O
Cavaco é triste. O
Miguel lá de Aveiro veio
dizer-me que «tristeza [é] uma esquerda desenraízada das necessidades do país, desagregada e desunida e claramente consciente da sua derrota. Sim é este o verdadeiro nome da tristeza da esquerda!» Claro que o meu homónimo conterrâneo é de direita, o que explica o seu comentário. Mas não iliba Cavaco.
A candidatura cavaquista é triste: uma certa direita, a do PP, engole-a, com medo que lhe saia a fava. Outra, o PSD do
centrão, não lhe perdoa o tabu em silêncio, embora agora regozije com o silêncio de campanha. Uma terceira direita, a do PPD-PSL, não lhe atura rodagens de carros e, menos ainda, a moeda má que atirou a Santana. Agora todos aparecem solícitos a apoiá-lo, sem convicção e sem se porem a seu lado na campanha. Revelador.
E há ainda o tom sebastiânico assumido, que se partirá em pedaços uma vez instalado os pés de barro em Belém. [Aos que criticam a falta de ideias e propostas à esquerda, podem explicar-me uma ideia clara, concisa e concreta do candidato único de direita, que não seja de um ministro das finanças, para o qual ele não concorre nestas eleições?]
À esquerda, que é onde me revejo, para minha pena, a campanha não tem sido mais
alegre, ou pelo menos mobilizadora. Depois do debate de ontem, de Mário Soares e Manuel Alegre, mais desiludido fiquei. De Soares continuo a achar mais ideias e substância
nos seus correlegionários do que no candidato, frouxo na explicação dos motivos da candidatura (afinal, como se pode lamentar que não haja renovação, se não deixa espaço para ela acontecer?) e quase mitómano na tecla da experiência que só ele terá. Alegre fraqueja no trabalho de casa, o que demonstra a falta de uma máquina mais preparada, valendo-se mais dos afectos. Menos mau, ainda assim que Soares no campo das propostas, falhou ontem redondamente no seu enunciado (o disparate da dissolução fala por si).
Recuso-me a considerar, à esquerda, as candidaturas meramente partidárias, de Louçã e Jerónimo, como também esta noite se pôde ver.
O resultado é claro: uma tremenda desilusão. Sobretudo pela esquerda. Sobretudo pela opção suicidária do espaço político do PS, mas também pela opção sectária das candidaturas do BE e do PCP. O meu voto? Por agora, um
rotundo branco. Queiram convencer-me do contrário até 22 de Janeiro, detesto não botar uma cruzinha. Coisa de católico.