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Cibertúlia

Dúvidas, inquietações, provocações, amores, afectos e risos.

Outubro 30, 2003

À Marta (e aos pais da Marta)

Miguel Marujo

Espalhem a notícia

do mistério da delícia

desse ventre

espalhem a notícia do que é quente

e se parece

com o que é firme e com o que é vago

esse ventre que eu afago

que eu bebia de um só trago

se pudesse



Divulguem o encanto

do ventre de que canto

que hoje toco

a pele onde à tardinha desemboco

tão cansado

esse ventre vagabundo

que foi rente e foi fecundo

que eu bebia até ao fundo

saciado



Eu fui ao fim do mundo

eu vou ao fundo de mim

vou ao fundo do mar

no corpo de uma mulher



A terra tremeu ontem

não mais do que anteontem

pressenti-o

o ventre de que falo como um rio

transbordou

e o tremor que anunciava

era fogo e era lava

era a terra que abalava

no que sou



Depois de entre os escombros

ergueram-se dois ombros

num murmúrio

e o sol como é costume foi um augúrio

de bonança

sãos e salvos felizmente

e como o riso vem ao ventre

assim veio de repente

uma criança



Falei-vos desse ventre

quem quiser que acrescente

da sua lavra

que a bom entendedor meia palavra

basta é só

adivinhar o que há mais

os segredos dos locais

que no fundo são iguais

em todos nós




Sérgio Godinho, Espalhem a notícia