Saltar para: Post [1], Pesquisa e Arquivos [2]

Cibertúlia

Dúvidas, inquietações, provocações, amores, afectos e risos.

Setembro 16, 2005

Não és nada: a televisão cretina

Miguel Marujo

Sobre o programa da SIC que anda para aí, nada como reproduzir o texto de Miguel Vale de Almeida — que diz tudo.

[Amanhã, parece que a extrema-direita (eufemismo para fascistas e nazis) vai protestar contra a coisa (mais uma vez autorizados pelo Governo Civil, contra a Constituição). Os cretinos são assim: gostam uns dos outros.]

"O 'Esquadrão G - Não és homem, não és nada' é apenas mais um programa cretino duma televisão cretina. A única razão porque merece alguma atenção é por ter ser sido propagandeado como programa cujos protagonistas são gay. No deserto da homofobia é razão que baste para despertar interesse. Ontem juntámo-nos uns tantos e umas tantas aqui em casa para ver a estreia da coisa. Confirma-se: é um programa cretino para uma televisão cretina. Embora sem grande drama (não me parece que o programa faça mossa, assim como não contribuirá para a famigerada "mudança de mentalidades"), perpetua estereótipos de género e sexualidade: os homens (hetero) serão broncos insensíveis; as mulheres (hetero) vêem os seus homens como Barbies para vestir; e os gays (homens) gostam de trapos, amaciadores e comidas com nomes franceses. Programa cretino para televisão cretina num sistema de género e sexualidade cretino. Tudo bem. Mas o mais curioso da noite foi isto: nem no programa propriamente dito, nem no stunt publicitário com a presença do Esquadrão no programa de Herman José, logo a seguir, alguma vez se referiu sequer que os rapazes são gay. Isto é, a sua gayness desapareceu depois do anúncio do programa nas últimas semanas. A sua gayness surge apenas confirmada nos sinais exteriores de... gayness - coisa que só pode acontecer se esses sinais forem os de um estereótipo*. Circularidade absoluta. O silêncio foi tal que quase suspeito que fosse combinado.

Bocejo.

* Um estereótipo não é uma imagem horrenda que deve ser combatida em nome de uma imagem belíssima, definida sabe-se lá por quem e com que autoridade. Um estereótipo é apenas uma forma de pobreza. Não de quem o transporta em si, mas sim de quem o promove/incita nos outros.[...]"