Evito falar quase sempre da Casa Pia. E revejo-me muitas vezes naquilo que se diz nas Terras do Nunca. Como hoje, uma vez mais: «Mais segura é a justiça que se faz fora dos tribunais - que é célere, não admite recursos, não prevê indemnizações. Essa condena para toda a vida, sem ouvir as partes. Dessa justiça ninguém está livre.» Breve e certeira leitura.
Volta e meia, é isto: "posta-se" a imagem de uma mulher, eventualmente bonita, segundo critérios estritamente pessoais. E de seguida falam os amigos: «Preferia antes fulana ou sicrana», «gosto mais de outra foto dela», «ai um blogue é para isto». Um sem fim de comentários... Hoje, imagino o mesmo com esta foto da já entradota Kelly McGillis (A Testemunha ou Top Gun, quem não se lembra?). A explicação é simples: ao ler o livro com o título deste post dei por mim a ouvir numa rádio de nostalgias a canção de Top Gun, o inenarrável Take My Breath Away, na versão dos Berlin. Coisas que as férias fazem aos neurónios.
* - Em Louvor das Mulheres Maduras, de Stephen Vizinczey, ed. Cotovia, 2003. foto de Jeff Dunas, 1999.
Apaga-se! Sem querer ou por querer. E às vezes não há volta a dar: apaga-se e não conseguimos recuperar. Uma ordem mal dada, um descuido, uma distracção. «Deleta-se». Pedro Mexia apagou o seu Dicionário. O Rui, no Adufe, e JMF, nas Terras do Nunca, reflectem sobre este (mais um) apagamento. E uma blogoteca, não?
Li no Barnabé, um comentário do Daniel, a defender a colocação de uma foto do Papa com Pinochet, num "post" seu, agora que o execrável ditador chileno perdeu a imunidade: «Que os ditadores não são uma catástrofe que cai do céu. Há sempre quem lhes dê uma mão. Por vezes, os mesmos que hoje se horrorizam com o "relativismo moral"».
Concordo a 100 por cento (comentei também eu - e deixei algumas questões, porque às vezes me irrita o mundo a preto e branco que o Barnabé desenha). Gostava de saber onde colocar a foto do enviado do Papa a Bagdad e Washington para tentar evitar a guerra, antes de ela ter começado, e os muitos discursos deste Papa contra esta guerra, e que tanto jeito deram na altura ao Bloco de Esquerda, para confrontar a "santa aliança" Durão-Portas? Gostava de saber onde colocar (desde o início da década de 80) os discursos deste Papa contra o capitalismo sem regras, neoliberal e selvagem? Os relativismos morais ficam bem em qualquer lado.
Eu desconfiava: há ministros que só servem para isto. Arnaut, José Luís, assina-se «Ministro Adjunto do Primeiro-Ministro (Com a tutela do Euro 2004)», na carta que me fez chegar cá a casa. No regresso de férias, não é das correspondências mais agradáveis. Um ministro que me pede para eu me portar bem: «Importa aproveitar ao máximo este evento e demonstrar, a quem nos visita, a nossa instrínseca e cordial hospitalidade». Mas Arnaut-com-a-tutela surpreende-me e envia-me nas costas da sua missiva o «calendário dos jogos», com as respectivas horas e locais. Só faltam os canais de TV que transmitem os joguitos. E se não fosse pedir muito, na próxima cartinha, o ministro podia mandar a cervejita e os tremoços para acompanhar a sua tutela! Força, pá.
É o que dá veranear em Maio. Chega-se e anda tudo noutro ritmo, à bolina e nós lentos a ser atropelados pelos que passam apressados na avenida ou na feira, no centro comercial ou na Segunda Circular. Depois retomam-se mentalmente os projectos grandiloquentes pensados a-ver-o-mar. Mas quase não passam daí: amanhã é dia de trabalho, a estante acumula novos livros e discos, sem que os outros tivessem melhorada arrumação. E os jornais, as revistas, os catálogos da feira do livro, as contas da casa: tudo continua a amontoar-se em mil e um pequenos montes que vou já arrumar...
... em meia-hora fiz uma ronda por alguns blogues - os clássicos e mais uns quantos amigos. E fiquei prostrado. Pior que «comentar temas políticos com cinco dias de idade [que] é, entre nós, quase um absurdo», como escreve Miguel Sousa Tavares, hoje no «Público», é procurar ler cinco dias de política e cultura e música e futebol e afins nos blogues. Impossível. «A política, tal como a seguimos e a vivemos, é um objecto de consumo instântaneo». E os blogues, Miguel, e os blogues?!
PS - Atrasado, este cantinho parabeniza o mestre de Aviz, e todos os amigos portistas pela vitória na Liga dos Campeões. Soube ainda melhor: o Benfica foi o único clube a roubar um troféu a este FC Porto galáctico!
Numa sexta-feira à noite, o regresso aos lugares que nos reconhecem. Uma semana sem saber de quase nada. Uma semana longe de tudo, com as notícias a chegarem quase velhas no jornal da manhã (quando havia, porque nem sempre o «Público» "chegava" até às 11h30). Longe de um computador, claro - melhor: deste pequeno mundo dos blogues. E sem nada para dizer, tanto para fazer. Uma semana de praia, sem ver multidões, a descobrir sítios fantásticos, quase selvagens. Sim, não foi no Brasil nem no Algarve das auto-estradas. Foi ali ao lado, num pedaço encravado entre Aljezur e Vila do Bispo. Vontade de regressar... lá.
Ouvi Durão a falar da Madeira (mas enganou-se no nome do arquipélago): Um regime com tentações totalitárias, uma democracia com défice de liberdade de expressão.
Vi a chuva a abençoar a boda de Letizia e Felipe, como diz o povo. E dei por mim a ouvir jornalistas a falarem constantemente de realeza e povo.
Ouvi e vi o inefável Alberto João com inveja de Avelino Ferreira Torres a dizer que lhe apetecia invadir o campo.
[entrevista de António Lobo Antunes, à revista Visão]
V: Ainda sonha com a guerra?
ALA: (...) Apesar de tudo, penso que guardávamos uma parte sã que nos permitia continuar a funcionar. Os que não conseguiam são aqueles que, agora, aparecem nas consultas. Ao mesmo tempo havia coisas extraordinárias. Quando o Benfica jogava, punhamos os altifalantes virados para a mata e, assim, não havia ataques.
V: Parava a guerra?
ALA: Parava a guerra. Até o MPLA era do Benfica. Era uma sensação ainda mais estranha porque não faz sentido estarmos zangados com pessoas que são do mesmo clube que nós. O Benfica foi, de facto, o melhor protector da guerra. E nada disto acontecia com os jogos do Porto e do Sporting, coisa que aborrecia o capitão e alguns alferes mais bem nascidos. Eu até percebo que se dispare contra um sócio do Porto, mas agora contra um do Benfica?
V: Não vou pôr isso na entrevista...
ALA: Pode pôr. Pode pôr. Faz algum sentido dar um tiro num sócio do
Malhas que a chuva tece: caía uma bátega quase tropical sob a capital e Amílcar apressava-se do Porto para Lisboa para ouvir José Manuel dizer que não contava mais com ele. A Manuela tinha-se esquecido de declarar uns rendimentos, o Congresso vinha aí e prometia ser uma monumental seca ou uma antecâmara para Santana se lançar a Belém, o Miguel Relvas tinha de ir para o partido mas sem ficar no Governo, a Águas de Portugal é uma empresa demasiado apetitosa para ser deixada nas mãos de um tecnocrata com escrúpulos, e numa jogada matreira de defesa já cansado das pernas, passou uma rasteira a outro defesa - mas da própria equipa. A verdadeira história da remodelação guardou-a Amílcar. José Manuel sobe hoje a Oliveira de Azeméis para dizer que tudo está bem quando acaba bem, o povo vai aplaudir e o Santana esperar.
Esta noite acerto viagens atrasadas na blogosfera. «Mar de Leche», da cantora Suzy, é uma das revelações musicais mais extraordinárias que ouvi por estes dias, graças a Nuno Guerreiro, na cada vez mais imprescindível (e bem organizada) Rua da Judiaria. Corram a ouvir as «músicas da Judiaria».
«É por isso que, em suma, há coisas que me indignam mais que outras. Porque gostava que o nosso lado, o lado da democracia, não tivesse tantos telhados de vidro.» A frase, certeira, de JMF, refere-se a uma posição já defendida por aqui. Mas o que me parece óbvio, não é para pensamentos acidentais. Nestes dias em que (a)pareci mais afastado destas coisas todas, senti a civilização defendida nas Terras do Nunca e no Glória Fácil. Sem mudar uma vírgula.