[ou
Idiotas, parte II -
um longo comentário deixado no Barnabé]
Eis um verdadeiro democrata,
este Nuno! Como deve ter aprendido no futebol que a melhor defesa era o ataque, defende-se -
no Barnabé - misturando o que não é misturável, digno do melhor discurso de um padre Serras Pereira ou de um João César das Neves! Eles misturam alhos com bugalhos, o Nuno responde bugalhos com alhos. Paciência. O Nuno escorregou na casca de banana (um humor nojento - e sim, eu não faço humor com um velho doente, chamado Pinochet! Apenas espero que ele seja julgado e condenado pelos crimes!) e atirou-nos à cara com a nossa intolerância. A dele ficou arrumada numa gaveta qualquer...
Sim, o Papa errou várias vezes, Nuno. Mas gostava de saber a tua opinião, quando o mesmo Papa, contra a opinião de sectores conservadores da Igreja, visitou outro velho e doente, Fidel, de seu nome (sim, e eu também não gostei quando alguma gente parodiou/gozou a queda que ele deu há uns tempos!) e o chamou à pedra pela violação dos direitos humanos. Como fez em relação ao Chile, em mais do que um discurso e iniciativas diplomáticas. Como fez em relação a outros territórios (mesmo em Timor, depois de uma visita ambígua, em que parecia deixar para trás os anos de esforço da Igreja timorense, João Paulo II referiu-se por mais de uma vez à necessidade de referendar a autodeterminação e foi uma voz fundamental na condenação dos ataques das milícias pró-indonésias, a seguir ao referendo).
Sim, o Papa erra, quando insiste num discurso moralizador que confunde mais do que ajuda.
Escrevi aqui, antes da
tua piada reles: «O Papa mistura temas que não se comparam. Eutanásia, aborto, preservativo, por exemplo, lêem-se demasiadas vezes no mesmo parágrafo. Agora, o aborto e o Holocausto surgem no mesmo plano, levantando um coro de protestos. E com razão. Não pelo que se escreve no livro de João Paulo II (lendo bem, não há uma comparação "absoluta" aborto=Holocausto), mas pela forma confusa (intencional?) como se aborda os limites das leis. E, em vez de se reflectir seriamente sobre estes temas, acabamos por estar a discutir o acessório ou a defender e atacar semânticas.»
Lendo melhor, podia adaptar este post ao Nuno do Barnabé: «O Nuno mistura temas que não se comparam. Doença, velhice, poder, miséria, dor e mediatismo, por exemplo, lêem-se demasiadas vezes no mesmo parágrafo. Agora, o Chile de Pinochet e Serras Pereira surgem no mesmo plano. E, em vez de se reflectir seriamente sobre estes temas, acabamos por estar a discutir o acessório ou a defender e atacar semânticas.»
Neste caso, queres sublinhar uma alegada conivência deste Papa com regimes ditatoriais, mas esqueces a importância que ele teve na denúncia do comunismo e das ditaduras do Leste Europeu (ou não eram ditaduras?), mas também na denúncia do capitalismo, de um mercado que só pensava no «ter» e esquecia o «ser» (em 1980, e depois repetiu-o por várias vezes).
Mais: este Papa sempre deu jeito a muitos, que o atacam por causa da moral sexual, quando ele se colocou contra as guerras do Iraque (em 1991 e 2004).
Agora que vais descansar por uns dias, era bom que pudesses voltar, sem espingardar "à Serras Pereira ou César das Neves". Separando os assuntos, e reconhecendo: mandei uma boca infeliz. Quanto ao resto - o discurso com que procuraste justificar o injustificável, é matéria para séria discórdia. E debate. E que é diferente daquela piada. Muito diferente.