Outubro 31, 2010
Elogiar a crise, olharmo-nos ao espelho
Miguel Marujo
«[...] Habituámo-nos a que personagens como Valentim Loureiro ou Alberto João Jardim fossem tidas como figuras cómicas em vez de desastres para a nação. Cruzámos os braços. Não fomos votar no referendo do aborto. Comprámos, por fim, a casa. Crescemos entre a abundância parola dos centros comerciais e o medo do risco, esse legado de uma ditadura tão insuficiente como pacóvia, que se agarra a nós como um polvo durante o cio. Portugal: o país de rabo entre as pernas, pobre, mas que se comporta como novo-rico. Tivemos professores obsoletos que anunciavam que nunca dariam mais de doze valores num exame, deixámos de acreditar que o mérito abre caminho, passámos a vida a empurrar elefantes na areia para chegar a algum lado. Num conciso exercício de clarividência, o presidente da Liga de Futebol descreveu-nos: “Somos muito resistentes à mudança.” – o país num cartão postal: futebol e pasmaceira. [...]» (Hugo Gonçalves)