Dezembro 09, 2003
Leituras em atraso (II)
Miguel Marujo
Doçuras e travessuras. Ausente em parte incerta da sua fácil glória, longe das doçuras de outros dias, Ana Sá Lopes brindou-nos domingo com uma magnífica prosa sobre Portas, o Colonialista. Um texto na "mouche". Cito partes: «[...] Só um salazarismo doentio, profundo e alicerçado em toneladas de ignorância, explicam que o ministro da Defesa tenha relativizado o peso do racismo no império português. Este mito, que serviu de propaganda ideológica a Salazar no seu Portugal multirracial do Minho a Timor, é um embuste, desmontado por todos os historiadores e percebido por qualquer um que tenha acompanhado minimamente, com razoável grau de lucidez, os quadros do quotidiano do império - onde os portugueses pretos não tinham outro papel social que servir os portugueses brancos, ao preço da chuva. Já não era escravatura, eu sei. [...]
Agora, esse colonialismo latente conta com uma preciosa ajuda governamental: o ministro de Estado e da Defesa compraz-se na sua apologia, convocando todos os fantasmas mal resolvidos da sociedade, também porque se alimenta deles. Poder-se-à argumentar que Paulo Portas não tem princípios, só tem votos, mas neste caso não o creio: o seu anti-anti-colonialismo constitucional é efectivamente um princípio, o do colonialismo, agora já não envergonhado. Comparado com isto, a homenagem ao Maggiolo Gouveia foi uma brincadeira de crianças.
Esporadicamente, Paulo Portas gosta de se reivindicar herdeiro de uma direita europeia moderna - mas é falso. Portas é neto do salazarismo e das suas misérias, dos seus mitos mais patéticos, do seu obscurantismo e dos seus valores. O PSD julga que não, mas vai acabar por ser engolido na voragem.»
Outros, há muito avisados, falam em «amálgama ideológica». Pois.
Agora, esse colonialismo latente conta com uma preciosa ajuda governamental: o ministro de Estado e da Defesa compraz-se na sua apologia, convocando todos os fantasmas mal resolvidos da sociedade, também porque se alimenta deles. Poder-se-à argumentar que Paulo Portas não tem princípios, só tem votos, mas neste caso não o creio: o seu anti-anti-colonialismo constitucional é efectivamente um princípio, o do colonialismo, agora já não envergonhado. Comparado com isto, a homenagem ao Maggiolo Gouveia foi uma brincadeira de crianças.
Esporadicamente, Paulo Portas gosta de se reivindicar herdeiro de uma direita europeia moderna - mas é falso. Portas é neto do salazarismo e das suas misérias, dos seus mitos mais patéticos, do seu obscurantismo e dos seus valores. O PSD julga que não, mas vai acabar por ser engolido na voragem.»
Outros, há muito avisados, falam em «amálgama ideológica». Pois.