parece apenas uma simples gota, quando se ouve este trabalho de artesãos que resgata a concertina e as suas composições para uma conversa em que a linguagem universal é a música, como transparece em Búzios ou Azaf.

Talvez não se encontre aqui a absoluta surpresa de quem descobriu estas danças com Folia, no primeiro álbum (1996), ou bailou em Contradança, do segundo trabalho, Ar (1998), mas a sedução destes sons encantam-nos tanto como o que se descobre dentro deste mar.

dançasocultas-capa.jpg

 

Danças Ocultas,
Dentro Desse Mar

(Sony Music Portugal)
CD, 13,90€.
Também disponível
nas plataformas de streaming.

foto © Alípio Padilha, 
texto originalmente publicado
no DN de 28 de setembro de 2018