Novembro 06, 2012
Porque ao contrário de certos desvarios, escolher Romney ou Obama não é nada a mesma coisa
Miguel Marujo
«Se a dupla Romney/Ryan ganhar a eleição para a Casa Branca em Novembro próximo, vamos ter de repensar o mundo como se estivéssemos nos primórdios do século XX. Eles defendem que a «violação legítima» não deve dar direito a abortar, assim como o incesto ou a malformação do feto também não darão; eles defendem que só os maiores de 68 anos, doentes, têm direito a ser tratados pelo Estado, gratuitamente; eles defendem que a taxa máxima de IRS deve baixar de 35 para 26% e que, a partir de rendimentos de 200.000 dólares anuais, a taxa deve ser zero; eles defendem o abandono da investigação e investimento nas energias limpas e a aposta na intensificação da exploração de petróleo, no Alasca, no off-shore e em qualquer zona protegida, acompanhada de incentivos fiscais às petrolíferas (o mesmo que o nosso Álvaro Pereira, que sepultou a indústria das energias alternativas em troca de apostar nos poços de petróleo nas traseiras do Mosteiro de Alcobaça); eles defendem a perseguição aos imigrantes, o fim do seguro de saúde público (o «Obamacare»), o fim das bolsas de estudo para os jovens sem dinheiro para estudar, a desregulamentação total do sistema financeiro e da grande indústria, o direito inalienável de todos os cidadãos andarem armados e dispararem livremente, a proclamação da capital de Israel em Jerusalém, o reforço das despesas militares, e, de um modo geral, a guerra aos árabes, russos, chineses e pretos. Eles acreditam em Deus e prometem governar em seu nome, com um programa de terrorismo social e de deboche económico que vai fazer do idiota do George W. Bush um gajo porreiro.
Esta pobre gente americana, formada politicamente nos chás da Tupperware e nas missas dominicais dos pregadores locais, é o que poderemos ter, nos próximos anos, entre nós, os europeus, e os chineses, se eles ganharem as eleições de Novembro. Os mesmos, os mesmíssimos imbecis que fizeram implodir a economia mundial em nome da livre iniciativa, propõem-se resgatá-la com as mesmas receitas levadas ao extremo de um auto-da-fé — e metade dos americanos acredita neles. Como é que a América chegou aqui? E como é que nós vamos atrás?» [Miguel Sousa Tavares, transcrito por Rui Bebiano]