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Cibertúlia

Dúvidas, inquietações, provocações, amores, afectos e risos.

Março 25, 2014

Para estar irritado é preciso espumar da boca?

Miguel Marujo

Entre uma mensagem privada no facebook - em que o seu autor me dava conta (pasme-se) que discordava "de quase tudo do que" escrevi "sobre a entrevista de José Sócrates" (e me enviava uma nota sobre "o 'baile' de José Sócrates a José Rodrigues dos Santos") - ou artigos de jornais e posts de opinião, percebi que a irritação que notei e transcrevi para a notícia original causou engulhos ou irritações mal disfarçadas. Talvez seja por isso que me escreveram a dizer que discordavam de uma notícia factual.

Irritado é o termo, diferente quanto a mim da irascibilidade de tantos exemplos antigos, em que Sócrates era useiro. Não percebo como se afunila tanto o termo "irritar", quando podemos estar a falar de encolerizar, indignar, estimular, impacientar ou exacerbar, para dar alguns possíveis sinónimos. E aqui, nestes sinónimos, estão muitas das coisas que se viram ontem: o tom, a pose, a entoação, a postura do corpo, a rispidez, mesmo a ironia, contrastam - e muito! - com aquilo que era a intervenção de Sócrates até aqui. Era de alguém que estava irritado - e não irascível nem exaltado. E sim, Sócrates "não ia preparado" para aquilo, por lhe faltarem dados, mas por José Rodrigues dos Santos ter feito de um espaço de comentário uma entrevista, tentando apanhar assim uma eventual contradição ou falsa informação de um Sócrates "impreparado".

 

O que importa, deste caso, é sublinhar dois aspetos: 1. o comentário político na TV portuguesa (e em grande parte da imprensa) é uma anormalidade, feito por políticos que passaram o dia a discutir entre si e que, à noite, o fazem de novo no pequeno ecrã, ou por vários ex-qualquer-coisa, que se mantêm políticos e passeiam a sua opinião sem contraditório; 2. assumido o ponto 1, não se percebe que num único caso (o de Sócrates, este domingo) a premissa seja alterada pelo jornalista-residente-facilitador para ensaiar uma entrevista, desvirtuando o objetivo primeiro daquele espaço: o comentário da atualidade e não uma entrevista sobre atos passados. Para remakes desses, abram-se outros espaços.