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Cibertúlia

Dúvidas, inquietações, provocações, amores, afectos e risos.

Dezembro 18, 2009

Vitórias

Miguel Marujo

Boas coisas: Aminetu Haidar regressou ao Sara. O salário mínimo vai mesmo subir 25 euros. Os mais frágeis também têm as suas pequenas vitórias e que por isso mesmo são enormes.

Dezembro 17, 2009

Eu de facto tenho cada vez menos respeito por estes intelectuais que acham que viveram tudo e hoje relativizam demais

Miguel Marujo

“Mesmo no antigo regime, se excluirmos o delito de opinião, o crime político, os tribunais plenários, a PIDE, a censura, que é muito e é gravíssimo, a justiça funcionava melhor do que hoje” - António Barreto. [in Arrastão]

Dezembro 16, 2009

Casados (esclarecimento)

Miguel Marujo

«Lo que se ha suprimido no tiene nada que ver con este tema sino con un inciso —añadido precisamente en el Código de 1983 en relación con la práctica anterior— que afectaba únicamente a quienes se hayan apartado de la fe católica mediante un acto formal. Ahora se elimina la distinción entre éstos últimos y los bautizados y ambos quedan sujetos a las leyes eclesiásticas relativas a la forma canónica del matrimonio (cfr. can. 1117), a la dispensa del impedimento de disparidad de culto (cfr. can. 1086) y a la licencia requerida para los matrimonios mixtos (cfr. can. 1124).» Aqui, o texto mais explicativo e explicado, que nem no site do Vaticano se lê.

Dezembro 16, 2009

Casados, recasados

Miguel Marujo

Citei o i, terei citado mal. Mas leio o site do Vaticano e concluo que as formulações jurídicas tortuosas também não parecem ser exclusivo do nosso legislador. E sobram perplexidades, como a de se achar que o pedido de autorização para casar com um não-baptizado (e também o fiz, pressionado pelo tempo e pela obrigação) deva existir sem ser questionado. O casamento católico não está na moda, quem casa hoje, casa de forma mais consciente e sem o condicionamento social que antes existia. Quem casa com um não-baptizado não está a fazê-lo de ânimo leve, há reflexão conjunta entre os dois, há uma abertura à alteridade reflectida vontade em casar numa Igreja que se diz de acolhimento. A proibição - explicada abundantemente nos comentários do post anterior - como sendo para aqueles que se "desvinculam" (e, no caso, por um conceito pragmático de pagamentos fiscais) - surge-me como merecedora de debate intenso na igreja, que não existe.

Mais: em vez destas alterações jurídicas, anseio por mudanças no comportamento com os recasados, com a necessidade de acolhermos quem se divorcia, e a quem continuamos a negar a comunhão. Dura lex sede lex, na Igreja, devia ser outra a fórmula. A única lei devia ser a da inclusão, nunca a da exclusão.

 

(em cima, imagem de um casamento misto, que não será afinal proibido... até ver?)

Dezembro 16, 2009

Como afastar (ainda mais) os que não acreditam

Miguel Marujo

Escreve o i: «Baptizados ou não baptizados, todos vão ser afectados pela decisão papal ontem tornada pública. Bento XVI comunicou à comunidade católica que os casamentos entre católicos e não católicos não são considerados válidos. O Santíssimo Padre decidiu alterar o Código de Direito Canónico e apertou o cerco aos menos ortodoxos dentro da Igreja Católica. (...) O alterado artigo 1124 estabelece que "é inválido o matrimónio entre duas pessoas, uma das quais baptizada pela Igreja Católica ou nela integrada e outra que não seja baptizada". Ou seja, católicos e não católicos deixam de poder casar-se pela Igreja. Fica por esclarecer se os casamentos celebrados antes desta alteração são abrangidos pelas novas regras. (...)»

 

Caro Bento XVI: quer expulsar-me? Quer anular aquilo que, em consciência, a minha mulher não baptizada, quis assumir comigo? Se assim for: nesse dia, de que me serve a comunhão? Ah, a inclusão e o amor pelo próximo tão longe de práticas vaticanas, tão longe do mundo.

Dezembro 16, 2009

Burros

Miguel Marujo

Enquanto subo o Chiado, o frio entranhado que se suaviza com a chuva, dá lugar ao espanto do presépio com letreiros de desagrado: "aqui estava o burro que foi roubado na noite de 6 para 7". Não há lugar à indignação (palavra forte, mas porventura adequada) porque hoje o presépio é coisa que chateia na cidade fria. Fosse a árvore que está zon e um coro de consumidores exigiria mais polícia e menos ladrões.

Dezembro 14, 2009

Fragilidade

Miguel Marujo

No momento da agressão, cai a máscara e desfazem-se as plásticas. Berlusconi surge com os 73 anos que tem, longe do playboy das mansões de Verão e orgias, próximo da fragilidade de quem foi humilhado. No facebook o seu agressor acumula fãs (mais de 50 mil), mas a democracia sai sempre fragilizada com actos destes.

Dezembro 12, 2009

Pessoa (polémica)

Miguel Marujo

Por causa do Prémio Pessoa, e de uma polémica que nasceu em dois posts no Jugular (aqui e aqui), deixei lá um longo comentário sobre o Prémio, que reproduzo (apesar de referências mais privadas a outros comentários)...

«Regresso ao tema, agora, Maria João:
- parece-me importante este prémio, não por ser um bispo, nem homem da Igreja, mas (insisto) pela sua investigação histórica e social inovadora em áreas habitualmente ignoradas ou pouco trabalhadas na História, pela academia ou pelas ciências sociais;
- dizer-se que a sua obra vive fechada na academia e não tem relevância pública, peca quanto a mim por defeito: muita da melhor investigação que se produz na nossa academia permanece encerrada, por culpa dessa academia - fechada corporativamente - ou por culpa de meios de comunicação social e instituições públicas pouco atentos a esses fenómenos; (alguém conhece por exemplo a importante obra de José Eduardo Franco, historiador dedicado a temas religiosos, muito importantes?);
- também não me parece que a sua obra viva totalmente fechada na academia, quando uma importante editora "laica", mas com reconhecida expressão na atenção à literatura mais espiritual e religiosa, como é a Assírio e Alvim, deu à estampa dois livros de D. Manuel Clemente;
- mais: essas obras (na AeA) ultrapassam a fronteira clara do universo crente e católico do autor, apesar de se perceber que ele se ancora aí também: "Na Assírio & Alvim publicou Portugal e os Portugueses (2008) e 1810-1910-2010 - Datas e Desafios (2009)."
- o mau trabalho jornalístico do Expresso online sobre o premiado só desmerece o jornal promotor e não o premiado;
- acho no entanto, por conhecimento interno de várias redacções e da qualidade do jornalismo de hoje, que a ignorância vai fazendo caminho nas redacções, o que ajudará a explicar o anúncio do Prémio Pessoa de forma tão sobre a espuma dos dias... mais: a reacção que imagino ter havido em muitas (quase todas) as redacções ao premiado há-de ter sido a mesma em relação a Irene Pimentel: "quem?" (não estou a desmerecer a obra e a investigadora; estou a falar de uma realidade que assisto diariamente);
- podemos questionar a leitura que o júri faz do regulamento do Prémio, mas o comentador VMB tem quanto a mim uma leitura tão válida quanto a tua sobre esse mesmo juízo dos jurados. Mas também como lembrou outro comentador, o Prémio é em si uma possibilidade de descobrir uma personalidade e a sua obra;
- a "referência ética" sendo um aspecto discutível, e é-o, não se limita a meros debates sobre o referendo (e sabes como sou - católico - e contra o referendo e a favor do casamento gay); é-o na acção sobre a cultura e a ciência, que ele também tem; e no campo social... muito importante de facto em tempos de crise, como estes que vivemos.

Por isto, apesar de surpreendido, fiquei satisfeito com este Prémio Pessoa 2009, como fiquei com outros surpreendentes e igualmente importantes.»

Dezembro 11, 2009

Pessoa

Miguel Marujo

 

 

Estava de visita a uma escola secundária quando foi interpelado pelos jornalistas com a notícia: D. Manuel Clemente, bispo do Porto, tinha recebido o Prémio Pessoa 2009, porventura o mais importante galardão da cultura portuguesa.

O local é adequado a um homem que fez do ensino e da cultura ponte de diálogo com os outros – crentes e não crentes. Razão maior para o júri do Prémio o ter escolhido, agora que o combate à exclusão, a intervenção social e a tolerância “são questões do momento” em Portugal. “Num ano e num tempo em que a pobreza e a fome são realidades, estas questões tornam-se muito importantes”, explicou Maria de Sousa, membro do júri, apontando a atenção do actual bispo do Porto a estes temas. O júri disse mesmo na sua justificação que, “em tempos difíceis como os que vivemos actualmente, D. Manuel Clemente é uma referência ética para a sociedade portuguesa no seu todo”.

Homem da cultura, atento às coisas mundanas, assim se referiram a ele muitos dos que [hoje] elogiaram a escolha – de Rui Rio a Cavaco Silva e também Mário Soares, outro membro do júri. É de facto um homem que, pelo seu percurso, sempre olhou para a cultura como espaço de afirmação da religião e Igreja católicas.

Homem de fé, fiel aos princípios centrais da doutrina da Igreja, reconhece a necessidade de um diálogo permanente com os que pensam e vivem de outro modo. Ainda [hoje], aos jornalistas, insistiu em que o debate sobre o casamento gay “é uma ocasião para a sociedade reflectir sobre o valor da família”. A Igreja Católica, disse, não deve adoptar “nem uma atitude de contestação sistemática nem de intervenção acrítica”, mas sim “conversar”.

Manuel Clemente, [hoje], dizia-se “muito atordoado com tudo isto”, depois de ter recebido “com grande surpresa” o galardão. “Sou um homem de igreja, também tento ser um homem da cultura e da sociedade no sentido mais construtivo do termo e isto agora ainda me responsabiliza para ser mais.”

 

(amanhã no 24horas)

Dezembro 09, 2009

Adventos

Miguel Marujo

Ser solidário assim pr’além da vida
Por dentro da distância percorrida
Fazer de cada perda uma raiz
E improvavelmente ser feliz

De como aqui chegar não é mister
Contar o que já sabe quem souber
O estrume em que germina a ilusão
Fecundará por certo esta canção

Ser solidário assim tão longe e perto
No coração de mim por mim aberto
Amando a inquietação que permanece
Pr’além da inquietação que me apetece

De como aqui chegar nada direi
Senão que tu já sentes o que eu sei
Apenas o momento do teu sonho
No amor intemporal que nos proponho

Ser solidário sim, por sobre a morte
Que depois dela só o tempo é forte
E a morte nunca o tempo a redime
Mas sim o amor dos homens que se exprime

De como aqui chegar não vale a pena
Já que a moral da história é tão pequena
Que nunca por vingança eu te daria
No ventre das canções sabedoria

 

José Mário Branco, Ser Solidário

Dezembro 08, 2009

Maculados

Miguel Marujo

Há um senhor que vomita banalidades todas as semanas no Diário de Notícias, requisitado ainda para outros palcos, de prós e contras, como se o mundo fosse sempre a preto e branco. Seu nome: João César das Neves, apresentado como economista e professor universitário da Universidade Católica.

Ao ler tais qualificativos, a conclusão é óbvia: é por causa de professores assim que o nosso ensino superior e o nosso país estão como estão - duvida-se que ali se ensine mais do que a gestão neoliberal do mata e esfola que se lê nas croniquetas do senhor Neves.

Para este senhor, aumentar o salário mínimo é um disparate, o contrário dos impostos. Estes economistas de pacotilha - que César das Neves, incluindo-se, intitula de "aqueles que interessa ouvir" - têm a solução para o país: correr tudo a baixos salários, aumentar impostos, acabar-se com o Estado Social, o SNS e a educação pública, entregar tudo aos privados. É lê-los. Percebe-se bem.

 

Mas depois, se olharmos melhor, percebemos que são estes mesmos senhores que põem e dispõem da nossa economia, que andaram aí anos a fio a governarem e a mandarem e que nos enterraram neste país de baixos salários, empresários iluminados que só querem subsídios e salários baixos, desprotecção social. Os nomes: Ernâni Lopes, Miguel Beleza, Medina Carreira, António Borges, Bagão Félix, Eduardo Catroga... e a lista é curta para não sujar muito o post. De facto: são estes que interessa ouvir - para fazer o contrário.

 

 

[Nota à parte, para discutir noutras calendas: o facto do inominável César das Neves ser professor de uma universidade que se diz católica devia ser motivo de escândalo. Mais: o facto de uma universidade que se diz católica acolher uma escola de economia e gestão neoliberal que despreza profundamente a doutrina social da Igreja, como se vê pela orientação política, ideológica e económica de 99% dos professores devia fazer todos os católicos pensarem nisto. E pedirem outra orientação a quem manda. Eu por mim, faço o que posso: a cada ano, quando o peditório nas missas é para a Católica, recuso-me. Tenho objecção de consciência.]

Dezembro 08, 2009

Falas

Miguel Marujo

O Papa já tem programa para a visita a Portugal. Curioso ver como Cavaco se apressa a dizer que está muito satisfeito com o facto, quando já tinha anunciado a visita quebrando o protocolo, e quando noutras matérias fica sempre mudo, calado, sem voz que se ouça. E estranha apetência para se mostrar presidente dos portugueses católicos.