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Cibertúlia

Dúvidas, inquietações, provocações, amores, afectos e risos.

Fevereiro 25, 2014

O senhor Mário Coluna

Miguel Marujo



O meu Pai fez-me do Benfica. Lá em casa eu declinava os jogadores de vermelho, nos meus 10 anos, de Bento, Humberto Coelho, Veloso, Bastos, Pietra, Nené e tantos outros, como os de Eusébio, José Augusto, Torres, Águas ou Coluna, que já tinham arrumado as botas e de que o meu Pai me ensinou os nomes e contou as jogadas. É isto que faz a magia do futebol. Por isso, mortes como as de Eusébio e hoje de Coluna deixam esta saudade. Ou talvez seja eu apenas a lembrar o meu Pai.

Fevereiro 21, 2014

Mais que uma foto de tecnologia

Miguel Marujo

foto de John Stanmeyer

«African migrants on the shore of Djibouti city at night, raising their phones in an attempt to capture an inexpensive signal from neighboring Somalia—a tenuous link to relatives abroad. Djibouti is a common stop-off point for migrants in transit from such countries as Somalia, Ethiopia and Eritrea, seeking a better life in Europe and the Middle East.» [legenda original, no site da World Press Photo]

Esta foto que venceu a World Press Photo carrega uma beleza que quase esconde o drama de quem é retratado na fotografia. Quando a vi como premiada, reconheci-a de imediato. Os jornais (e o próprio site da WPP) replicaram a legenda sem indagarem muito mais. Houve quem juntasse, a partir da biografia do fotógrafo, que John Stanmeyer acompanhou a luta de independência de Timor-Leste (que nos parece já tão longínqua).

Mas poucos se deram conta da história que esta foto ilustrou: o primeiro capítulo de uma reportagem que se prolongará por sete anos — está na edição de janeiro da National Geographic Portugal, e como relata o jornalista Paul Salopek, que iniciou esta jornada pelo mundo, aqueles migrantes procuram o sinal da rede telefónica mais barata da vizinha Somália para falarem para lugares como Melbourne, Minnesota ou Londres. Mas também eles procuram deixar para trás aquela praia.

Muitos jornais descreveram-na como uma foto de tecnologia, e num artigo que li há dias (e de cuja referência perdi o rasto) já havia críticos a apontarem o dedo a uma foto que não era de "atualidade". Afinal, faltava-lhe o sangue ou a violência de tantos outros prémios anteriores da WPP. Enganam-se: na beleza desta foto está a tragédia das migrações, de milhões obrigados a partir em busca de melhores condições e de outras vidas (como também cá em Portugal). Sim, em 2013, avisou a ONU, «nunca tantas pessoas [moravam] fora dos seus países». A WPP acertou em cheio.

Fevereiro 20, 2014

Mais uma filhadaputice

Miguel Marujo

É das notícias de hoje: «O Governo quer ainda identificar opções para incentivar a flexibilidade salarial e reduzir os incentivos para contestar os despedimentos individuais em tribunal.» Já o disse muitas vezes - e vivi-o na prática: em Portugal, é fácil despedir um trabalhador. «Mesmo sem razão, a coisa segue para tribunal, quando segue, se o trabalhador tiver meios e paciência. Depois, aguarda. A empresa, quando é condenada, se for, já ganhou: não teve mais aquele trabalhador, não lhe pagou ordenados e, agora, já ninguém se lembra. Entretanto, o trabalhador tenta a sua sorte noutro lado, incluindo o desemprego.» No meu caso, o despedimento ilegal, inventado por uma empresa (e uns senhores gestores fdp) sem escrúpulos demorou 3 anos e meio a decidir-se em tribunal. Agora o Governo quer reduzir os incentivos para contestar os despedimentos individuais. A filhadaputice anda à solta.

Fevereiro 04, 2014

Pareceres

Miguel Marujo

Parece que num destes domingos nunca a TVI tinha ido tão baixo na "gala da casa dos segredos" e tão bem no sucesso nas audiências. Parece que ontem a praxe foi elevada a manifestação cultural de interesse único. Parece que hoje Portugal abdica de manter uma coleção Miró que gostamos muito de ver nos museus lá fora. Parece que isto anda tudo ligado.

Fevereiro 03, 2014

Por uma União (federal) Ibérica

Miguel Marujo

O Diogo Pinto é amigo de há muitos anos e dedica-se todos os dias a esta coisa da Europa. Coisa palpável, de gentes e políticas, não a mixórdia acéfala de merkéis e hollandes que nos querem impor. Aqui avanço com um texto seu que, no mínimo, serve para o debate. Comentários na caixa respetiva, pf.

 

«É do conhecimento geral que sou um federalista europeu. Acredito que, por várias razões que poderei explicar noutra altura, a União Europeia deveria evoluir no sentido de uma verdadeira união política, com uma verdadeira democracia europeia, um verdadeiro Parlamento Europeu e um Governo Europeu legítimo. Estou convencido de que esta é a única maneira de garantir a sobrevivência cultural, económica e política da Europa num mundo cada vez mais globalizado e, mesmo, de permitir que os Europeus recuperem a sua soberania - entretanto perdida para os "mercados" e outros poderes ilegítimos - assente nos valores que são os seus. Ao contrário do que por aí se diz, o federalismo não significa centralizar poder em Bruxelas ou permitir aos burocratas europeus que decidam sobre todos os assuntos, impondo a sua vontade a todos os níveis, sem ter em conta nem as especificidades culturais nem as vontades diversas dos cidadãos; pelo contrário, o federalismo é a forma de governo que se inspira e melhor permite a implementação do princípio da subsidariedade, assegurando a tomada de decisões ao nível mais próximo possível dos cidadãos, mediante a verificação constante de que as ações são empreendidas ao nível - local, regional, nacional ou europeu - em que fazem mais sentido e são mais eficazes.
Estou consciente de que o projeto de federação europeia não é para amanhã, e que, como muitas outras conquistas históricas, se trata de um processo longo e difícil. Mas isso não significa que devamos manter-nos à espera que algo aconteça; pelo contrário: há que trabalhar no dia-a-dia com uma perspetiva de longo prazo, promovendo a ideia, mostrando ambição e dando pequenos passos no sentido certo.
Apesar de Portugal e a Espanha, por razões históricas que em nada têm a ver com a vontade dos seus cidadãos, terem chegado com um atraso de 30 anos ao processo de construção europeia, têm hoje a oportunidade de se colocarem na vanguarda do projeto. Portugal e a Espanha partilham séculos de história comum, tradições e valores culturais similares e problemas e desafios semelhantes. Partilham também uma geografia complementar, e uma posição de ponte cultural entre a Europa, o Mediterrâneo, a África e as Américas, que não pode ser ignorada. A constituição de uma União Ibérica tem sido o sonho e o projeto de muitos, ao longo de séculos; hoje, seria um passo decisivo no sentido de uma União Europeia federal.
O que proponho não é a integração de Portugal em Espanha (sosseguem os nacionalistas); o que proponho é a extinção voluntária dos estados espanhol e português, e a sua substituição por uma União (federal) Ibérica, assente na representação democrática e soberana dos povos que habitam a península (portugueses, castelhanos, galegos, bascos, catalães, etc.). Nesta União, todos teriam o direito a manter e promover a sua especificidade cultural, e a decidir independentemente em todas as matérias que lhes digam respeito; mas acrescentariam as possibilidades e as capacidades que a criação de um nível federal (ibérico) ofereceria.
Para já, não se trata senão de uma ideia que quero testar junto dos meus amigos "ibéricos". Havendo interesse da vossa parte e apoio a esta "ideia perigosa", trabalharemos juntos na elaboração mais cuidadosa de argumentos sérios e de uma mensagem que possa ser partilhada com com quem de direito. Obrigado!»