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Cibertúlia

Dúvidas, inquietações, provocações, amores, afectos e risos.

Janeiro 06, 2007

Manhã

Miguel Marujo

Há nevoeiro no rio, ouvem-se os barcos, há folhas caídas na praceta, muitas, que finalmente o varredor limpa, há um sol que espreita tímido. Há manhãs assim.

Janeiro 05, 2007

«Diad»

Miguel Marujo

Nas últimas semanas, três pessoas próximas, em conversas casuais comigo, chegaram à conclusão que a revista de economia do Público se chama «Dia D» e não «diad» [ler "diáde"], coisa estranha que não questionavam e associavam a qualquer microrganismo obscuro da Economia. Esta confusão bem pode explicar o insucesso da coisa. E, de caminho, o insucesso de muita coisa "pública".

Janeiro 04, 2007

A clínica do vão de escada

Miguel Marujo

Confundir tudo para pior convencer, eis o que se lê nos argumentos absurdos de António Borges, economista, elevado a salvador da pátria por lentes obscuras: «Se o sim vencer, isso poderá levar a um aumento exponencial e deplorável do número de abortos», afirmou António Borges, durante uma conferência da plataforma "Não Obrigada". Para este economista, «a liberalização do aborto opcional» servirá de solução «para quem encarou com ligeireza o controle da natalidade». Acho espantosas, estas afirmações. Estes senhores ainda não perceberam que a liberalização do aborto já existe: chama-se vão de escada, à razia de umas quantas centenas de euros. O que se pretende é acabar com esta liberalização, tornar clinicamente seguro um acto que não deve ser pago com a cadeia, como prevê a actual lei. Mais: em lado nenhum, a despenalização (é isto que se está a votar!) contribuiu para o «aumento exponencial e deplorável do número de abortos». como afirma. O economista é pouco rigoroso, já se vê.

António Borges diz ainda que fez as contas, tendo como referência que cada aborto custará ao Estado cerca de 650 euros, ou seja, custarão 20 a 30 milhões de euros por ano. «Os custos de 2,3 abortos serão suficientes para pagar uma cirurgia média», diz ainda. Gostava de saber onde foi buscar ele estes números. Mas para um defensor do liberalismo e que acha que o SNS é uma excrescência, não está mal a contabilidade. Para Borges, deve ficar mais barata a economia clandestina ou a ida-para-quem-pode a Badajoz e Madrid. Claro que o Serviço Nacional de Saúde não deve pagar isto aos pobres, aos que não têm possibilidades de atravessar a fronteira. Para eles, qualquer vão de escada serve. Os liberais detestam os pobres.

[Mais sobre o aborto: A interrupção voluntária do diálogo]

Janeiro 04, 2007

Coerências

Miguel Marujo

Sampaio foi atacado por assumir que ia vigiar o Governo Santana-Portas (e bem avisado estava pela incompetência demonstrada) pelos mesmos PSD e CDS que agora salivam com os recadinhos de Cavaco para o Governo Sócrates.

Janeiro 03, 2007

Senhora do Ó

Miguel Marujo

Esta senhora bem posta e gravidérrima foi o nosso postal de Natal. Veio de Marvão, em fim-de-semana de um Agosto aziago, feito por uma artesã que experimenta a alegria nestas coisas quase sempre pesadas da religião. Encher tudo de futuros, apetece.

Janeiro 03, 2007

Toward Eternity

Miguel Marujo

Aya Takano, Toward Eternity Print (2006)

A Aya Takano descobrimo-la numa livraria japonesa em São Francisco (também há em Nova Iorque, junto à 5th Avenue, mas aí não parámos muito). Perdidos no Oriente, literalmente, numa livraria de Japantown, onde os poucos livros em inglês eram quase todos de turismo sobre o país do Sol Nascente, deixámo-nos embevecer pelas ilustrações espantosas desta autora. No fim, devemos ter comprado uns 4 ou 5 livros japoneses, onde a imagem ajuda a descobrir um universo que as letras teimam em não descodificar. Vale a pena viajar assim.

Janeiro 02, 2007

Aberto para balanço

Miguel Marujo

Não há listas dos melhores aqui. Nem cêdês, nem livros, nem filmes: não os vi nem os ouvi nem os li em número suficiente para fazer tops. Nem se elegem acontecimentos ou figuras. 2006 está fechado, mas continua a moer em 2007. Um dia ficará guardado de vez. Os anos deviam ter de fechar as contas todas nos seus 365 dias.

Janeiro 01, 2007

Para este ano

Miguel Marujo

Tu precisas tanto de amor e de sossego
- Eu preciso dum emprego
Se mo arranjares eu dou-te o que é preciso
- Por exemplo o Paraíso
Ando ao Deus-dará, perdido nestas ruas
Vou ser mais sincero, sinto que ando às arrecuas
Preciso de galgar as escadas do sucesso
E por isso é que eu te peço

Arranja-me um emprego
Arranja-me um emprego, pode ser na tua empresa, com certeza
Que eu dava conta do recado e pra ti era um sossego

Se meto os pés para dentro, a partir de agora
Eu meto-os para fora
Se dizia o que penso, eu posso estar atento
E pensar para dentro
Se queres que seja duro, muito bem eu serei duro
Se queres que seja doce, serei doce, ai isso juro
Eu quero é ser o tal
E como o tal reconhecido
Assim, digo-te ao ouvido

Arranja-me um emprego
Arranja-me um emprego, pode ser na tua empresa, com certeza
Que eu dava conta do recado e pra ti era um sossego

Sabendo que as minhas intenções são das mais sérias
Partamos para férias
Mas para ter férias é preciso ter emprego
- Espera aí que eu já lá chego
Agora pensa numa casa com o mar ali ao pé
E nós os dois a brindarmos com rosé
Esqueço-me de tudo com um por-do-sol assim
- Chega aqui ao pé de mim

Arranja-me um emprego
Arranja-me um emprego, pode ser na tua empresa, com certeza
Que eu dava conta do recado e pra ti era um sossego

Se eu mandasse neles, os teus trabalhadores
Seriam uns amores
Greves era só das seis e meia às sete
Em frente ao cacetete
Primeiro de Maio só de quinze em quinze anos
Feriado em Abril só no dia dos enganos
Reivindicações quanto baste mas non tropo
- Anda beber mais um copo

Arranja-me um emprego
Arranja-me um emprego, pode ser na tua empresa, com certeza
Que eu dava conta do recado e pra ti era um sossego


[Sérgio Godinho, para começar o ano.]

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