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Cibertúlia

Dúvidas, inquietações, provocações, amores, afectos e risos.

Fevereiro 28, 2011

23 anos

Miguel Marujo

A TSF não entrava lá em casa há 23 anos. Era uma rádio de Lisboa, rádio local, sem ondas hertzianas que chegassem a Aveiro e que, por isso, só se ouvia quando se visitava o irmão na capital. Depois começou a ouvir-se pela Rádio Nova, alguns noticiários e programas. E por fim, Lisboa e o vício que se alimentou todos os dias. Hoje, é o hábito que faz um monge que às vezes cansa, mas que consegue sempre manter o frenesim de um rádio que vai até ao fim do mundo e da nossa rua. Até no humor, de quem sabe rir-se de si. E isso é inteligente (neste link, podem ouvir enganos de jornalistas, que valem bem o nosso tempo).

Fevereiro 28, 2011

Alongamentos

Miguel Marujo

O fim-de-semana alongou-se e nada nos tirou do sol e de Lisboa e do passeio e dos amigos para vir aqui dizer de nós. Não seria necessário, este blogue dispensa a voracidade do último comentário, para isso existe Marcelo e todos aqueles que sonham serem marcelos. Ontem rematou-se estes dias com Óscares e o tapete que este ano foi de facto vermelho e a gaguez de um rei elogiada por uns, menorizada por outros, no mais óbvio exercício anual - quase tão óbvio como a discussão de quando aterra o FMI na Portela. Posto isto, voltamos, para as coisas da cidade.

Fevereiro 21, 2011

Albertofóbico

Miguel Marujo

Um boçal chamado Alberto Gonçalves vomita aos domingos no DN (no melhor pano cai a nódoa). O idiota feito sem ideias gostava de ser o Vasco Pulido Valente, mas só jorra inanidades, semana a semana. Na ânsia de ser diferente pegou num caso para caracterizar um povo, uma religião. «Um "islamofóbico" confessa-se» é um insulto à inteligência de todos nós. Para o alegado sociólogo, a suposta violação a uma jornalista americana (que ela própria, atacada, disse não ter acontecido) serve para caracterizar todos os árabes, egípcios, islâmicos. Lembro então que há uns anos duas turistas foram violadas "em plena coutada do macho latino" (usando as palavras do juiz de então, porventura guia espiritual do idiota da sociologia), o que faz de todos os portugueses, a começar pelos homens, violadores. Isso, e a Casa Pia que nos leva a pensar em todos como pedófilos. Que digo eu? Generalizo como o vómito encartado que é Alberto Gonçalves. Mas talvez lhe deixe só a ele os epítetos. Eu albertofóbico me confesso.

Fevereiro 17, 2011

Sob um céu de chumbo

Miguel Marujo

Há o pedinte no chão à porta da frutaria. Há outro pedinte no chão à porta do restaurante. Há manifestantes à porta do conselho de ministros. Este país é assim, diz a senhora no autocarro. Só quando aparecerem dois deles estendidos é que eles acordam, indigna-se ainda. Já há estendidos: à porta da frutaria e do restaurante.

Fevereiro 15, 2011

Táctica

Miguel Marujo

A moção do Bloco de Esquerda é táctica, rasgam as vestes os outros partidos. Pouco séria ou o que for, gritam CDS e PSD. Mas vão abster-se. Percebe-se bem que eles não serão nada tacticistas quando quiserem apresentar e votar uma moção deles. E consensual, claro, como se a solução para o País do BE e do PCP fosse a mesma do neoliberalismo do CDS e PSD.

Fevereiro 14, 2011

Mau tempo

Miguel Marujo

Chuvas, ventos fortes, frio. São dois de folga, dois dias em casa a ver as janelas fustigadas. Não faz mal: são dois dias de gracinhas.

Fevereiro 13, 2011

Gestos

Miguel Marujo

Não se gatinha, dá-se saltinhos para o lado e assim se descobre o espaço em volta. Diz-se olá, mesmo que a saudação seja imprevista. Faz-se adeus a quem sai ou pffff à fralda que se sabe cheirosa. As gracinhas, dizem, deixam os pais embevecidos. Qual quê: estes pequenos gestos quotidianos deixam qualquer um embevecido.

Fevereiro 12, 2011

Mudar. Mais

Miguel Marujo

No Egipto, mudou em duas semanas o que três décadas não conseguiram. Em Portugal, bastou um dia. A comparação pode parecer gratuita, mas não é. Teme-se, já o escrevi, que o fundamentalismo tome conta do futuro egípcio - como se a ditadura de Mubarak fosse melhor. Teme-se que os islamistas tomem o poder, como se por cá não tivéssemos tido (também nós) uma longa jornada para a democracia. Conquistada na manhã clara de 25 de Abril, cumpriu-se sucessivamente nos meses seguintes: a 1 de Maio, na grande manif da Alameda, por exemplo; nas eleições da Constituinte; no 25 de Novembro, sim; nas primeiras eleições legislativas; e nas primeiras presidenciais. E por aí fora. Pedir ao Egipto que tenha uma democracia pronta ao virar da esquina é esquecer a história das democracias ocidentais, é pedir o que nunca nos exigimos.

Fevereiro 12, 2011

Mudar

Miguel Marujo

O mundo há tempos mudou tanto em 15 dias que o primeiro-ministro deste país fez disso prova de vida. Agora o Bloco de Esquerda mudou o que acha sobre censurar o Executivo em 5 dias. É escusado lembrar como Passos Coelho tem mudado de opinião sobre assinar o orçamento com o Governo e criticar as medidas que constam desse orçamento. Ou como Paulo Portas desenvolve a longa pirueta de ter ajudado a enterrar o cavaquismo enquanto se atrela a Cavaco. A coerência mora no PCP, dir-me-ão, imutável no seu mutismo, mas mesmo esse muda a opinião, quando os seus deputados zurzem nas redes sociais o BE por causa da moção que terão de aprovar. Estas mudanças fazem o jogo político, rasgar as vestes por causa do gesto bloquista é tolice. Porque esconde uma hipocrisia: queriam mandar o Governo abaixo? É esta a oportunidade. Qualquer outra decisão é dizer que o Governo governa mal, mas só o mandamos abaixo quando as sondagens ajudarem.

Fevereiro 04, 2011

Perguntas parvas

Miguel Marujo

A nova canção dos Deolinda, Parva que sou, é obviamente o hino de uma geração a quem roubam quase tudo - o emprego, o escasso ordenado que ganham... E que o Governo insiste em maltratar. Hoje, José Manuel Fernandes (JMF), antigo director do Público, pega nesta canção para dizer, na sua coluna de opinião no Público, "tudo o que espoliámos à 'geração sem remuneração'" - e acabar no ataque óbvio aos "direitos adquiridos" e na necessidade de mudar o sistema de pensões (as nossas, nunca a dele ou a dos presidentes que acumulam reformas). Também escreve JMF que "pagam-lhes [aos jovens] contra recibos verdes" ou (citando os Deolinda) "Já é uma sorte eu poder estagiar..."

 

Apetece apontar o dedo. Para lá do plural majestático do espoliámos, o acto de contrição de JMF é muito colectivo, nada individual. O registo típico dos Campos-e-Cunha-Medinas-Carreira-Vítores-Bento deste país.

 

E pergunta-se: nos longos anos em que JMF foi director do Público (com lugar na administração do jornal) quantos estagiários não remunerados empregou ele? Quantos jornalistas manteve ele a recibos verdes? Quantos jornalistas estagiários foram chutados ao fim de meses para voltar a empregar mais alguns sem remuneração? São perguntas parvas, já se vê. Mas a culpa é dele. Podia ter mudado alguma coisa, nunca o fez.

 

 

 

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