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Cibertúlia

Dúvidas, inquietações, provocações, amores, afectos e risos.

Agosto 05, 2004

As «rachas das meninas»(uma perspectiva "sociológica")

Miguel Marujo

Há dias encontrei-me para um café com o Rui. Para falarmos também das coisas que gostamos.

Não resisto agora a convocá-lo para revelar uma outra faceta de Boaventura Sousa Santos (por conta de Maria Filomena Mónica - sim, ele & ela!).



Maria Filomena Mónica revela [ontem], no Público, "O Diário Secreto de Santana Lopes com a Idade de 48 Anos", onde, às tantas afirma: «(...)o Prof. [Boaventura] Sousa Santos declarava estar "Portugal no grau zero das alternativas". Se fosse a ele, estava caladinho. Caso contrário, ainda divulgo os poemas que publicou, num livrinho chamado Têmpera, editado pela Centelha, em 1980, sobre as "rachas das meninas".»



Antecipando a ameaça, passo a transcrever, do referido livro, um excerto (o poema é longo...) da




ODE À INFÂNCIA



(...)

são muitas as horas da tarde

quando as mãos do último cigarro

esfregam em louro

o triunfo sobre a autoridade

a moral escarpada da verdura

resvala dos cerros como a lua nova

alagada de medo

escancaram-se as cancelas

das secretas construções

nas ruínas do ciclone de quarenta

trabalhos manuais sem mestre nem montra

entram chefes guerras caracóis

tesouras e pauzinhos

nas rachas das meninas

na catequese é em coro

e em filas

no escuro dos intervalos

medem-se as pilas

Boaventura tens quebranto

dois te puseram três te hão-de tirar

se eles quiserem bem podem

são as três pessoas da Santíssima Trindade

que é Pai, Filho e Espírito Santo

mexo nos anos sinto nas mãos

a moleza da cera não fere

alastra

(...)»



[in Rui Almeida]

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