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Eu que me candidato
Por tudo e por nada
Deixei-vos na lama
Na década passada
Usei o partido
Paguei o meu preço
Esqueci Santana
Limpei-me com o lenço
Olhei prá Figueira
De pé no alcatrão
Levantei-te as saias
Deitei-te no banco
Num congresso tonto
De mala na mão
Nem sequer falaram
Comeram e calaram
Nem sequer gemeram,
Morderam, abraçaram
Vai pra presidente
Quiseram depois
Tinha quinze anos
De poder, queria mais
Cheirava a mofo
À sopa dos pobres
O Sampaio à frente
Eu a comer bolo-rei
Saí da corrida
Alisando a blusa
Saltei p'la janela
Rosto derrotado
Coxa em semifusa
Soltei o travão
Voltei para casa
De chaves na mão
Sobrancelha em asa
Disse: fui mamado
Ao filho e à mulher
Repeti a luta
Acabei Boliqueime
Larguei as memórias
Estendi-me ao comprido
De ouvido à escuta
Na FNAC falei
Que de olhos em chama
Só tinha na ideia
O Santana parado
Na berma da estrada
Eu que me candidato
Por tudo e por nada»
* - in
The Galarzas (adaptação livre de Lobo Antunes. Cantar com a música do Vitorino para este poema)