E quase que nos perdíamos
por lá. Mas mais valia ter ficado. Para quê ocuparmo-nos do mundo, quando este é um lugar de coisas feias. Há em Lisboa o Beco do Belo. Podia ser a morada
dela, ou a nossa - exilados do mundo. Assim, não tropeçávamos em Guantanamo, Abu Ghraib ou no número de desempregados que cresce nas ruas das nossas cidades. Mas aquele beco, assim fechado, fora do mundo, tornava-nos
também mais feios. A cidade vive disto tudo, alimenta-se destes extremos: da mulher bela que é
Laetitia, do horror das prisões, do temor dos prisioneiros às mãos dos carcereiros, em Bagdad ou em Havana. O pior é descobrir que há quem queira tornar belo o que é feio, em sustentar o intolerável, em defender as fotos da tortura com
exercícios de memória selectiva.