Agosto 10, 2004
Genocídios: um (outro) Darfur próximo de nós
Miguel Marujo
Darfur está aí. Como o Ruanda, silencioso, nos anos 90. Apesar do ruído que alguns se atrevem a fazer, o assunto teima em ficar esquecido na terceira parte do telejornal ou num canto do jornal. Durante anos, alguns poucos também fizeram ruído por Timor-Leste contra o derrotismo de muitos que apostavam na solução realpolitik: entregava-se aquilo à Indonésia, "eles são poucos, estão muito longe", garantiam-se uns quantos direitos e algumas liberdades e ficavam as consciências tranquilas.
Não foi possível - os mortos acabavam por falar sempre mais alto. E com Timor descobriram-se outros timores, novos temores: o Sara Ocidental, um espinho de areia encravado entre o mar e o deserto argelino, de Marrocos à Mauritânia, antiga possessão espanhola, terra de Massília, «estéril costa».
De Espanha, nem bom vento, nem boa diplomacia: José Luís Zapatero - sim, ele! - deixou-se enredar na cantiga do rei bom, autor de fracas aberturas políticas, e com a realpolitik debaixo do braço dá a mão a quem, como os indonésios, espezinha o direito internacional.
Como em Timor-Leste. Como no Darfur. O genocídio aqui escreve-se com palavras mais suaves, com armas menos mortais, sem testemunhas. Empurram-se os nativos para lá do muro de segurança - um muro mais!, que não apaga a obscenidade do muro de Israel, nem a de outros - que Marrocos vai construindo em torno daquele pedaço de areia encostado ao mar. Aos sarauis, no deserto da Argélia, sem apoio internacional e com a condescendência argelina, resta sobreviver... mal. Sem país e sem liberdade (a uns quilómetros, vê-se o muro, e soldados que o guardam).
Darfur tem agora os olhos postos nele. Tarde e más horas: já morreram muitos, demasiados. Mas pouco sobra na nossa indignação sazonal para olhar o mundo. À direita atiram-se piadas sobre a esquerda que esquece Darfur e só se lembra do Iraque. Como se o mal de uns fosse maior que o de outros. Não há escalas para o Mal. No Darfur dos dias de hoje, em Timor-Leste antes da independência. No Ruanda dos anos 90, ou no Sara Ocidental, esquecido na foto.
Não foi possível - os mortos acabavam por falar sempre mais alto. E com Timor descobriram-se outros timores, novos temores: o Sara Ocidental, um espinho de areia encravado entre o mar e o deserto argelino, de Marrocos à Mauritânia, antiga possessão espanhola, terra de Massília, «estéril costa».
De Espanha, nem bom vento, nem boa diplomacia: José Luís Zapatero - sim, ele! - deixou-se enredar na cantiga do rei bom, autor de fracas aberturas políticas, e com a realpolitik debaixo do braço dá a mão a quem, como os indonésios, espezinha o direito internacional.
Como em Timor-Leste. Como no Darfur. O genocídio aqui escreve-se com palavras mais suaves, com armas menos mortais, sem testemunhas. Empurram-se os nativos para lá do muro de segurança - um muro mais!, que não apaga a obscenidade do muro de Israel, nem a de outros - que Marrocos vai construindo em torno daquele pedaço de areia encostado ao mar. Aos sarauis, no deserto da Argélia, sem apoio internacional e com a condescendência argelina, resta sobreviver... mal. Sem país e sem liberdade (a uns quilómetros, vê-se o muro, e soldados que o guardam).
Darfur tem agora os olhos postos nele. Tarde e más horas: já morreram muitos, demasiados. Mas pouco sobra na nossa indignação sazonal para olhar o mundo. À direita atiram-se piadas sobre a esquerda que esquece Darfur e só se lembra do Iraque. Como se o mal de uns fosse maior que o de outros. Não há escalas para o Mal. No Darfur dos dias de hoje, em Timor-Leste antes da independência. No Ruanda dos anos 90, ou no Sara Ocidental, esquecido na foto.