Setembro 25, 2022
A dança é um lugar estranho
Miguel Marujo
A dança é uma linguagem que me é estranha — talvez pela inabilidade muito pessoal em dar sentido e ritmo a este corpo. E também por isso a dança fascina-me, mesmo que no dia a dia não a absorva (ou consuma) como com outras artes. Paro por vezes, aos sábados à noite na RTP2, a ver bailados contemporâneos ou clássicos, entre o fascinado e o intrigado: que me dizem aqueles movimentos, os ritmos, os corpos? Sei que, como em todas as artes, o gosto não se impõe, antes discute-se e aprende-se, e estes programas ou alguns (poucos) espetáculos vistos vão ajudando a formar o meu próprio gosto pela dança. Nem sempre incondicional, nem sempre fácil.
Esta noite, Olga Roriz apresentou no CCB um espetáculo que criou com a Companhia Nacional do Bailado (e que repete este domingo), integrado no centenário de Saramago — e o arrebatamento aconteceu(-me). Dos corpos presos na engrenagem, fechados, inquietos e carnais, do amor refletido de Blimunda e Baltazar, dos braços erguidos de punho cerrado, dos risos que soltam os gestos, Deste Mundo e do Outro é um espanto feito espetáculo. E devia ter guia de marcha para todos os palcos do país.
[foto CNB]