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Cibertúlia

Dúvidas, inquietações, provocações, amores, afectos e risos.

Maio 12, 2008

Criminosos

Miguel Marujo

O Jornal de Angola (leia-se: o Pravda angolano, bem soviético no estilo e calúnia) comenta e critica jornalistas portugueses invocando a liberdade de imprensa, o que não deixa de ser um paradoxo vindo da voz do papagaio que é este pasquim (que não compreende que os patrões não metem o bedelho nos assuntos editoriais). Ali todos os que ousam dizer um ai sobre Angola são logo corridos a insultos, de José Eduardo Agualusa a Bob Geldof. Chamar criminosos à clique de mafiosos que desgoverna o país, como fez Geldof, é pouco. A liberdade das coisas simples, como criticar quem compra mercedes-topo-de-gama enquanto o povo morre de fome, custa a aprender. A democracia nunca foi coisa que se ensine assim. Vive-se e pratica-se. O editorialista do jornal nunca o entenderá.

Maio 12, 2008

Censura

Miguel Marujo

José Sócrates terá dito que havia motivos para censurar o seu Governo. Há muitos, já o escrevemos aqui. Mas o instrumento da moção de censura deve ser usado com parcimónia. Foi por causa de uma coisa dessas que gramámos com o Cavaco Silva por dez anos - e agora, claro. Maior motivo de censura merece no entanto este meu Benfica do 4º lugar. Por deixar que, para o ano, Portugal seja despachado da Champions depressa e bem.

Maio 10, 2008

Dias na cidade

Miguel Marujo

Quando a morte nos atropela, a cidade fica em suspenso. Lá fora, os carros seguem velozes, indiferentes. Cá dentro mora a incredulidade. De um tempo que é de vida.

Maio 07, 2008

Liberdade de BESpressão

Miguel Marujo

O BES não gostou de ouvir Bob Geldof, o seu convidado, dizer que Angola é gerida por criminosos. Se calhar, porque o BES terá negócios com esses criminosos. Que é o que o Governo de Luanda é. Mas já temos um padrão: o BES gosta de negócios estranhos, como em Benavente, e detesta a liberdade de expressão, como quando retirou os anúncios do Expresso.

[actualizado: «O BES, vertente financeira do Grupo Espírito Santo, está presente em Angola através do BESA, que conta com 20 por cento de capital angolano. Entre os accionistas locais está a filha do presidente, Isabel dos Santos.» - lido no Público de hoje.]

Maio 06, 2008

Portugueses com fome

Miguel Marujo

Há quem não queira ver, prefira olhar para o lado, assobiar. Há portugueses com fome. Podemos desconfiar das estatísticas, dos alertas que nos chegam, mas quem está no terreno, e sabe melhor, diz-nos que há mais gente, mais portugueses com fome. Só isto devia fazer-nos parar para pensar – e agir. Só isto devia acautelar o discurso sempre confiante, optimista, de amanhãs que nunca derrapam do Governo.

A mim pouco me importa que o défice baixe duas décimas, que o desemprego caia zero-vírgula-qualquer-coisa por cento. Enquanto houver um português que seja a passar fome (e a morrer de fome, saberemos quantos são?), o Governo não devia sorrir, muito menos assobiar para o lado ou reclamar que assim é que continuamos bem.

Não continuamos nada bem. Anos e anos de combate ao défice, de sacrifícios para lutar contra este papão não nos melhoraram a vida, nem a carteira. Agora, a fome! – sim, há portugueses que não têm dinheiro para o pão. E as mais de mil toneladas recolhidas pelo Banco Alimentar não nos deviam satisfazer. O bom era, ano após ano, ser cada vez mais pequena a necessidade de uma organização assim.

[a minha crónica hoje no 24 Horas]

Maio 06, 2008

Falar de tanque cheio

Miguel Marujo

Os preços dos combustíveis atingiram um novo recorde nos EUA (nada que se compare ao que pagamos cá, mas que faz muita mossa num país onde os carros são quase todos XL-glutões). Bush naquele seu jeito idiota com que fala das coisas graves, não pediu outras soluções de transportes ou combustíveis. Preferiu pedir cortes permanentes dos impostos e um aumento da produção de... petróleo.

Maio 05, 2008

Menezes tinha prometido ficar em silêncio no próximo ano e meio. Mas, sabíamos, era uma questão de d

Miguel Marujo

"Às críticas de Rui Rio feitas nos últimos dias, Luís Filipe Menezes responde com declarações sobre o carácter do autarca do Porto. A entrevista de domingo ao JN terá sido a gota de água que levou o ainda líder do PSD a quebrar o silêncio: Foi «um acto espúrio de má educação e mau carácter de Rui Rio. Se não fosse por isso, não faria qualquer comentário»." [in PD]
Teremos, certamente, muitas outras gotas de água.

Maio 04, 2008

No sorriso louco das mães

Miguel Marujo

No sorriso louco das mães batem as leves
gotas de chuva. Nas amadas
caras loucas batem e batem
os dedos amarelos das candeias.
Que balouçam. Que são puras.
Gotas e candeias puras. E as mães
aproximam-se soprando os dedos frios.
Seu corpo move-se
pelo meio dos ossos filiais, pelos tendões
e orgãos mergulhados,
e as calmas mães intrínsecas sentam-se
nas cabeças filiais.
Sentam-se, e estão ali num silêncio demorado e apressado,
vendo tudo,
e queimando as imagens, alimentando as imagens,
enquanto o amor é cada vez mais forte.
E bate-lhes nas caras, o amor leve.
O amor feroz.
E as mães são cada vez mais belas.
Pensam os filhos que elas levitam.
Flores violentas batem nas suas pálpebras.
Elas respiram ao alto e em baixo.
São silenciosas.
E a sua cara está no meio das gotas particulares
da chuva,
em volta das candeias. No contínuo
escorrer dos filhos.
As mães são as mais altas coisas
que os filhos criam, porque se colocam
na combustão dos filhos. Porque
os filhos são como invasores dentes-de-leão
no terreno das mães.
E as mães são poços de petróleo nas palavras dos filhos,
e atiram-se, através deles, como jactos
para fora da terra.
E os filhos mergulham em escafandros no interior
de muitas águas,
e trazem as mães como polvos embrulhados nas mãos
e na agudez de toda a sua vida.
E o filho senta-se com a sua mãe à cabeceira da mesa,
e através dele a mãe mexe aqui e ali,
nas chávenas e nos garfos.
E através da mãe o filho pensa
que nenhuma morte é possível e as águas
estão ligadas entre si
por meio da mão dele que toca a cara louca
da mãe que toca a mão pressentida do filho.
E por dentro do amor, até somente ser possível amar tudo,
e ser possível tudo ser reencontrado
por dentro do amor.

Herberto Helder

Maio 02, 2008

Ineficiências

Miguel Marujo

Dizem-nos hoje que os programas para desempregados são quase ineficazes. Não fui, quando estive nessa condição, abrangido por nenhum deles, mas sobre a eficácia do IEFP e seus centros de emprego fiquei muito habilitado. Quando se fala de apoios destes, vejamos na prática o que eles fazem por quem está aflito: chamam-nos para uma entrevista, onde sem privacidade (não imaginam as histórias canalhas ou miseráveis que ouvi enquanto eu era atendido) debitamos habilitações e competências para um formulário que os ajudará a chamar-nos para entrevistas. Nunca fui chamado. Deram-me uma pastinha muito gira, cheia de folhinhas, para arquivar o CV e cartas e e-mails e papéis que utilizasse durante o processo... Ganhei mais um arquivo. E teria de me humilhar, sob termo de identidade e residência, a comunicar saídas da cidade. Nunca comuniquei, não sou criminoso. Posto isto. O que o Banco de Portugal descobriu não é novidade. O desempregado desenrasca-se sozinho ou... lixa-se.