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Cibertúlia

Dúvidas, inquietações, provocações, amores, afectos e risos.

Março 10, 2004

Boletim meteorológico

Miguel Marujo

Chove: o melhor indicador é o trânsito caótico que nos faz perder tempo e paciência. Impávidos ou irritados seguem condutores solitários nos seus carros particulares. Do outro lado, presos neste pára-arranca, passam quatro autocarros pegadinhos no sentido contrário ao desejado. O mundo entretido do "agarrem-me que quero ir para Belém" esquece-se de descer à cidade.

Março 10, 2004

Hino para Cavaco*

Miguel Marujo

«Eu que me candidato

Por tudo e por nada

Deixei-vos na lama

Na década passada

Usei o partido

Paguei o meu preço

Esqueci Santana

Limpei-me com o lenço



Olhei prá Figueira

De pé no alcatrão

Levantei-te as saias

Deitei-te no banco

Num congresso tonto

De mala na mão

Nem sequer falaram

Comeram e calaram

Nem sequer gemeram,

Morderam, abraçaram



Vai pra presidente

Quiseram depois

Tinha quinze anos

De poder, queria mais

Cheirava a mofo

À sopa dos pobres

O Sampaio à frente

Eu a comer bolo-rei

Saí da corrida

Alisando a blusa

Saltei p'la janela

Rosto derrotado

Coxa em semifusa

Soltei o travão

Voltei para casa

De chaves na mão



Sobrancelha em asa

Disse: fui mamado

Ao filho e à mulher

Repeti a luta

Acabei Boliqueime

Larguei as memórias

Estendi-me ao comprido

De ouvido à escuta

Na FNAC falei

Que de olhos em chama

Só tinha na ideia

O Santana parado



Na berma da estrada



Eu que me candidato

Por tudo e por nada
»



* - in The Galarzas (adaptação livre de Lobo Antunes. Cantar com a música do Vitorino para este poema)