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Cibertúlia

Dúvidas, inquietações, provocações, amores, afectos e risos.

Junho 14, 2014

A beleza que ganha

Miguel Marujo

[foto Brasil-Itália, Mundial de 1982]

Agora regressava aos meus 10 anos, que me lembro como se fossem hoje, aquela tarde quente (também estava quente), estores em baixo, a sala numa semiobscuridade que protegia do calor, a porta fechada para o estádio sair melhor do televisor e só de vez em quando a minha Mãe a entrar para saber como estava o jogo, e Sócrates e Falcão e Éder e Zico e os outros todos a dançarem, a bailarem, a encantarem as serpentes de Xerazade, para soçobrarem perante o calculismo de um Paolo Rossi que me fez detestar a Itália do futebol de ferrolho durante anos. Não me peçam os minutos dos golos, a marcha do marcador, para isso há o google, aquilo que me lembro daquela tarde é que fiquei muito tempo parado no sofá sem entender como podia a beleza não ganhar. Engano meu, de um miúdo de 10 anos. A beleza ganha sempre. Ainda hoje me lembro daqueles brasileiros todos a dançarem, e daquela Itália campeã só ficou Rossi, por ter sido o feio traidor da beleza - de quem também nunca mais se ouviria falar depois do título.