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Cibertúlia

Dúvidas, inquietações, provocações, amores, afectos e risos.

Junho 23, 2005

Tecida a teia

Miguel Marujo

«Vim ao limbo procurar a Margarida. Não a encontrei.
Disseram-me que já se foi embora. Descobri porém que me sinto bem aqui. Muito bem mesmo. Não querem vir até cá?»
A mensagem (que se reproduz) parece indicar uma pausa na teia tecida por Afonso. Aguardemos o regresso do bichinho da seda: inteligente, divertido.

[actualize-se: urde-se uma teia diferente, a de «um bicho-da-seda português no limbo»: leia-se!]

Junho 22, 2005

J'ACCUSE!

Miguel Marujo

[texto originalmente publicado na Terra de Alegria, de hoje, onde há outras leituras a merecerem atenção]

Acuso os bispos portugueses por omissão.
Acuso os padres das dioceses deste país por não levantarem a voz.
Acuso os leigos da Igreja católica portuguesa por indiferença.
Acuso quem, entre todos os cristãos, ignorou a manifestação nazi do passado sábado em Lisboa.

Não basta lermos a parábola do Bom Samaritano, para sabermos tratar e acolher o estrangeiro.
Não basta bater no peito e invocar a caridadezinha, que podemos praticar com os ciganitos lá do bairro.
Não basta rezarmos por quem pratica o mal, em supostos arrastamentos ou de braço em riste, repetindo a ladainha que pecámos por palavras, actos ou omissões. Porque pecámos.

Por palavras que não foram ditas.
Por actos que não tomámos.
Por omissões que todos nós tivemos.

Há que dizê-lo: fosse uma manifestação pró-aborto, e bispos, e padres, e alguns movimentos ditos pró-vida ou eclesiais, levantariam a voz, gritariam para lá da sacristia, poriam o dedo em riste.
Mais: no sábado da vergonha (não podemos esquecer como começou a vergonha nazi - com a indiferença de todos os que deviam ter sido mais actuantes e não levantaram a voz), alguns movimentos e organizações portuguesas correram a participar numa manifestação em defesa da família na vizinha Espanha - que, no fundo, era uma "manif" homofóbica! - quando em pleno coração de Lisboa as famílias portuguesas eram todas elas envergonhadas com braços em riste a saudar o que de mais vil a humanidade já viu e a colorirem esses gestos hediondos com frases mentirosas (sim, são mentiras, como provam todas as estatísticas sobre criminalidade).

A tudo isto, os católicos disseram nada. Ou quase nada. Calaram, porque falta na Igreja uma aprendizagem do Outro - contra o discurso racista e da indiferença. A vida defende-se aqui. Assim.

[Dir-me-ão: D. Januário Torgal Ferreira, bispo da comissão episcopal das Migrações, falou. Alto e bom som contra a "manif". Mas, agora, apetece-me ironizar, com a argumentação de alguns sectores às direitas: "É sempre o mesmo..."]
[actualizado: e um «contraditório (sabendo a pouco)» a este meu texto]

Junho 21, 2005

Alinhamento do telejornal

Miguel Marujo

A seguir à notícia-que-não-seria-notícia (se não tivesse sido o alegado arrastão) de um assalto na linha de Sintra, ontem, e do reforço de policiamento nos comboios, Judite de Sousa, no canal 1 de serviço público, diz que o Governo anunciou que os filhos dos imigrantes que nasçam no país serão naturalizados.

Junho 20, 2005

Camões século XXI

Miguel Marujo

Garantem-me por e-mail que o poema de Camões

"Amor é fogo que arde sem se ver;
É ferida que dói e não se sente;
É um contentamento descontente;
É dor que desatina sem doer"

foi assim analisado por uma aluna de 16 anos da Escola C+S da Rinchoa:

Ah Camões
Se vivesses hoje em dia
Tomavas uns anti-piréticos
Uns quantos analgésicos
E Xanax ou Prozac para a depressão
Compravas um computador
Consultavas a página do Murcon
E descobririas
Que essas dores que sentias
Esses calores que te abrasavam
Essas mudanças de humor repentinas
Esses desatinos sem nexo
Não eram feridas de amor
Mas somente falta de sexo.

Junho 19, 2005

Post contra a criminalidade

Miguel Marujo

O senhor que se vê na foto em baixo julgo ser Mário Machado que, como lembra o Nuno Ferreira, esteve preso 4 anos pela morte de um rapaz de origem cabo-verdiana, em 1995. Eu que acredito na capacidade de reabilitação do sistema prisional tenho, por uma vez, que concordar com Nuno Melo: acho que é preciso endurecer as penas: quatro anos pela morte de uma pessoa?! Mas com estas penas não se incomoda Nuno Melo.

Junho 17, 2005

A ganga da memória

Miguel Marujo

Ainda os arrastamentos: nos idos de 1992, o ministro da Administração Interna (então Dias Loureiro) veio bradar contra o perigo de «gangues de negros». Eu tive azar: fui assaltado duas vezes num curto espaço de tempo por... brancos. Ainda pensei em manifestar-me, mas ninguém me ligou.

Junho 17, 2005

Arrastado no comboio

Miguel Marujo

Lá está: a SIC bombardeia-nos, desde ontem, com imagens de assaltos dos comboios da linha de Sintra - que, diz-nos a pivô, «pode ser uma experiência de insegurança». A minha Mãe confirmava ontem à noite que era nesses comboios do terror que o seu filho caminhava para o trabalho desde há uns anos. As imagens impressionam até o passageiro mais descontraído, mas gostava de saber o número de assaltos vs. o número de passageiros e de viagens dos comboios em circulação. Talvez ajudasse a perceber que, se calhar, os assaltos não serão a toda a hora e que não estarão acima de médias nacionais... Mas quem se interessa por minudências quando a TV mostra as imagens?

Junho 17, 2005

Tal e qual... mais ou menos

Miguel Marujo

A nossa outra casa, onde se contempla melhor a vida, já teve direito a citação nas escolhas de blogues (agora uma moda jornaleira) do "Tal & Qual". Hoje, volta a ser notícia nesse jornal, o que muito nos alegra: o bom gosto espalha-se. «De chorar por mais», garante em título o semanário sobre E Deus Criou a Mulher - como se não o soubéssemos! O pior é que, no texto, nos garantem que «a Scarlett Johansson, por exemplo, é claramente um "must" do António Marujo». Pois é: António. Não se trata de inveja familiar, mas não queria provocar engulhos domésticos ao meu irmão - e da lista de sugestões que ele me deu, elas eram todas um cadinho mais maduras.

Junho 16, 2005

Diferenças

Miguel Marujo

Ninguém falou em fanatismo e idolatria de milhares na hora do adeus, ninguém questionou os que fizeram centenas de quilómetros para este funeral, todos calaram a sua dúvida sobre a que os veladores manifestavam aos microfones da televisão.

Para os distraídos: não, não falo do funeral de João Paulo II.

Junho 15, 2005

Conversas de família

Miguel Marujo

[ou A estratégia de comunicação da PT]

«Caros colaboradores,

A primazia dos colaboradores da Portugal Telecom no acesso à informação sobre temas inerentes à vida do grupo tem sido uma orientação que temos seguido de forma consistente ao longo dos últimos anos.

Amanhã, dia 15 de Junho, terá lugar um momento significativo na vida das empresas do Grupo PT. Pela natureza do nosso negócio e do nosso envolvimento com a comunidade, será, naturalmente, uma iniciativa com repercussão junto dos mais diversos públicos, mas, mais uma vez, é a si que me dirijo em primeiro lugar.

Nesse sentido, convido-o a assistir, amanhã, entre as 07h15 e as 07h30 da manhã, a uma emissão especial para os colaboradores do Grupo PT que terá lugar no Canal 1 da RTP. Reúna a sua família, sintonize a televisão e conheça as novidades que tenho para lhe dar.

Conto consigo, não falte.

Um abraço,
Miguel Horta e Costa»

[sublinhados nossos]