Janeiro 10, 2005
Rir de quê?
Miguel Marujo
[a propósito de um texto de José Luís Peixoto contra as anedotas sobre os maremotos na Ásia]
Num jantar de amigos, notávamos a ausência de piadas sobre a tragédia da Ásia. E a violência dos acontecimentos tolheu qualquer possibilidade de também nós ali fazermos qualquer "gracinha".
Mas recordo um outro exemplo (contrário?), de um acontecimento igualmente brutal: o 11 de Setembro. O então "mayor" Rudolph Giulliani pediu - pouco mais de um mês depois dos atentados - aos nova-iorquinos para voltarem a rir, terminado o período de luto pelas vítimas.
Em Nova Iorque, as primeiras piadas apareceram ao quinto dia, noticiou na altura o New York Times. Em Portugal, circularam na internet as mais variadas graças sobre as torres (muitas com origem nos EUA) - e as pessoas riam, apesar de tudo. Depois veio Osama bin Laden, um alvo bem mais fácil para americanos e outros, como atestavam as dezenas de "cartoons" que invadiam "sites" humorísticos e as caixas de correio electrónico. Ou jogos em que o "responsável número um" dos ataques era literalmente o alvo a abater.
A 26 de Setembro de 2001, também naquele diário nova-iorquino, contava-se: «O público começa a regressar aos clubes de comédia, e os comediantes já começam a incluir piadas sobre os acontecimentos de 11 de Setembro, levados por um desejo de escape, mas também pelo dever de fazer rir as pessoas».
Outros não pensaram assim. Dino Ignacio, o "webmaster" de um sítio de humor, retirou da net a página em que satirizava o Becas da «Rua Sésamo», comparando-o a Bin Laden. «Bert is Evil!», defendia o humorista. Mas a frase deu lugar a um acto de contrição público, na hora de retirar a imagem: «Não estou a ser mariquinhas! Faço isto porque sinto que isto se aproximou demasiado da realidade e decidi ser responsável o suficiente para parar com isto imediatamente». "Isto" referia-se a cartazes empunhados por manifestantes paquistaneses pró-taliban com Becas ao lado de Bin Laden.
O humor é um pau de dois bicos. E muitas vezes a fronteira é muito ténue...
Num jantar de amigos, notávamos a ausência de piadas sobre a tragédia da Ásia. E a violência dos acontecimentos tolheu qualquer possibilidade de também nós ali fazermos qualquer "gracinha".
Mas recordo um outro exemplo (contrário?), de um acontecimento igualmente brutal: o 11 de Setembro. O então "mayor" Rudolph Giulliani pediu - pouco mais de um mês depois dos atentados - aos nova-iorquinos para voltarem a rir, terminado o período de luto pelas vítimas.
Em Nova Iorque, as primeiras piadas apareceram ao quinto dia, noticiou na altura o New York Times. Em Portugal, circularam na internet as mais variadas graças sobre as torres (muitas com origem nos EUA) - e as pessoas riam, apesar de tudo. Depois veio Osama bin Laden, um alvo bem mais fácil para americanos e outros, como atestavam as dezenas de "cartoons" que invadiam "sites" humorísticos e as caixas de correio electrónico. Ou jogos em que o "responsável número um" dos ataques era literalmente o alvo a abater.
A 26 de Setembro de 2001, também naquele diário nova-iorquino, contava-se: «O público começa a regressar aos clubes de comédia, e os comediantes já começam a incluir piadas sobre os acontecimentos de 11 de Setembro, levados por um desejo de escape, mas também pelo dever de fazer rir as pessoas».
Outros não pensaram assim. Dino Ignacio, o "webmaster" de um sítio de humor, retirou da net a página em que satirizava o Becas da «Rua Sésamo», comparando-o a Bin Laden. «Bert is Evil!», defendia o humorista. Mas a frase deu lugar a um acto de contrição público, na hora de retirar a imagem: «Não estou a ser mariquinhas! Faço isto porque sinto que isto se aproximou demasiado da realidade e decidi ser responsável o suficiente para parar com isto imediatamente». "Isto" referia-se a cartazes empunhados por manifestantes paquistaneses pró-taliban com Becas ao lado de Bin Laden.
O humor é um pau de dois bicos. E muitas vezes a fronteira é muito ténue...