Dezembro 31, 2013
Este ano, e o que vem
Miguel Marujo

um ano diferente, para todas e todos
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Dezembro 31, 2013
Miguel Marujo
Dezembro 24, 2013
Miguel Marujo
Dezembro 22, 2013
Miguel Marujo
Pocket Atlas of Remote Islands
Judith Schalansky
Penguin Books
É uma tremenda injustiça a que cometo ao não escolher da colheita deste ano um qualquer romance, livro de poesia ou viagens, um álbum de fotografias ou banda desenhada e mesmo algo do mundo da ilustração infantil, que merece tantos elogios. Nas nossas viagens pessoais cruzamo-nos sempre com algo que acaba por subir à tona – e ao lembrarmos o ano, acabamos por acostar nesse porto. Por entre o que li e o que nem sequer folheei, acabo por optar pelo conforto de uma descoberta pessoalíssima (e se a edição inglesa deste original alemão é de 2012, só em 2013 o encontrei por estas nossas paragens).
Pocket Atlas of Remote Islands é um pequeno e improvável guia de viagens. A sua autora avisa logo na capa ao que vai – e ao que vamos: “Cinquenta ilhas que nunca visitei nem nunca visitarei”. Embarcamos então numa promissora viagem de descobertas que se cruzam com as nossas (portuguesas) ditas descobertas marítimas. Destas 50 ilhas, destes 50 pedaços de paraíso e inferno, há por exemplo Tristão da Cunha (na foto), Santa Helena e Ascensão, territórios improváveis da União Europeia num longínquo Atlântico Sul, hoje sob a Coroa britânica. Ou Diego Garcia, que pode ter sido achada por um português em 1512-1513, mas deve o nome a um navegador espanhol que serviu a Coroa portuguesa (a globalização é de facto uma coisa antiga).
Ao fazer esta viagem pelos cinco oceanos, os relatos de cada ilha surpreendem pela opção da autora, uma alemã nascida no Leste, antes da queda do muro de Berlim. Nessa altura, viajar para ela estava apenas ao alcance das folhas de um atlas, mas ao criar este, Judith Schalansky não optou pelo lado exótico (e fácil) de páginas de bonitas fotografias e textos encomiásticos. A sua viagem é crua, por vezes humorada e sempre despida de artifícios: regressemos a Diego Garcia, onde o texto começa num bairro de lata da capital maurícia de Port Louis, por aí viverem muitos nativos de Diego Garcia para ali deportados em 1971, para britânicos e americanos instalarem uma base naval no meio do oceano Índico. O óbvio postal de luxuriantes férias fica escondido dos olhares do mundo como área protegida militar.
Este atlas desconstrói a narrativa clássica dos atlas, apesar de cada ilha ser apresentada e desenhada no mapa, com as indicações mais relevantes. Para um atlas de territórios remotos, indica-se também a que distância ficam estas ilhas de outros pedaços de terra. Tristão da Cunha está a 2770 km do cabo da Boa Esperança, a 3340 km do Rio de Janeiro e a 2960 km de Thule do Sul. Longe de tudo, perto de nós – nas páginas deste atlas de bolso.
[texto publicado este sábado no QI, suplemento aos sábados do DN, sobre As leituras mais marcantes de todo o ano.]
Dezembro 22, 2013
Miguel Marujo
Push the Sky Away
Nick Cave & The Bad Seeds
Sabemos bem quem ele é: o anjo negro que subia ao palco num filme a preto e branco alemão a dizer que não ia cantar sobre uma rapariga e acabava a cantar sobre essa rapariga, é o mesmo (muitos anos depois) que nos surge na capa deste disco a expulsar uma mulher do paraíso. Push the Sky Away marcou o regresso de Nick Cave – depois das explosões de Dig, Lazarus, Dig!!! (2008) e dos dois álbuns com os Grinderman (de 2007 e 2010) – a ritmos mais lentos, a sonoridades que parecem planar pelos céus, mas sem se aproximar de Murder Ballads (1996) ou The Boatman’s Call (1997), referências mais óbvias quando procuramos mares mais calmos na torrente discográfica do australiano.
Este álbum é também um recomeço para Nick Cave, o primeiro sem o seu companheiro de todas as outras 14 aventuras, Mick Harvey, que optou por semear a sua música a solo. Este álbum é também a minha escolha num ano de regressos que podiam ser também escolhidos como o que melhor se fez, seja David Bowie ou Arcade Fire ou The National.
Quando deixamos de voar e começamos a escavar as palavras que formam cada uma destas nove canções, percebemos que a turbulência da música de Nick Cave (e os seus companheiros de tantos anos, os Bad Seeds) afinal permanece lá, indelével, como a fé de muitos.
Há sereias, há Deus, ou um deus muito pessoal deste australiano, que apesar de toda a expiação e possível redenção, permanece sempre mergulhado na tristeza de despedidas, de amores impossíveis e carnais.
Só por momentos conseguimos achar que “We No Who U R”, “Higgs Boson Blues” ou “Jubilee Street” – provavelmente a mais bela canção do ano – nos transportam para paisagens sonoras reconfortantes. Os poemas, os apontamentos soltos que Nick Cave foi compilando num pequeno bloco-notas ao longo de um ano, nasceram também de curiosidades que o músico e também escritor foi googlando ou consultando na Wikipédia. Martin Luther King ou Miley Cirus são personagens de uma mesma história, nove histórias de aparente descrença, que retratam estes tempos de desesperança.
Ouvido o álbum, escutadas as canções, podemos olhar de novo para a capa e ver aquele anjo negro a deixar entrar a luz para o quarto, iluminando o corpo despido dessa mulher. Talvez, como nesta foto, este seja também um álbum de enganos. Empurrado o céu para longe, a esperança são as pessoas. Sem necessidade de esquecer, porque sabemos bem quem ele é, este anjo negro.
[texto publicado este sábado no QI, suplemento aos sábados do DN, sobre Os discos que contam a banda sonora do que ouvimos em 2013.]
Dezembro 20, 2013
Miguel Marujo
Fui mimado hoje com um direito de resposta do Sindicato dos Estivadores no DN (edição papel) muito indignado por ter escrito uma notícia factualíssima com o título "trabalhadores portuários sem cortes nos salários", que se refere aos despachos de dois secretários de Estado sobre essa dispensa de cortes. Num segundo texto refere-se que os sectores aeroportuário e dos portos tinham mantido um longo braço de ferro com o Governo, indesmentível facto. Factos - falamos deles. Único erro: na capa (que não é minha responsabilidade), fala-se de "estivadores", quando o texto se referia a trabalhadores dos portos.
Os senhores estivadores não gostaram de serem assim olhados como privilegiados. E meteram ERC, que acolheu a queixa do sindicato. E queriam que o jornalista falasse com eles, quando a notícia não era sobre eles, como eles protestam (coerência, claro). E o sindicato aproveita o direito de resposta para insultar, imputando-me (ler a partir daqui com sonora gargalhada) a motivação da notícia como "manipuladora da opinião pública e inserida na brutal campanha que vimos assistindo desde há largos meses contra os estivadores portugueses".
Os senhores estivadores transformam-se em vítimas numa notícia que só penaliza o Governo. Helder Rosalino, que despachou favoravelmente a exceção de cortes aos trabalhadores portuários, deve rir-se hoje. Não admira que saia cansado do Governo.
Dezembro 18, 2013
Miguel Marujo
AOC ASDI FEC(m-l) FER FSP FUP GDUP LCI LST MDP/CDE MES MUT OCMLP PCP(m-l) PC(R) PRD PRT PSR PST PT PUP PXXI UDP UEDS
Esta lista apresenta os partidos que já foram reconhecidos mas que já não existem ou cessaram a sua actividade.
Dezembro 16, 2013
Miguel Marujo
Dezembro 14, 2013
Miguel Marujo
Volta e meia, também vêm aqui perguntar-me, quantos empregos já criei - quando zurzo em maus empresários e péssimos gestores que temos. Sem grande paciência, costumo responder que se este fosse só um país de empreendedores ou empresários por conta própria não haveria quem pudesse ser trabalhador por conta de outrém.
O Daniel Oliveira, no Expresso, acrescentou mais alguns argumentos óbvios. Que replico aqui para aqueles que estão sempre muito preocupados com os empregos que (dizem) não criei... «Resumindo: eu, como qualquer pessoa que produz e consome bens materiais ou imateriais, crio empregos. Nem mais nem menos do que qualquer empresário. Um empresário que cria empregos onde não há nem quem consuma o que pode ser produzido, nem quem produza o que pode ser consumido, rapidamente os descria. Falindo. Isto é tão básico, até para o mais empedernido dos liberais, que nem sequer deveria ser explicado. Só que o atual fascínio por empresários, vistos como oráculos da Nação e santos criadores de empregos, obriga-nos a voltar ao princípio.»
Dezembro 10, 2013
Miguel Marujo
Dezembro 05, 2013
Miguel Marujo
Dezembro 05, 2013
Miguel Marujo
... de nós, menos a nossa mente e o nosso coração"
Dezembro 04, 2013
Miguel Marujo
Quando um académico chega aos partidos ou ao Governo, logo os aparelhos se unem numa estranha maledicência em que (só neste país) ser-se intelectual é sinónimo de insulto. Mas quando se procura ler a academia que chega ao Governo ou aos partidos, para sublinhar as suas posições, confrontando-as (a palavra é esta, mas não soa a guerra nem a contradições) com o pensamento da estrutura onde está metida, logo se insiste que não há notícia. Pena que a academia prefira enclausurar-se.
Dezembro 02, 2013
Miguel Marujo
O Governo e a maioria argumentam contra as pensões de sobrevivência invocando que são pagas indistintamente a ricos e pobres. Ora, no caso das pensões mínimas este mesmíssimo argumento é esquecido, quando a situação é igual. Por isso, o contentamento que mostram governantes por supostamente ajudarem os mais necessitados esbarra na realidade crua. Até 2010, houve uma diminuição da pobreza (apesar de congeladas essas pensões nesse ano), que voltou a subir entre os mais idosos desde 2011. E a culpa tem um nome: os cortes cegos e cada vez maiores no complemento solidário de idosos.