Março 09, 2011
A memória das barricadas
Miguel Marujo
Vale a pena a memória. No início dos 90, a polícia de Dias Loureiro, nos tempos de Cavaco-primeiro-ministro e Ferreira Leite-ministra foi à bastonada correr com a geração rasca. Esta ganhou o nome de um artigo tonto de Vicente Jorge Silva que pegou em excessos de meia dúzia para caracterizar quem sentia na pele o destrambelhamento da política educativa de Cavaco (anos depois confirmada e atestada: o desastre da política das propinas é a evidência máxima). O PS, antes de Sócrates, indignou-se, fez suas algumas bandeiras daquela geração que, já então, Ivan Nunes caracterizava como à rasca (em resposta a VJS). Que aprenderam os políticos de então? Pouco, nada. Cavaco continua a usar os jovens como verbo de encher. E o PS de hoje acusa o toque corporativo e reage como o PSD de Cavaco, num mimetismo triste.
Vale sempre a pena lembrar. O Cavaco de hoje muito contristado com o país e os jovens e a década perdida foi aquele que desperdiçou uma década de dinheiros a jorro, hipotecando o ensino superior numa lei do financiamento que só serviu para atar propinas a quem anda nas universidades, protelando a educação numa reforma inconsequente enquanto apostava em auto-estradas e betão e na venda de pescas e agricultura. Relatório longo que se traduz na frase lapidar de hoje de que "os portugueses não são estatísticas abstractas" dita pelo "homem que nos tratou a todos como números" (como escreveu alguém avisado no facebook). Ou que apela aos jovens a sobressaltarem-se, ele que respondeu com boca cheia de bolo-rei às críticas.
A memória de cada barricada dá nisto: triste imagem de quem nos manda.