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Cibertúlia

Dúvidas, inquietações, provocações, amores, afectos e risos.

Maio 03, 2004

As estratégias do desejo*

Miguel Marujo

Anda um tipo a receber encómios diversos por um blogue colectivista que se dá ares de católico e logo o pecado mora ao lado. O palácio do desejo abriu-nos as suas portas.



E apetece cantar...



«Mão morta/Mãe morta

Vai bater àquela porta

"Que se lixe quem não dança"

(disse Carl Jung)

É o século XX/

É o sexo vintage

A nossa doença, a nossa militância

É há cá quem sofra de complexos

E quem se queixe de SIDA

Mesmo de novas misturas

Em casais de pombos

E há cada vez mais novos combos

E até electro-choques

Insulina a rodos e outros mentais retoques



Querida,

Apareces-me em sonhos

Com penas de gato e muita comida

Que não te falte nada

Mesmo assim vestida

A tua líbido é mistura

De desejo e bebida



Como a cabeça do bispo

Tu comes a cabeça da dama

Vendo-te o "cavalo"

Empresto-te a torre

Mas quero saber que me ataca

Atropelo um peão

Juro que ele não morre

Baby eu sei que não sente

Liebschen ele nem trabalha

Não come não sente

Já não se lembra quem é...



E o luar é tão cândido

E eu e tu Ana tudo é pureza e limpeza

E era tudo tão claro

E agora é tudo tão vago

Tudo gente tão podre

E há uma assimetria

Com um toque de lobotomia



Ó miss Psicanálise - Que perfeita que és

E tão pequenina

Com umbigo e tudo - E até unhas nos pés

Que saúde que tens!

(Como eu a invejo)...

Que perfeita que és da cabeça aos pés!



(«Freud & Ana», do álbum «Os Homens não se Querem Bonitos, de 1985

Letra e Música: Rui Reininho, Alexandre Soares, Jorge Romão e Toli)



* - título retirado do livro de Tolentino Mendonça, que apresenta «um discurso bíblico sobre a sexualidade» (ed. Cotovia, 1994), recuperando uma intervenção nas Jornadas de Universitários Católicos, do Movimento Católico de Estudantes, de 1992. O blogue deste e outros companheiros também foi acolhido no palácio...

Maio 03, 2004

(neuropublicidade de borla para o nosso primeiro-ministro)

Miguel Marujo

Conhece a «programação mental e neurolinguística»? Não? É «um poder extraordinário e infinito dentro de si, que precisa de ser activado e orientado para conseguir tudo na vida». Tudo? Sim: «Esta é a terapia mais rápida e eficaz para os seus problemas. Falta de sorte, insucesso amoroso e profissional. Todas as doenças podem ser tratadas com a criação de novos padrões mentais: úlceras, artrite, bronquite, enxaqueca, esgotamento cerebral, complexos de inferioridade, timidez, gaguez, psicose, tristeza, fobia, desânimo, fracasso, desmotivação, depressão, angústia, tabagismo, alcoolismo, frigidez, impotência sexual, etc.». Bem me parecia que a depressão do país tinha solução. Afinal, garante-nos a «programação mental», «todas as doenças e infelicidades são originadas na mente (psicossomáticas). O seu diálogo interior obsessivo, os seus pensamentos negativos, as preocupações persistentes, os medos, os traumas e complexos condicionaram a sua conduta e influenciaram o seu destino».



[citações de um panfleto distribuído à saída do metro. por razões óbvias não se indicam contactos. apenas ao próprio Durão]

Maio 03, 2004

Não invocar o nome...

Miguel Marujo

Alguns dos nossos governantes têm o credo na boca. Salta-lhes a verbe quando lhes convém o Verbo. Ficou para a história a pia crença paulística da intervenção da senhora de Fátima junto do malfadado «Prestige», para levar o mal às costas de Espanha e de França (numa clara derrota de São Tiago de Compostela e da senhora de Lourdes).

Volta e meia, a boca dos senhores do Governo e dos partidos que o sustentam enche-se de «meu Deus», «graças a Deus» e outras expressões populares. Só faltava, afinal, a senhora do défice vir invocar o nome de Deus mais uma vez e sempre em vão. Manuela Ferreira Leite disse em repasto do Primeiro de Maio (acaso saberá ela o que se celebra neste dia?): «Deus nos defenda que os socialistas voltem ao poder, mesmo que seja daqui a muitos anos».

Deus - que nunca é tido e achado nestes dislates - já se queixou à Autoridade da Concorrência, por invocação sistemática do seu nome. Em vão, senhora ministra, em vão.

Maio 03, 2004

À porta do estádio (monólogo de um adepto)

Miguel Marujo

Dá-me licença, sô guarda. É só uma garrafinha. O guarda-chuva? Vem aí borrasca, é p'abrigar, pode ser? Não?! Nem garrafinha, nem guarda-chuva? São objectos perigosos? Ok, sô guarda, juro que ainda no último jogo aqui neste estádio vi um tipo passear-se com uma barra de ferro ou um pau... Ah! mas nessa altura correu tudo bem? Pois foi, pois foi... Ok, olhe ofereço-lhe a garrafinha e tome lá o guarda-chuva. Se chover já se pode abrigar... Adeus, vou ver a bola.