Fevereiro 21, 2014
Mais que uma foto de tecnologia
Miguel Marujo
«African migrants on the shore of Djibouti city at night, raising their phones in an attempt to capture an inexpensive signal from neighboring Somalia—a tenuous link to relatives abroad. Djibouti is a common stop-off point for migrants in transit from such countries as Somalia, Ethiopia and Eritrea, seeking a better life in Europe and the Middle East.» [legenda original, no site da World Press Photo]
Esta foto que venceu a World Press Photo carrega uma beleza que quase esconde o drama de quem é retratado na fotografia. Quando a vi como premiada, reconheci-a de imediato. Os jornais (e o próprio site da WPP) replicaram a legenda sem indagarem muito mais. Houve quem juntasse, a partir da biografia do fotógrafo, que John Stanmeyer acompanhou a luta de independência de Timor-Leste (que nos parece já tão longínqua).
Mas poucos se deram conta da história que esta foto ilustrou: o primeiro capítulo de uma reportagem que se prolongará por sete anos — está na edição de janeiro da National Geographic Portugal, e como relata o jornalista Paul Salopek, que iniciou esta jornada pelo mundo, aqueles migrantes procuram o sinal da rede telefónica mais barata da vizinha Somália para falarem para lugares como Melbourne, Minnesota ou Londres. Mas também eles procuram deixar para trás aquela praia.
Muitos jornais descreveram-na como uma foto de tecnologia, e num artigo que li há dias (e de cuja referência perdi o rasto) já havia críticos a apontarem o dedo a uma foto que não era de "atualidade". Afinal, faltava-lhe o sangue ou a violência de tantos outros prémios anteriores da WPP. Enganam-se: na beleza desta foto está a tragédia das migrações, de milhões obrigados a partir em busca de melhores condições e de outras vidas (como também cá em Portugal). Sim, em 2013, avisou a ONU, «nunca tantas pessoas [moravam] fora dos seus países». A WPP acertou em cheio.