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Cibertúlia

Dúvidas, inquietações, provocações, amores, afectos e risos.

Maio 07, 2005

Jorge Perestrelo

Miguel Marujo

O Sporting marca e há um brevíssimo momento de silêncio: os outros já berram golo, ele ficou atordoado e reage depois com um eu te amo Sporting. Era assim. Já não se gritarão mais golos assim.

Maio 05, 2005

Pode ser Vidago?

Miguel Marujo

src=http://globis.geog.uu.nl/Users/Perk/MinWat/labels/P_SalusVidago.gif>


align=justify>"Ao fim de dois anos, cerca de 2300 notas publicadas, milhão e meio de visitantes, usando os contadores mais avaros (na verdade bastante mais, porque o contador esteve inactivo várias vezes e não conta desde o início), dois milhões e meio de “Page Views” (idem), com ligações a mais de dois mil blogues e milhares e milhares de citações, um pouco por todo o lado na rede e fora dela, o Abrupto é uma “empresa de sucesso” e devia agradar ao yuppie que há em mim. Infelizmente, se tal existe em mim, e o Dr. Freud preveniu-nos para que todos os demónios existem, tenho dificuldade em encontrá-lo. O Abrupto contenta-me, e estes números contentam-me, mas o que me contenta mais não é bem isso. Já o disse e repito: o Abrupto é o “jornal” que, desde que me conheço, gostaria de ter tido, parte da minha voz. Não a minha voz, mas parte da minha voz. Feita do ruído do mundo, do meu ruído, da fala incessante, dos quadros, dos versos, da música, das palavras, que nos faz o que somos. O Abrupto é sobre isso, o Abrupto é isso."
— Pacheco Pereira, aka jpp, faz dois anos de Abrupto, com festa a preceito, traje de gala e muito para se ver e ouvir. E ali se explica a razão de ser do título deste post.

Maio 05, 2005

Teatro acabado

Miguel Marujo

«Os Últimos Dias de Sócrates» estiveram no palco da Tapada das Necessidades. Ao cima da rua, na Presidência do Conselho de Ministros não houve quem desmentisse. Não foi preciso: a peça saiu de cena, Sócrates não.

Maio 04, 2005

Reconhecimento intelectual

Miguel Marujo

[em versão revista e inchada]

Anda um gajo a escrever aqui umas banalidades há um ror de tempo. De quando em vez alguns citam a chafarica, a malta fica contente e anima-se — quem não gosta que atire a primeira pedra. Mas foi preciso abrir um blogue de miúdas, giras, muito giras, para explodirem audiências, exaltações, aclamações e louvores. Deus é grande, é o que vos digo.

[actualizado: E o guru da direita blogosférica brasileira resume o essencial do nosso modesto blogue: Adorarlas y no tocarlas!
E depois há uma mulher que faz o maior elogio de todos: "Uma mulher que se aborreça com isto, é uma criatura muito mal resolvida. Aconselho visitas salivadas a ambos os sexos de todas as tendências."]

Maio 04, 2005

Na coutada no macho ibérico

Miguel Marujo

«É um clássico. Mas as gerações de mais jovens juristas já não lêem o Boletim do Ministério da Justiça - o mítico BMJ -, agora extinto. Por isso, não conhecem este igualmente mítico acórdão do Supremo Tribunal de Justiça que se pronunciou sobre uma decisão de primeira instância que condenava dois jovens pela violação de duas estrangeiras que lhes tinham pedido boleia.
A história do caso não tem muito mais que contar: os dois rapazes deram boleia no carro de um deles a duas estrangeiras que viajavam pelo Algarve. Decidiram sair da estrada, para um campo de alfarrobeiras, num local deserto e sem casas. O resto da cena, violenta, já se prevê.
A história ficou conhecida porque o STJ, embora confirmando a condenação, desculpabilizou os dois rapazes. Depois de todos estes anos, não é menor o respeito pelo horrível episódio vivido por Svetlana e Dubrova. Sem conceder quanto à indignação que este tipo de actos suscita, citam-se de seguida trechos do acórdão (de 18 de Outubro de 1989, publicado no BMJ nº 390, de Novembro de 1989).

"... Se é certo que se trata de crimes repugnantes que não têm qualquer justificação, a verdade é que, no caso concreto, as duas ofendidas muito contribuíram para a sua realização. Na verdade, não podemos esquecer que as duas ofendidas, raparigas novas, mas mulheres feitas, não hesitaram em vir para a estrada pedir boleia a quem passava, em plena coutada do chamado «macho ibérico». É impossível que não tenham previsto o risco que corriam; pois aqui, tal como no seu país natal, a atracção pelo sexo oposto é um dado indesmentível e, por vezes, não é fácil dominá-la. Ora, ao meterem-se as duas num automóvel justamente com dois rapazes, fizeram-no, a nosso ver, conscientes do perigo que corriam, até mesmo por estarem numa zona de turismo de fama internacional, onde abundam as turistas estrangeiras habitualmente com comportamento sexual muito mais liberal e descontraído do que a maioria das nativas."»

[de um e-mail que anda por aí...]

Maio 04, 2005

Quando o blogue derrota o jornal

Miguel Marujo

No modesto álbum onde se arrumam os retratos desta casa, as coisas estavam postas em sossego, quase desde os primeiros dias, quando o Tal&Qual descobria a vantagem da contemplação. Nesse dia, uns quantos leitores deste semanário contribuíram para umas 90 visitas, mais coisa menos coisa. Mas, esta semana, o sitemeter trepou pelas paredes: não que haja grandes novidades, mas apenas porque a Voz do Deserto (na segunda-feira) e A Memória Inventada (ontem) por ali pararam até a vista lhes doer. E que bem sabe ter sempre Monica Bellucci como argumento teológico, amigo Tiago.

Maio 03, 2005

Aborto-ices

Miguel Marujo

Agora que Sampaio não convoca o referendo, deve o Parlamento votar a alteração legislativa, fazendo valer a maioria de esquerda. Não precisa o PS de desculpas, nem o Bloco de se zangar com Sampaio. Só não percebo porque bate palmas a direita - afinal, perde assim uma ocasião de votar "não" e manter tudo hipocritamente como está e como sempre preferiu que deve estar (continuo a achar que, em referendo, o "não" pode ganhar de novo, por demissão abstencionista). No Parlamento, a maioria de esquerda mudará a lei e a direita não poderá agitar um papão que não existe na sociedade portuguesa.

Maio 03, 2005

Cortina de fumo

Miguel Marujo

Ford Cortina



Eu que não sou dado a grandes automobilites, descubro-me animado a discutir com o taxista a chapa e a potência do Ford Cortina 1300 Deluxe (1969), que o meu Pai guiava na minha infância. O embate surge, já perto de casa, quando Salazar conduz as habituais teses sobre isto já não é como era dantes. É impossível falar ao taxista de poesia.

Maio 02, 2005

Uma questão de método

Miguel Marujo

Estão dois portugas no deserto:
- Olha que pedra mais esquisita. Parece uma pirâmide!
Começam a escavar, sem ferramentas, e desenterram uma pirâmide enorme.
- E agora?
- Avisamos a equipa arqueológica americana. Essa malta é profissional.
- OK!
Avisam a equipa americana, que vem com os seus jeeps, trailers, caravanas e helicópteros, cheios de aparelhos científicos. Entram na pirâmide e reaparecem... dois anos depois.
- Fogo, tanto tempo. O que averiguaram?
- É assim, responde o porta-voz dos americanos: após laboriosas investigações, averiguámos que esta pirâmide foi construída entre 1500 e 2500 antes de Cristo.
- Só?! Ao fim de dois anos, apenas averiguaram isso?
Chateados, decidem ligar aos alemães. Esses sim, são muito metódicos. Vêm os alemães, entram na pirâmide, e aparecem dois anos depois.
- Atão?
- Esta pirâmide foi construída no ano 2000 antes de Cristo.
- E mais?
- Bom, mais nada. Estes hieroglifos são muito complicados.
Muito chateados, os dois portugas tomam uma decisão:
- Bom, só nos resta comunicar à GNR.
Chegam dois GNR, entram na pirâmide e saem duas horas depois.
- Pronto. Já está.
- E averiguaram alguma coisa?...
O GNR saca do bloco dos autos e diz:
- Averiguámos que a pirâmide foi construída entre 12 de Fevereiro de 1858 e 22 de Julho de 1857 antes de Cristo, por ordem do faraó Ankhetop IV, e segundo projecto do arquitecto Tutmosis o Jovem. No dia da inauguração, chovia e um grupo de sacerdotes opunha-se ao acto, por considerar que, na noite anterior, tendo havido um eclipse parcial da lua, que estava em Capricórnio ... bla bla bla... e participaram 2118 escravos não qualificados, que tentaram uma revolta contra as lamentáveis condições laborais, que foi controlada no dia 5 de Setembro, com o resultado de 42 mortos e... bla bla bla... o custo total da obra foi de 48 milhões de libras de ouro puro e 13 libras de diamantes... bla bla bla... a esposa do faraó vestia um fato azul-turquesa de Perfilotes e... bla bla bla... a influência na língua pode ser comprovada no sotaque das terras altas que representavam a nobreza... bla bla bla...
- Ena! E como é que conseguiram saber tudo isto?
- Bom, não foi fácil, até foi bastante difícil. Custou bastante, mas depois de uma hora de porrada, a múmia falou!

Maio 02, 2005

Profano, como gosto

Miguel Marujo

Este blogue baralha e confunde os mais incautos (há um senhor de direita e ateu que todos os dias se pergunta sobre eu ser tão visceralmente de esquerda e provocadoramente católico). Desde que os meus amigos de tertúlia me deixaram sozinho a falar aos peixes, que por aqui se faz o que me dá na real gana. Festeja-se Abril ou o sorriso das mães. Pensa-se Deus e o Papa, a seguir espeta-se uma miúda gira, uma frase tonta, malha-se nos políticos (de direita, sim, sou um pouco egoísta). Este blogue não tem agenda. Talvez por isso, não me apeteça criticar os padres de Díli, como acho que devem ser criticados, porque agora há uma certa cruzada blogosférica de esquerda contra tudo o que mexa ou cheire a Igreja Católica. Mas, para os exemplos caseiros, eles não olham. Os intolerantes, já se sabe, são os católicos - dos moderados aos fundamentalistas. Só porque são católicos.

Maio 01, 2005

No sorriso louco das mães

Miguel Marujo

No sorriso louco das mães batem as leves
gotas de chuva. Nas amadas
caras loucas batem e batem
os dedos amarelos das candeias.
Que balouçam. Que são puras.
Gotas e candeias puras. E as mães
aproximam-se soprando os dedos frios.
Seu corpo move-se
pelo meio dos ossos filiais, pelos tendões
e orgãos mergulhados,
e as calmas mães intrínsecas sentam-se
nas cabeças filiais.
Sentam-se, e estão ali num silêncio demorado e apressado,
vendo tudo,
e queimando as imagens, alimentando as imagens,
enquanto o amor é cada vez mais forte.
E bate-lhes nas caras, o amor leve.
O amor feroz.
E as mães são cada vez mais belas.
Pensam os filhos que elas levitam.
Flores violentas batem nas suas pálpebras.
Elas respiram ao alto e em baixo.
São silenciosas.
E a sua cara está no meio das gotas particulares
da chuva,
em volta das candeias. No contínuo
escorrer dos filhos.
As mães são as mais altas coisas
que os filhos criam, porque se colocam
na combustão dos filhos. Porque
os filhos são como invasores dentes-de-leão
no terreno das mães.
E as mães são poços de petróleo nas palavras dos filhos,
e atiram-se, através deles, como jactos
para fora da terra.
E os filhos mergulham em escafandros no interior
de muitas águas,
e trazem as mães como polvos embrulhados nas mãos
e na agudez de toda a sua vida.
E o filho senta-se com a sua mãe à cabeceira da mesa,
e através dele a mãe mexe aqui e ali,
nas chávenas e nos garfos.
E através da mãe o filho pensa
que nenhuma morte é possível e as águas
estão ligadas entre si
por meio da mão dele que toca a cara louca
da mãe que toca a mão pressentida do filho.
E por dentro do amor, até somente ser possível amar tudo,
e ser possível tudo ser reencontrado
por dentro do amor.

Herberto Helder

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