Cibertúlia

comprado a 25 de Abril. hoje começa a feira do Livro, que este ano terá claramente menos visitas

Afastado dos dias e dos trabalhos, ouço e leio hoje as notícias sobre a crise que afinal está mesmo aí, o PEC antecipado e os culpados do costume: os desempregados, que vão ficar com mais restrições no acesso ao subsídio, com menos dinheiro. Distraio-me por um momento da pequena que me ocupa os dias e penso que este Governo socialista ataca quem mais necessita: assim, não! Quero lá saber do Freeport, da licenciatura, das casas, das escutas, da TVI ou da Manelinha Boca Guedes. O que é grave, sim, isto sim, é este Governo minar e atacar quem mais precisa: os pobres, os necessitados, os desempregados. Para o desemprego não vai quem quer. Vai quem é despedido, muitas vezes por patrões ou gestores que ganham milhões e continuam a andar de ferraris e bê-émes. Assim não. Este PEC é uma merda. Este Governo atolou-se nela.

O único televisor ligado para o mundo mostra uma menina a dormir. Os jornais ficaram esquecidos na tabacaria. Os amigos deixam pingar e-mails, comentários no facebook ou aqui e sms - a todos, porque é difícil ir a todas, obrigado. Descansem: a janela deste mundo não se fecha para o mundo. Fica apenas em suspenso ou em rittmo moderado por uns dias, dias de adaptação, de ritmos novos.

Ela nasceu para o mundo num dia assim. O braço levantado, numa manobra tantas vezes ensaiada a horas certas na barriga da mãe, a atrapalhar a obstetra, os olhos abertos, vivos, o cordão umbilical que eu lhe cortei, o sangue limpo pelas mãos da mãe. O dia limpo. Inteiro. Livre.

[o poema de Sophia foi a dedicatória do Rui, no facebook, ao saber da notícia...]

Leia a seguir a carta na íntegra de Hans Küng dirigida ao Papa...

The wounds on your hands never seem to heal
I thought all I needed was to believe

Here am i, a lifetime away from you
The blood of Christ, or the beat of my heart
My love wears forbidden colours
My life believes

Senseless years thunder by
Millions are willing to give their lives for you
Does nothing live on?

Learning to cope with feelings aroused in me
My hands in the soil, buried inside of myself
My love wears forbidden colours
My life believes in you once again

Ill go walking in circles
While doubting the very ground beneath me
Trying to show unquestioning faith in everything
Here am i, a lifetime away from you
The blood of christ, or a change of heart

My love wears forbidden colours
My life believes
My love wears forbidden colours
My life believes in you once again

(para a Clara, um dia ler)

A avó G. punha a mão na barriga da tua mãe e repetia o teu nome. A memória destas curtas palavras - para saberes como o sorriso se lhe iluminava o rosto.

Acho que nunca tinha dado conta desta expressão. Agora repetem-ma à exaustão. Sorrio, acho graça. Mas a hora que aí vem, quando vier, nunca será pequenina - diga-se.

O Instituto do Emprego vai renovar a sua frota automóvel que tem mais de dez anos, diz a ministra. A coisa custará um milhão e meio de euros. Sinceramente, a vergonha destes senhores estampa-se com carrinhos de estado ou submarinos de água doce. Neste momento, o País tem mais de 571.754 desempregados inscritos nos centros de emprego (fora os que não estão nas listas oficiais), valor que em Março subiu 1,9 por cento face ao mês anterior, e 18,1 por cento face a Março de 2009. Esta frota é que precisa de ser renovada, senhora ministra, e custará muito menos.

Num autocarro, um padre senta-se ao lado de um bêbado que, com dificuldade, lê o jornal.

De repente, com a voz "empastada", o bêbado pergunta ao padre: - O senhor sabe o que é artrite?

O padre logo pensa em aproveitar a oportunidade para passar um sermão ao bêbado e responde: - É uma doença provocada pela vida pecaminosa e sem regras: excesso de consumo de álcool, certamente mulheres perdidas, promiscuidade, sexo, farras e outras coisas que nem ouso dizer...

O bêbado arregalou os olhos, calou-se e continuou lendo o jornal.

Pouco depois o padre, achando que tinha sido muito duro com o bêbado, tenta amenizar: - Há quanto tempo o senhor está com artrite?

- Eu?... Eu não tenho artrite!... Diz o jornal que quem tem é o Papa!

[pelo Hugo, por mail]

[via e-mail]

"Divertiram-se com estes senhores de microfone [jornalistas]?"

... e talvez valha mesmo a pena o TGV.

Martim Avillez Figueiredo demitiu-se do "i". É pena. Mas mais me convenço que o problema não vai sendo de quem está nas chefias intermédias ou dos trabalhadores que dão o litro. Esperemos, ainda assim, que o "i" sobreviva. É bom demais para morrer na praia.

Impronunciável: Eyjafjallajoekull. (via Ponto Média)

MVA pede que «adiram a este grupo: “Trabalho para o Estado e não quero tolerância de ponto no dia 13 de Maio”.» Eu também acho: o Estado deu tolerância de ponto a quem quiser acompanhar a visita do Papa. Não deu tolerância de ponto para se fazer gazeta no shopping - e espero que todos os não crentes, ateus, indignados, o que for, se apresentem no seu posto a 13 de Maio.

Mas (exercite-se a memória) não percebo, continuo genuinamente sem perceber, porque se goza (ainda hoje) tanto Cavaco por ter acabado com a tolerância de ponto numa terça-feira de Carnaval. Argumentarão que o Carnaval não põe em causa o laicismo do Estado (só o paganismo é que se pode celebrar sem sacrificar o Estado, pelos vistos). Mas o laicismo perde alguma coisa com a tolerância de ponto? Acho que não. Perde muito, sim, quando se demite das suas funções sociais - da educação pré-escolar à terceira idade - e se pendura às costas (mesmo que pagando por isso, claro) das instituições da Igreja. Falemos então de laicidade, a sério.

Da Lusa: «O presidente da Associação Ateísta Portuguesa manifestou-se hoje "perplexo" com os três dias de tolerância de ponto para os funcionários públicos no âmbito da visita do Papa Bento XVI a Portugal, que decorre de 11 a 14 de maio.» Aguarda-se que no próximo ano, no Carnaval, esta associação manifeste a sua perplexidade pelo mesmo motivo. Cavaco Silva vai apoiá-los.

O autocarro passa junto ao edifício do Conselho de Ministros. Os dois adolescentes questionam-se sobre o que será aquilo. Um hospital, pergunta ela; sim, de certeza, um hospital ou uma clínica, remata o rapaz. É uma metáfora inesperada, ou talvez não.