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Cibertúlia

Dúvidas, inquietações, provocações, amores, afectos e risos.

Julho 23, 2004

O mestre da guitarra «com gente dentro»

Miguel Marujo

Carlos Paredes, a quem Amália uma vez qualificou como «um monumento nacional, como o Jerónimos», morreu esta sexta-feira, aos 79 anos.



Sobre o guitarrista, Maria João Seixas escreve na apresentação de «Uma Guitarra com Gente Dentro»: «Quando o via tocar, o corpo longo e a cabeça e os braços debruçados em curva matricial sobre a guitarra, donde nasciam os mais desvairados, comoventes e imponderáveis sons, pensei que o útero materno de Carlos Paredes tinha a forma da sua guitarra e era a ele que queria sofridamente regressar, era para ele que as composições jorravam e era nele que encontrava o "pathos" com que dedilhava as cordas. Sublimemente!»



Paredes começou a tocar guitarra aos quatro anos e desde então nunca parou até que em 1993 a doença o afastou do seu instrumento. «Quando eu morrer, morre a guitarra também», disse o músico há alguns anos ao jornal Público.



Em «Canções Para Titi» (2000), fisicamente debilitado e com plena consciência das limitações que isso acarretava ao domínio técnico absoluto que sempre caracterizara a sua relação com a guitarra, o músico não conseguiu terminar o álbum. Mesmo assim, nos temas que gravou, o guitarrista e compositor multiplicou à exaustão os registos de cada obra, repetindo-as sucessiva e totalmente sempre que, numa luta constante com as limitações físicas que a doença lhe impunha, se sentia insatisfeito com a interpretação.



«Ouvir hoje a sucessão completa destes registos é uma experiência emocional tremenda. Sentimo-nos testemunhas directas de um combate feroz e desesperado de um grande criador com o seu próprio corpo», sublinhou o musicólogo Rui Vieira Nery.



«Uma Guitarra com Gente Dentro» e «Canções para Titi» foram, pois, os derradeiros testemunhos de uma obra notável, feita de canções com afectos dentro.



[a partir de um texto próprio, no PD]

Julho 22, 2004

"Mr. Nobody" chegou atrasado

Miguel Marujo

Borrell queria anunciar o resultado da eleição do novo presidente da Comissão Europeia. «Señor Barroso no está aqui?», perguntou o incrédulo presidente do Parlamento Europeu... Não, não estava. É mais um pequeno sinal desta Europa.

Julho 20, 2004

Um veto que se espera

Miguel Marujo

Os médicos internos - em fase de formação geral e especializada - asseguram o real funcionamento dos hospitais portugueses, SA e não-SA. Mas o senhor ministro quer acabar com uma carreira médica que faz funcionar o Serviço Nacional de Saúde. Assim, serão destruídos anos de um funcionamento (apesar de todos problemas) menos mau dos hospitais.

Sou casado com uma médica, e sei o que lhe custa trabalhar 42 horas por semana mais 12 horas extraordinárias, impostas pela administração porque sem esses médicos - sem as suas horas extraordinárias - não haveria urgências a funcionar naquele hospital SA.

E faz 24 horas seguidas na urgência do hospital, onde se leva um miúdo com uma afta às duas da manhã ou uma criança com febre há uma hora (não são situações de urgência). E, depois daquelas 24 horas, vai ainda à enfermaria, trabalhar mais 4/5 horas, o que é ilegal, mas é necessário para manter o funcionamento das enfermarias dos hospitais...

São estes médicos que o Governo, com nova legislação, ataca, obrigando-os a mais trabalho e pior remunerado. De Sampaio espera-se o veto. A sério, senhor Presidente.

Julho 19, 2004

Alista-te...

Miguel Marujo

Sempre desconfiei do serviço militar. Sempre me recusei a servir um instrumento de guerra e uma máquina de fazer guerreiros. Habituado à incipiente comunicação das forças armadas portuguesas - do "jovem se tens 18 anos e a quarta classe" à nova e pomposa «loja da profissionalização» (não minto, é ali ao Largo do Rato, em Lisboa) -, assusto-me perante a habilidade propagandística dos americanos. Um pequeno "spot" mostra-nos locais de trabalho vazios. E as frases sucedem-se no ecrã: "Marc foi combater o terrorismo", "Ed está a estudar doenças tropicais na Guatemala", "Scott foi capturar Osama bin Laden"... Não sei o que me espanta mais: se a ingenuidade de quem saiu para ir comprar um maço de cigarros e aproveitou para dar um pulo ao Iraque, se a manipulação de quem vendeu uma mentira e agora apresenta esse modo de vida como casual day...



Nota final: Talvez os entusiastas portugueses da guerra possam aproveitar o link, que ali deixo em cima...

Julho 19, 2004

Um encontro, uma descoberta

Miguel Marujo

A Argentina é um país de extremos. Para mim, por motivos insondáveis, uma relação de amor-ódio, em que nos últimos anos ganha espaço e lugar a paixão e o espanto por aquele imenso país. Da Patagónia de Chatwin, mas também de Sepúlveda, e da Buenos Aires de Piazzola, mas também de Corto Maltese. Mas a Argentina também é um longo mistério - as suas gentes, os seus portos, as suas planícies, ou como aquela terra de alegria se permitiu à barbárie da ditadura militar e ao colapso do capitalismo neoliberal. O cinema é a última revelação: um encontro fugaz num táxi é o ponto de partida para o amor. Um encontro meu, fugaz, ontem em frente ao televisor, é ponto de partida para o enamoramento.



«Taxi, un encuentro»

Julho 19, 2004

Serviço público

Miguel Marujo

Tecem-se loas à nova RTP. Os seus jornalistas e apresentadores enchem a boca com o serviço público. Mas na prática de que se fala, quando se fala de serviço público? Um pequeno exemplo: a TVE - um outro exemplo de serviço público despesista - passa um filme às 23:00 de domingo, sem qualquer intervalo para publicidade.

Julho 18, 2004

O elogio de um comendador sem comendas

Miguel Marujo



A etapa de ontem da Volta à Gália foi de facto espectacular... E Azevedo extraordinário, mesmo sem comendas.


Ontem num jantar divertiamo-nos com o súbito interesse feminino pelo futebol (uma coisa boa do Euro!), mas quando eu e outro amigo começámos a falar com entusiasmo do Tour, de repente parecíamos alienígenas...


Esquecemo-nos que foi o ciclismo que fez os nossos pais vibrarem pelo Benfica e Sporting - e que a hegemonia destes clubes nasceu dos ciclistas que os "vendiam" nas estradas de Portugal em 40/50, quando a TV era algo para inglês ver...

Julho 17, 2004

O improviso

Miguel Marujo

Paulo Portas, «ministro do Estado, da Defesa Nacional e dos Assuntos do Mar». Como?, perguntou-se pela expressão e pela pergunta a Morais Sarmento, a seu lado. Santana já está a inventar e nem avisa os seus ministros...

Julho 16, 2004

Alguém me explica?

Miguel Marujo

A transparência da coisa pública parece ser difícil de aplicar. Apesar do sr. Presidente da República insistentemente falar dela, no dia-a-dia há pequenas coisas que dizem mais do que eloquentes discursos: desde ontem que ninguém sabe quando tomará posse o novo Governo (terça-feira, amanhã, no fim-de-semana, segunda-feira, para o mês que vem?!).

 

Que diacho: não é possível Sampaio impor um prazo a Santana? "A posse é neste dia e tem de me trazer os ministros na véspera". Qualquer coisa assim, sem mais especulações jornalísticas, joguinhos ao telemóvel de assessores... Ou é preciso ouvir mais uns quantos conselheiros, pá?