"Foi no dia em que dois aviões destruíram as Torres Gémeas de Nova Iorque que eu descobri que era de direita. Para ser exacto, não foi precisamente nesse dia: as minhas convicções políticas foram-se formando a partir da acumulação das opiniões publicadas sobre o 11 de Setembro, e em larga medida por reacção aos textos, quase todos eles vindos da esquerda, em que o segundo parágrafo começava por 'mas'." (João Miguel Tavares, O segundo parágrafo, DN, 2/9/2003)
Hoje, é a direita que gosta de escrever o seu segundo parágrafo. Se começa invariavelmente com a crença na presunção de inocência e que todos têm direito ao seu bom nome, acaba no segundo parágrafo por pedir que o primeiro-ministro revele as suas conversas privadas, que foram captadas irregularmente. Quer-me parecer que o segundo parágrafo dá jeito a opinadores. Mas ninguém se poderá queixar daqui a uns tempos se forem apanhados numa conversa privada escarrapachada nos jornais. E ainda me falam da liberdade a ser cerceada todos os dias. Parece que têm razão: eles alimentam o seu discurso com estas práticas.