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Cibertúlia

Dúvidas, inquietações, provocações, amores, afectos e risos.

Julho 05, 2010

Meo, assim não

Miguel Marujo

Pedi há meses na linha de apoio a factura detalhada (como tinha antes e deixei de ter, sem perceber porquê) do telefone cá de casa. No 16200 disseram-me para mandar o mail. A resposta do mail foi enviarem-me para a "Área de Cliente" para fazer o pedido, de novo. A resposta, sempre demorada, foi... mande uma carta ou fax. Estamos a falar da empresa que resiste à Telefónica. Agora percebo o apoio aos espanhóis dos accionistas: Zeinal Bava deve ter-lhes enviado uma carta ou fax a pedir ajuda. E não chegou a tempo.

Julho 04, 2010

24, ponto final (um comentário*)

Miguel Marujo

«Um dos comentários mais lúcidos sobre o final do 24horas é, no meu entender, do director de canais temáticos da SIC, Pedro Boucherie Mendes, no último número do jornal. Diz ele que quanto mais próspero é um país mais espaço existe para narrativas alternativas, jornalismo tablóide incluído. Inglaterra tem-no, Espanha tem-no, até a insuspeita Noruega, um dos países mais ricos da Europa tem uma fortíssima imprensa sensacionalista e cor-de-rosa. Isto não significa que todos queiramos ler revistas do social ou jornais de referência. Mas há espaço, ou deveria haver, para todos.
Infelizmente, o que notou com o 24horas é que muita gente preferia realmente que ele não existisse, que é o que mais me choca. Pensava eu que haveria mais gente neste país que já tivesse concluído que a padronização do discurso mediático limita o exercício da democracia.
Más notícias, porém, para quem acredita que o jornalismo tablóide morreu com o 24horas. A verdade é que este jornal - uma pedrada no charco na imprensa nacional entre 2003 e 2006 chegando a vender mais de 50 mil exemplares - se foi esvaziando à medida que outras publicações se iam aproximando cada vez mais do género. É deste debate, mais profundo, que tenho sentido falta. O que nos leva a preferir um sensacionalismo encapotado? E, já agora, quem determina o que é bom? E o que é o bom gosto?
Não é mais simples deixar as regras para a ERC, o conselho deontológico do Sindicato dos Jornalistas, e outros, como dizia o Miguel Marujo?
Recordo, de resto, que o 24horas há muitos anos, e em prejuízo próprio (muita gente se deu ao trabalho de fazer direitos de respostas falsos), assumiu como política editorial cumprir escrupulosamente a publicação de direitos de resposta, incluindo na capa quando era o caso, coisa que nenhum outro jornal faz. Mesmo a publicação interior é algo bastante recente e que só existe por grande pressão do regulador.
Claro que o 24horas não era um jornal perfeito. Nenhum é. Mas é sempre preferível termos mais escolha. Era sempre melhor estarmos aqui a debater capas, títulos e abordagens a notícias do que a legitimidade, ou não, da sua existência. Mas, lá está, eu sou pela democracia. E não é só em teoria...»

 

* - a opinião é da Lina, ex-jornalista do 24horas, actualmente no DN, deixada na caixa de comentários ao meu post sobre o fecho do 24horas... que já tinha opinado de forma assertiva no seu blogue.

Julho 02, 2010

I gotta feeling

Miguel Marujo

O BES votou com os espanhóis para a venda da Vivo. O BES patrocinou a musiqueta americana de balneário. O BES cala-se com comunicados de Luanda a mandar vir com os de cá. O BES só gosta dos portugueses para lhes cobrar taxas de juro e comissões e spreads e acabar tudo em lucros fabulosos. Ámen.

Julho 02, 2010

24, ponto final (as pessoas, claro)

Miguel Marujo

Ana, João, Luís, Marisa, Hugo, Sofia, Nuno, Ricardo, Gonçalo, Pedro, Raquel, Patrícia, Mónica, Rute, Duarte, Francisco, Joaquim, Marco, Andreia, Fernanda, Paula, Olga, Dília, Alexandre, António, Alexandra, Fernando, Catarina, Vitor, Natália, Diana, Cynthia, Miguel, André, Carla, Vânia, Susete, Valdemar, Filomena, Lina, Carlos, Sónia, Vanda, Júlio, Rui, Luís, Sandra, Rogério, Guida – e mais uns quantos, sim. Pediram-me que registasse um momento que marcou estes meus 1142 dias de 24horas; prefiro registar os nomes de quem os fez.

 

[na última edição do 24horas, a 29 de Junho de 2010, foi publicado este meu texto...]

Julho 02, 2010

24, ponto final.

Miguel Marujo

sensacionalismo

s. m.

1. Carácter ou qualidade de sensacional.

2. Divulgação de notícias exageradas ou que causem sensação.

3. Filos. Doutrina ou teoria em que todas as ideias são derivadas unicamente da sensação ou das percepções dos sentidos.

sensacionalista

adj. 2 gén.

adj. 2 gén.

1. Em que há sensacionalismo ou escândalo; espectacular.

2. Relativo à doutrina do sensacionalismo.

s. 2 gén.

3. Pessoa que visa causar sensação.

4. Adepto da doutrina do sensacionalismo.

 

Trago aqui estas definições, propositadamente. Esta semana fechou o 24horas, jornal onde trabalhei 1142 dias - desde Maio de 2007 (depois de 9 meses no desemprego). Muitos que aqui passam sabiam-no, nunca o escondi. Nos dias em que a notícia saiu noutros locais, blogosfera incluída, foi penoso ler os comentários, não porque me afectassem pessoalmente - tenho 1142 dias de consciência tranquila -, mas por revelarem uma ignorância enorme sobre o conteúdo e o trabalho do jornal.

 

Tomada a capa, de um jornal assumidamente popular, pelo todo, muitas pessoas que nunca terão lido uma linha do jornal, que nunca gastaram um euro que fosse, apelidaram-no de pasquim, and so on, e desqualificavam o trabalho dos seus jornalistas. Li, em comentários desbragados na edição online do Público, muitas aspas quando se referiam aos profissionais do 24. Não vou aqui procurar desmontar algum argumentário sobre a linha editorial dos diferentes jornais, mas trouxe duas definições do Priberam, que remetem (apesar de algum simplismo) para aquilo que o tablóide costuma ser, cá ou nos EUA ou no Reino Unido (sublinhe-se: é no mundo dito mui civilizado anglo-saxónico que nasce este jornalismo): que causem sensação, em que há escândalo... Nada disto me parece falso ou desonesto, premissas que li nos comentários cibernéticos.

 

Há um ano, acompanhei para o Diário de Notícias e 24horas a campanha das eleições europeias: não havia na minha escrita distinções relevantes de um e outro jornal, eventualmente o gancho da notícia, a história curiosa ou mais folclórica interessava mais ao 24 que ao DN, mas não senti que a referência de um fosse reverência para mim vindo de um pasquim: o tratamento da notícia era isento, sério, factual. Tudo o que se pedia  (pede) a um jornal, qualquer que seja.

 

Ao longo dos últimos anos, a intromissão de um determinado tipo de informação sobre as namoradas de Ronaldo, os desamores da Angelina e Brad ou as namoradas do agora muito católico-adepto-do-casamento Santana Lopes foram ganhando espaço noticioso. A culpa não é apenas de jornais como o 24, ou revistas ditas cor-de-rosa. A culpa é de leitores (muitos) que procuram esta informação, que a comentam avidamente (a blogosfera por onde se criticou o 24 é useira em alimentar-se também dessa mesma informação).

 

Neste campo, a hipocrisia de algum dito jornalismo de referência é desmascarada continuamente: foi o Expresso que noticiou em primeira página o namoro do primeiro-ministro com uma jornalista; o Público tem uma página de fofocas e rumores (como o 24 tinha) de actores, actrizes e gente do espectáculo - chama-se "P(essoas)", mas para não-parecer-muito-24 raramente dá notícias sobre portugueses e limita a coscuvilhice ao estrangeiro (coisa fina) ou a citar de vez em quando o... 24; o Público fez capa da revista com o casamento da princesa sueca...

 

A outra hipocrisia é atribuir ao 24 - e a este tipo de jornalismo - a mentira, a falsidade: em tempos uma jornalista do Público desdenhava da possível tentativa de o 24 melhorar o seu jornalismo, como prometia à conta de uma remodelação o seu então director. Escuso de lembrar a vergonha da manchete do Público, sobre as escutas (que nunca existiram) ao Palácio de Belém. O diário nunca pediu desculpa ao leitor por lhe ter mentido descaradamente. O 24horas também cometeu erros, fez asneiras, falhou o alvo ou foi desmentido, mas - ao contrário de muitos outros - fazia questão de publicar os mesmos com o destaque que a lei e a consciência mandavam.

 

A última capa foi recebida (até por pessoas que estimo) como sendo sensacionalista. Popular, prefiro classificar. Mas o problema que levou ao fecho do 24 (para lá de uma suicida ausência da internet, que até podia ter contribuído para acabar com o mito que fez caminho agora com o seu encerramento) foi ter eventualmente deixado de fazer aquilo que essa mesma capa anuncia: morder as canelas de trafulhas, políticos, famosos, actores, jornalistas, o que for. Porque o jornalismo tablóide quando vigia o poder presta um serviço público inestimável: foi o 24horas que publicou o vergonhoso Envelope 9, do processo Casa Pia. Só isto merecia respeito por um pasquim.

 

 

(Declaração de interesses: sou agora jornalista do Diário de Notícias; mas não esqueço os camaradas que não foram integrados pelo grupo e vivem desde o dia 29 no desemprego.)

 

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