Fevereiro 11, 2015
"Gracias, Felipe"
Miguel Marujo
«O agradecimento escreve-se em espanhol – “Gracias, Felipe – “porque há alternativa!”, com direito a exclamação. António Costa remata assim o prefácio à edição portuguesa do livro do antigo secretário-geral do PSOE espanhol, Felipe González, À Procura de Respostas (ed. Matéria-Prima), no qual sublinha que “a utilização no título do plural ‘respostas’ é, em si só, uma declaração política da maior importância”.
A importância está nos detalhes, aponta: o plural “significa a negação da resposta única, da natureza de inevitabilidade com que alguns procuram maquilhar as suas opções profundamente ideológicas”. Sem nomear, está aqui a sua crítica ao governo de Passos Coelho. Mesmo que Costa remeta para a Europa, partindo da análise que o antigo primeiro-ministro espanhol faz nesta sua obra, agora traduzida em Portugal, sobre a “implosão do sistema financeiro” que “procurou disfarçar-se na crise das dívidas soberanas”.
“Felipe González levanta-se contra a resposta neoliberal que tem inspirado a política europeia e lança as bases de uma nova liderança política social-democrata”, acrescenta o líder socialista português. E Costa defende “que há um outro caminho para prosseguir o ideal europeu e que esse caminho passa por uma Europa mais forte e mais solidária”. O secretário-geral do PS regista que “alguns quiseram, no seu início, e por óbvias conveniências, fazer crer que esta era uma crise nacional. Não é, nunca o foi. E só sairemos dela com uma resposta global”.
Já o socialista espanhol, no prólogo à edição portuguesa, recupera uma “imagem expressiva” de Durão Barroso: de que “fora necessário fazer ao mesmo tempo o trabalho de ‘bombeiros’ e de ‘arquitetos’”, perante a crise instalada na Europa, desde 2008. Mas a União Europeia (UE) e a zona Euro “reagiram pouco, tarde e mal”, e com o incêndio, os bombeiros só chegaram quando já estava “tudo ou quase tudo” destruído e os arquitetos esqueceram a necessidade de reconstruir o edifício da UE. E conclui: “Quando observo a situação de Portugal (...) pergunto- me, procurando respostas, se alguém acredita de boa-fé que a situação social, económica ou política melhorou nestes anos com as políticas austericidas dos resgates.” António concorda com Felipe.»
[texto publicado hoje no Diário de Notícias]