Julho 26, 2021
A indignação seletiva
Miguel Marujo
Muitos que hoje atacam Otelo fazem-no por comparação a Salgueiro Maia. Talvez valha a pena lembrar que, em 1988, o então primeiro-ministro Cavaco Silva recusou atribuir a Salgueiro Maia uma pensão que tinha sido pedida pelo capitão de Abril pelos "serviços excecionais e relevantes prestados ao país" devido à sua participação no 25 de Abril, para a qual nunca obteve resposta. A recusa ou a falta de resposta ao pedido de Salgueiro Maia só veio a público três anos depois quando Cavaco Silva concordou com a atribuição de pensões a dois ex-inspetores da PIDE, um dos quais estivera envolvido nos disparos sobre a multidão concentrada à porta da sede daquela polícia política no 25 de Abril — e muitos do que louvam hoje Salgueiro Maia calaram então qualquer indignação.
A ler: O Otelo que escolho celebrar (de Daniel Oliveira, no Expresso) e Demasiado cedo para a história? (de Rui Tavares, no Público).