O conspiracionista-mor deste reino não é, definitivamente,
Marcelo Rebelo de Sousa, submerso em mil leituras apressadas na sua missa dominical.
Pacheco Pereira leva-lhe a palma. No seu
blogue, desde quinta-feira, dia dos infames atentados de Madrid, só tem escrito com um propósito: apontar o dedo a uma perigosa esquerda que esfregaria as mãos de contentamento por os atentados serem da Al-Qaeda. É um insulto gratuito. Não há terroristas bons (todos são
hijos de puta, como escrevemos
aqui, naquelas horas).
O que não se admite a Pacheco Pereira é uma suposta superioridade moral. Lembro: a guerra contra o Iraque foi assente numa mentira, grosseira mentira, alicerçada num suposto engano de serviços secretos, mas que esqueceu o papel da ONU na vigilância ao regime odioso de Saddam.
Agora que a Al-Qaeda supostamente assume os atentados (
como nos conta o Diogo), que afirmará Pacheco? Insistirá, como insistiu o líder do PP, Mariano Rajoy,
ontem em dia de reflexão, na «autoria moral» da ETA? Ou sublinhará uma alegada aliança das «trevas», que é como quem diz a ETA aliada à Al-Qaeda, como defende hoje,
em dia de eleições, a ministra Ana Palacios?
Os meus sublinhados não são inocentes: os populares (e Pacheco di-lo-á certamente) dizem que as manifestações de ontem contra o PP foram «ilegais» e partidarizadas. Não passa pela cabeça conspirativa de Pacheco que aqueles manifestantes se cansaram de mais uma «mentira». Mentiras que não significaram nada - mataram muita gente,
continuam a matar todos os dias.
É isto: o que incomoda Pacheco (e
seus acólitos) é que
a mentira da guerra nunca foi a solução para paz nenhuma. Por isso, hoje os espanhóis votam contra todos os terrorismos. Mas também devem votar contra todas as mentiras.
E contra a maior mentira - a da morte, a que defende a morte.
«
Aqueles dispostos a abdicar da essencial liberdade em troca de uma segurança temporária, não merecem nem liberdade nem segurança.»
Benjamin Franklin, "Historical Review", 1759 [citado na
Rua da Judiaria]
Nota final: contra mim escrevo neste "post" - assumi que era a
ETA que tinha matado naquela manhã. Mas, ao contrário do polícia do pensamento correcto, não procuro tornar isto num desafio Benfica-Sporting. Eu, por mim, desde quinta-feira preferi lembrar os 200 mortos e os mais de 1400 feridos. Pacheco, hipócrita, nunca o fez.