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Cibertúlia

Dúvidas, inquietações, provocações, amores, afectos e risos.

Abril 06, 2009

"O marido da doutora"

Miguel Marujo

Cá na praceta, desde o início que perdi o nome. Ou nunca foi conhecido: sou o "marido da doutora" e nos votos de boas festas lá vem a notinha, "dra. M e marido". Toma. Não me caem parentes na lama, que a igualdade não é discurso de encher verbo. O que me espanta é que este qualificativo agora seja useiro e vezeiro no jornalismo desta terra. Antes, o repórter ia ao local e contava a história como se impõe: fulano, x anos, jornalista. Hoje, o preguiçoso de secretária compõe a peça como sicrana, y anos, namorada de. O extraordinário é que ninguém lhes diz que isto não é jornalismo, é coisa de vizinhos. Os tais que me chamam marido da doutora.

Abril 05, 2009

O ar irrespirável

Miguel Marujo

... que há muito já se respira nesta latrina (para recuperar Mão Morta, via PAS), não se deve apenas eventualmente às explicações coxas de Sócrates sobre casos em que se viu metido ou em que se meteu. Os magistrados que clamam por não se sabe o quê, os jornalistas que puros se ofendem e ajudam a cavar com tanta notícia atropelada e os bloguistas que enterram situacionismos desde que não sejam os seus, também gostam de abrir mais a porta ao ar pestilento. O melhor mesmo é desinfectar. Como? Que o ministro da Justiça não entupa mais os seus entupidos tribunais; que o primeiro-ministro guarde as opiniões de outros na conta que lhes tem - pouca, mas também sem tribunais; que os senhores magistrados que se dizem pressionados digam tudo o que sabem, mesmo, sem mandarem recados pelos jornais e depois oficialmente desculparem-se com segredos balofos de justiça; que os senhores directores e jornalistas não emprenhem pelos ouvidos apenas o que lhes apetece, vertendo no papel apenas uma versão ou dispondo uma caldeirada; que os bloguistas não conspirem situações que eles próprios não vêem no seu espelho. Investigue-se, escreva-se, proclame-se a sério. E no fim tiremos conclusões. Sócrates corrupto? Demita-se, condene-se. Sócrates tramado? Condene-se, apure-se. O resto é pestilência. E já há muito que está irrespirável, aqui.

Abril 05, 2009

Vasco polido pouco valente

Miguel Marujo

Vasco Pulido Valente tem ontem a sua primeira diatribe semanal. Que é contra a obesidade. O argumento é o de sempre: o Estado quer tratar-nos da saúde, com nutricionistas nos centros de saúde. E lá vem a história do fascismo higiénico, que este senhor vomita recorrentemente, só por causa da proibição de fumar em determinados locais fechados (ele há muitos onde ainda se pode), coisa de bom senso, mas o bom senso não mora na escrita deste senhor.

Mas depois o texto tem um remate espantoso, vindo de quem vem. Lembra VPV que afinal o que o Estado quer é poupar dinheiro, gastando menos com os demasiado obesos ou os gordos que aí andam, ele que vocifera tanto contra outros gastos excessivos. "O Estado não deseja gastar dinheiro consigo", ilumina-nos VPV, que conclui: "Onde fica no meio disto a sua liberdade é melhor não perguntar."

Eu pergunto - e garanto: a minha liberdade não se perde em momento algum por o Estado ter um nutricionista no centro de saúde. A minha liberdade não se perde em momento algum por não ter de levar com o fumo de tabaco dos cinco colegas de mesa no meu local de trabalho.

Mais: quem duvida que o Estado tenha de garantir um rendimento mínimo a quem nada ou pouco tem; quem nega que o Estado tem de garantir serviços básicos de saúde e de educação; quem detesta ver o Estado a dar subsídios de desemprego; é preciso ter muita lata, como tem VPV e a direitalha do costume que o incensa, vir agora dizer-nos que o Estado não deseja gastar dinheiro connosco. Haja paciência para esta gentinha.

Abril 04, 2009

Virgens ofendidas

Miguel Marujo

Alberto João Jardim processa alegremente jornalistas. Nem um frémito se levanta. A democracia e a censura quando nascem são para todos. Eu por mim acho idiotas todos os processos. Mas não ando a fazer de virgem ofendida.

 

O que é grave, insisto, é ter uma Justiça laboral paralisada que demora anos a resolver casos de desempregados, despedidos ilegalmente, em processos colectivos ou em falências fraudulentas. A liberdade é cerceada quando a concentração dos média em três ou quatro grupos faz com que, ao colidir na Justiça com um único órgão de comunicação, se entre em choque com mais uns quatro ou cinco. Um processo por dizer o que penso? Venha ele - a liberdade de imprensa é preservada neste país, ao contrário do que os que mais berram dizem. Um processo por ser despedido ilegalmente? Aguardo há mais de dois anos e meio que comece um simples julgamento. E isto ninguém quer subscrever - é mais fácil insultar o Governo, do que colidir com um patrão da imprensa.

Abril 03, 2009

Estranha exaltação

Miguel Marujo

Hoje andam por aí divertidos a contar espingardas. Nos processos em tribunais, quero eu dizer. Ai, eu tenho este processo e tal. Eu não tenho nenhum - e não, não acho que seja um mau jornalista. O único processo que tenho é como jornalista ilegalmente despedido contra o Metro e a empresa que o publica. Mas o Tribunal do Trabalho, mais de dois anos e meio depois, não se dignou a indicar sequer uma data para julgamento. Isto é que me parece grave para o exercício de cidadania de um jornalista (ou de outro qualquer cidadão) - mais do que o primeiro-ministro estar chateado por um colunista o comparar à Cicciolina.

Abril 03, 2009

Vocês sabem do que estou a falar

Miguel Marujo

Neste país ninguém tem coragem de acabar as frases. Fui pressionado, fui roubado, recebi um telefonema, recebi um e-mail, gravei um DVD. Uns refugiam-se no sistema para sacudir responsabilidades das más figuras, outros sacodem o complemento indirecto da frase: Eu fui pressionado pelo Mário Fernando. (Declaração de interesses: não conheço nenhum Mário Fernando, nem sou suspeito até provar a minha inocência em nenhum caso mediático-jurídico.) No fundo, todos - do procurador da República ao antigo vereador do Urbanismo, do presidente do sindicato ao líder de partido - têm um pouco de Octávio Machado. Mas se este homem foi plantar couves para Palmela, os castradores do complemento indirecto continuam por aí, a assassinar o português e a democracia. Vocês sabem de quem eu estou a falar.

Abril 02, 2009

Educação especial

Miguel Marujo

As professoras aos berros diziam aos meninos que esperassem na boca do metro. Nada de serem engolidos pela pressa. Lá dentro não se fuma e as beatas acabaram no chão.

Abril 02, 2009

Explicação

Miguel Marujo

O vídeo do post anterior tem oito minutos e meio. Chego à conclusão que nenhum dos seus destinatários o verá, pelo menos na íntegra. Só aguentam tiradas de dois minutos de Medina Carreira a dizer, isto está tudo mal, mesmo que o senhor não diga uma linha que seja sobre como mudar, a não ser a receita clássica: retirar tudo aos que já pouco têm ou a quem a factura é mais pesada.

Abril 01, 2009

1 de Abril

Miguel Marujo

Cai um e-mail na inbox. Promete mundos e alguns fundos: Preenche o inquérito e habilita-te a um iPhone. E depois: Vamos distribuir centenas de iPhones em Março! Deve ser a primeira mentira de 1 de Abril em forma de spam.

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