Abril 14, 2019
A íntima partida
Miguel Marujo
É o mais belo indicativo da rádio: aquela guitarra dedilhada, a flauta assobiada, um Mar d'Outubro que nos abre a porta para o programa de rádio que mais vezes terei ouvido, não sei bem desde quando, e que a internet resgatou ao silêncio que entretanto lhe tinham imposto. E estava de novo "no ar", na Radar. Francisco Amaral alimentou durante 35 anos a mais bela íntima fracção que nos trazia palavras e sons na justa medida dos desejos e dos sentidos.
Um dia, o facebook permitiu-me dizer-lhe o quanto gostava do programa, ser seu "amigo", segui-lo, receber de prenda vários ficheiros disponibilizados de emissões antigas. Na noite de ontem, no carro, ouvi a voz da Radar a anunciar as horas do programa, e pensei que gostava de voltar a ouvi-lo na rádio como antes fazia: deitado, às escuras e aquelas notas a invadirem o sonho. A morte de Francisco é prematura. Na emissão dos 35 anos do programa, ele disse-nos: "Só se possuem eternamente os amigos de quem nos separamos." Obrigado.