Setembro 30, 2013
Notas soltas de uma campanha na estrada e de uma noite de eleições
Miguel Marujo
1. A derrota do PSD só apanha desprevenido quem insiste no discurso do caminho único - apesar da hecatombe ter sido maior que a inicialmente prevista. Na estrada, durante 15 dias, o PSD escondeu-se, só saiu à rua em bastiões certos ou em ruas desertas, evitou as populações, receou o ar livre. Na noite eleitoral, o partido escondeu-se dos jornalistas e fez deles pés de microfone. Um conceito peculiar de democracia.
2. A hecatombe só é travada ou mitigada por algumas vitórias saborosas ao PS (em Braga e na Guarda; mas também com a "manutenção" de Faro, Aveiro e Santarém).
3. Seguro conseguiu uma vitória muito expressiva, com votos como nunca e o maior número de câmaras, ajudando a acalmar os socráticos-costistas que afiavam as garras. Mas, aquelas duas derrotas socialistas, são-no mais por culpa do PS que empenho a sério do PSD. E somem-se as derrotas no Porto, Matosinhos, Évora, Beja, Loures, ou Portalegre e Setúbal, para perceber porque os socialistas, no atual quadro, são uns vencedores com alguns amargos de boca.
4. O CDS de Portas canta vitória, mas as câmaras que ganhou foi ao PSD. E o discurso do líder centrista, "vice" do Governo, voltou a desafinar no tom do de Passos.
5. O dia da reflexão não é anedótico de agora. Já o é há muito: desde que a maturidade democrática se implantou, mais ainda quando a internet e as redes sociais caducaram o anacronismo da lei.
6. A interpretação alargada da lei de limitação de mandatos foi (salvo 3 exceções, se não me falha a memória) derrotada nas urnas.
7. As eleições locais sempre tiveram interpretações nacionais. Nestas eleições discutiram-se temas nacionais, não por culpa das televisões, mas por culpa da política-da-troika-e-do-Governo que tudo secou em volta: não se podem pedir autarcas com contas certas e austeros e depois apregoar que a austeridade nacional não deve ser tida nem achada. Foi tida e achada: a troika também mexe nas freguesias e nos municípios.
8. Cavaco Silva tem um problema entre mãos. Uma maioria derrotada e humilhada nas urnas tem uma legitimidade cada vez mais estreita.