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Cibertúlia

Dúvidas, inquietações, provocações, amores, afectos e risos.

Abril 21, 2016

sign "o" the times

Miguel Marujo

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há uma canção acima de todas - e não aquelas que se dançava (eu) sem ritmo ou coerência, no Etc. ou no Jamaica de outros tempos, clássicos feitos, Purple Rain ou Kiss... mas há uma acima de todas, daquelas que se me entranhou no corpo, pelo que era, o ritmo, o teledisco, a síncope, as palavras, Sign "O" The Times, desse álbum maior que tem o mesmo nome, era 1987 o ano, a sida coisa temível e desconhecida, o sangue como metáfora de tempos confusos, Oh yeah! In France, a skinny man died of a big disease with a little name By chance his girlfriend came across a needle and soon she did the same At home there are seventeen-year-old boys and their idea of fun. há esta canção acima de todas. pena que, na sua fúria eremita contra a internet (ou pelos direitos de autor ou...), pouco se consiga ver e ouvir para a homenagem (aqui) justa, nem nos youtubes nem nos spotifys. fica a capa da New Yorker, ficam os discos. e aqueles dias todos. e aquela canção acima de todas. - PRINCE. 1958-2016.

Abril 18, 2016

Música para ouvirmos estes dias

Miguel Marujo

 

Cheguei a Sorrow pelo inevitável Nuno Galopim (em escassos dias foram quatro belas descobertas, esta incluída), num texto na Máquina de Escrever que nos conta o que se ouve nestes mais de 50 minutos e nos dá o contexto todo (até como dizer corretamente Górecki). Escreve-se ali que, com este Sorrow – A Reimagining Of Gorecki’s 3rd Symphony, "o saxofonista Colin Stetson mais não faz do que juntar o seu nome a [uma] lista de ilustres intérpretes que “ousaram” (e ousar é sempre bom) olhar para uma obra clássica segundo o seu olhar, refletindo assim, também, as marcas do seu tempo".

Essas marcas, indeléveis, permanecem agarradas aos nossos dias, a estes tempos. Como nota Nuno Galopim, "as memórias do Holocausto e da presença nazi sobre a Polónia, que serviram de inspiração primordial para a Sinfonia Nº 3 de Górecki não estão assim tão distantes no tempo. E do presente chegam-nos, a cada ano, novos exemplos de intolerância e morte. Além disso, o clima toldado por um regime totalitarista – como o que caracterizava a Polónia de 1976 quando Górecki compôs a sinfonia – não é ainda meteorologia política erradicada do planeta".

Ontem, um deputado federal brasileiro ousou louvar um militar-torcionário para humilhar alguém que, independentemente das políticas mais ou menos corretas, foi torturada, cuspindo na democracia que o elegeu e que lhe permite estes dislates que a ditadura que ele venera nunca toleraria em sentido contrário. Hoje, ao descobrir e ouvir Sorrow, chego à conclusão que este lamento é uma banda sonora possível para o Brasil destes dias. Não há samba de uma nota só que lhes valha. E que nos conforte.

 

- o álbum na íntegra, no Spotify: