Em 2004, para aceitarmos o "golpe palaciano" da tomada de posse de Santana, disseram-nos que tínhamos eleito um Parlamento e não um primeiro-ministro, em 2002,
contra todas as aparências. Nesta campanha, aqui e acolá, atacaram-se de novo os páraquedistas das listas de deputados. Não me parece que face a determinadas críticas passadas haja motivos para defender a ligação à região (afinal, Daniel Campelo foi criticado por defender coisas para a sua região, com o argumento de que o Parlamento e os seus deputados têm uma representatividade nacional)... E, sublinhe-se, mesmo na altura da saída de Durão, o principal argumento do PSD/CDS era que as pessoas elegiam partidos - logo a maioria permanecia - e não pessoas (Santana não era deputado). Parece que assumimos uma "regionalidade" na elaboração das listas de deputados, que contrariamos noutras alturas.
Como eleitor esperava ver representado o meu voto no Parlamento: se o "meu" deputado afinal não é "meu", pelo menos esperava ver representado o ideário político em que votei, com as caras que se apresentaram. Se tivesse votado PP ou PSD, gostaria de ver lá quem se bateu por aquele programa, a defendê-lo. O que não se passará com Santana Lopes - que deve regressar à Câmara e não ocupar o seu lugar de deputado ou, então, coisa nenhuma - e eventualmente com Paulo Portas, que deve ir para os Estados Unidos, apesar de ter anunciado que ocuparia a sua cadeira na Assembleia da República. Um e outro, demitiram-se da liderança dos partidos, mas não foi para isso que os portugueses os elegeram.
Afinal, em que ficamos: a 20 de Fevereiro, elegemos deputados ou apenas candidatos a primeiro-ministro? Definitivamente, a reforma do sistema político tem de apontar uma direcção.
[Nota: bem sei que Sampaio foi derrotado em 1991 e voltou à Câmara; mas voltou à Câmara, para continuar o trabalho e se recandidatar em 93. Santana não é claro que o faça e, no fundo, volta à autarquia por seis meses para colher os frutos do apaziguamento de Carmona. O que vale para os deputados eleitos, vale para os autarcas: João Soares devia ter assumido a oposição em 2002.]