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Cibertúlia

Dúvidas, inquietações, provocações, amores, afectos e risos.

Agosto 31, 2008

Uma chatice

Miguel Marujo

"Sinto cansaço apenas. De fazer a barba todos os dias, de levantar, vestir, tomar banho, pequeno-almoço, comer, mastigar, engolir... Tudo isso, essas coisinhas fáceis e corriqueiras mas que são sempre as mesmas. É sempre a mesma coisa, a mesma ordem, ver a televisão... Tudo isso é uma chatice". (Manoel de Oliveira, em entrevista ao Diário de Notícias)

Agosto 31, 2008

Fogachos

Miguel Marujo

Está montado o cerco aos bairros críticos, o novo eufemismo para os guetos onde despejámos pobres e incómodos. Meros fogachos a avaliar pelos resultados. Comparando: a 50 metros da Presidência do Conselho de Ministros vendem-se drogas (chámon, chocolate, são termos que os moradores ouvem a boa voz todos os dias) e a PSP de Santo Condestável sabe, mas vai lá pouco. Ali não há televisões, nem helicóperos, os traficantes são branquinhos da silva e há consumidores de fato e gravata que chegam de BMW e Mercedes.

Agosto 29, 2008

Demagogias

Miguel Marujo

Os crimes violentos aumentaram 15 por cento, diz o Gabinete Coordenador de Segurança. Os dados oficiais revelam que números são inferiores aos registados em 2004 e 2006. Sublinhe-se este ano: 2004. Hoje, o seráfico Paulo Portas e o anódino Aguiar Branco vieram apontar o dedo a Rui Pereira, responsabilizando o PS pelos crimes. É claro: a demagogia securitária faz caminho, com jornais e opinadores a lavrarem o terreno. Curiosamente, estes senhores usam os dados do Gabinete para insistir na sua tecla, mas esquecem 2004. Olha para o que digo, não para o que fiz.

Agosto 28, 2008

Vergonha, portugueses!

Miguel Marujo

Os portugueses devem ter ficado na caminha, ou não se esforçaram minimamente. Estava vento no pavilhão, foi isso! Talvez tenham sido encadeados por ecrãs gigantes ou não estavam preparados para enfrentar multidões. A verdade é que precisávamos de ter ficado nos primeiros 22 lugares... e ficámo-nos pelo 23º. Tá mal!, não temos brio, nem orgulho.

Agosto 27, 2008

Repeat

Miguel Marujo

Em dias assim, em que as coisas públicas parecem atropelar-se entre a indigência e a insignificância, apetece deixar ali o video de David Byrne e Brian Eno e clicar para ouvir o álbum todo. Em modo repeat.

Agosto 26, 2008

Dependências

Miguel Marujo

A Rússia reconheceu unilateralmente a Abcásia e a Ossétia do Sul. O cordeiro incensado nos últimos anos pelas democracias ocidentais veste a pele do lobo que nunca deixou cair. E agora, com o precedente do Kosovo, a Europa e os EUA pouco podem fazer. Mas também a Rússia devia então reconhecer a Tchechénia. Mas, lá está, a política desta gente não se escreve com coerência. E é por isto que sou cada vez mais um europeu federalista - sem querer independências, que só fazem mal à saúde e ao mundo.

Agosto 22, 2008

Recordes de estupidez

Miguel Marujo

Nem com uma medalha de ouro o jornal-supostamente-desportivo que se diz o mais vendido consegue dar um destaque digno à notícia do dia (onde é que eles terão aprendido jornalismo?). E é este o país que grita com o dinheiro dos olímpicos.

 

[refiram-se as excepções: A Bola e, ainda mais, O Jogo souberam o que hoje era acessório: o futebol.]

Agosto 21, 2008

De olhos em bico

Miguel Marujo

Sempre que um muçulmano se sente ofendido por um qualquer gesto de ocidentais, logo na nossa praça aparecem uns mais cruzadistasqueoscruzados a gritarem aqui d'el-rei que nos querem dar cabo da liberdade de expressão, do nosso modo de vida, das nossas cidades e por aí fora, num muro grande de lamentações. Agora que espanhóis e argentinos resolveram brincar com os olhos em bico, explode um international criticism por esta crude impersonation of Chinese people. Com os chineses não se pode brincar? Só com Maomé? Jornais que publicaram as caricaturas do profeta, agora atacam os atletas por racismo. E por cá, Helena Matos ou José Manuel Fernandes ainda não nos disseram que estamos pertinho de ficar sem fala.

 

(eis as imagens que muitos dizem ser racistas...)

 

 

Agosto 20, 2008

Divorciados

Miguel Marujo

Alguns bispos, os partidos de direita e a Associação de Famílias Numerosas rejubilam com o veto de Cavaco à lei do divórcio. Diz o Presidente que quer o proteger o elo mais fraco, como se a actual lei protegesse alguma coisa. O porta-voz da Conferência Episcopal (e não a Igreja, onde há muitos divorciados) disse à Lusa que a Igreja compreende que há situações difíceis para a vida das pessoas e que atingem muitas famílias, mas frisou que "o regime jurídico deve defender a unidade da família porque ela é um bem para a sociedade". Mas se essa unidade for um terror diário, a Igreja prefere falar da indissolubilidade do casamento.

 

(E mais uma vez esta ideia: a Igreja isto, a Igreja aquilo. Lamento: eu também sou Igreja e não me revejo nestas declarações avulsas e cegas de alguns bispos e de umas famílias numerosas. E não deixa de ser curioso que o ataque seja a uma lei redigida entre outros por... Rosário Carneiro.)

Agosto 20, 2008

Daqui a quatro anos

Miguel Marujo

... estaremos a carpir mais mágoas e lamentos pelas medalhinhas, que tanto queremos e nada fazemos. Para mudar é preciso isto: muito dinheiro na formação desportiva, muito desporto escolar, muitos desportos a serem apoiados. Claro que em casa onde não há pão todos ralham com muita razão porque só o futebol é que interessa. E não é preciso esperar pelo início do campeonato da bola.

 

Usain Bolt vence os 100 metros com novo recorde. Nós à Jamaica vamos de turismo...

Agosto 19, 2008

Ao espelho

Miguel Marujo

Durante quatro anos desconhecemos que temos campeões no tiro ou na vela ou no judo, de quando em vez dá para uma reportagem no fim do telejornal e merecem uma página qualquer depois de 56 páginas sobre as incidências da jornada de futebol. Ao fim de quatro anos, tornamo-nos especialistas encartados em remo e lançamento do peso para opinar sobre as prestações dos olímpicos - que só lá estão porque obtiveram mínimos para isso - e desatamos a praguejar irritados contra as suas desculpas. No fundo, irritamo-nos porque nos vemos ao espelho: todos os dias temos saudades da caminha e quando damos um toque na estrada culpamos o ecrã gigante que nos encadeou.

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