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Cibertúlia

Dúvidas, inquietações, provocações, amores, afectos e risos.

Julho 04, 2020

A culpa é do algoritmo. De um bom algoritmo

Miguel Marujo

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O algoritmo faz isto. Quando termina o álbum que estou a ouvir no Spotify, propõe-me a “rádio” desse mesmo disco: uma seleção aleatória de músicos e canções alinhados com o que acabei de ouvir. Foi o caso — e a escolha apanhou-me num mundo eletrónico de sons, raras vozes, de suspensões e sussurros, de pausas e excitações.

A lista algorítmica recupera outros temas do autor de que ouvimos o disco, e introduz-nos nomes que navegam nas mesmas águas; uns que me dizem alguma coisa, como Alva Noto, Ryuichi Sakamoto ou Fennesz, outros que nunca ouvi mais gordos, como Felicia Atkinson, Kali Malone ou Lucrecia Dalt.

O álbum que tinha acabado de ouvir também foi obra do acaso (leia-se: algoritmo). E deixei-me ir. Nas recomendações para mim lá estava o nome da obra, The Ghost Album, e o nome do autor, Elio Martusciello. Nada me dizia, pouco me diz ainda. É de Nápoles, cidade a que associamos (mesmo sem lá ter estado) um caos quente de máquinas e corpos, e é um “compositor e intérprete de música experimental italiano, principalmente no violão e no computador”, descreve a tradução da wikipédia, no google apressado.

A acompanhar o italiano está a voz de Alexandra Staraşciuc, que o google também praticamente desconhece (a não ser nas colaborações com Martusciello). Sem a plasticidade ou a profundidade de uma Björk, a voz emprestada aos sons de Elio remete-nos na sua pureza para algumas paisagens sonoras da islandesa — mas talvez só procure dar-vos pistas para o que poderão ouvir, ao escutarem The Ghost Album. 

Passados todos estes anos, dou por mim a gostar de algoritmos: há alguns que contaminam os nossos dias com prazer. Como este The Ghost Album, 11 composições em 48 minutos do ano da pandemia de 2020, que me abriu a porta para a obra de um tal senhor Elio de Nápoles.