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Cibertúlia

Dúvidas, inquietações, provocações, amores, afectos e risos.

Março 04, 2004

A (quase) omissão de Mel Gibson

Miguel Marujo

Não vi o filme de Mel Gibson, mas já tive alguns ecos do meu irmão e de Nuno Guerreiro. Não posso falar dele como obra de cinema que é - quando cá chegar, a 11 de Março, veremos. Quem viu sublinha a violência, a extrema violência - era assim que eram torturados os prisioneiros de Roma, todos eles.



Mas este repisar da violência é que me incomoda(rá). Mais do que alegadas mensagens anti-semitas, que parecem afinal ter sido retiradas ou não existirem. Afinal, esta é uma visão da Paixão de Jesus que recuso. Por esquecer a Vida - que vem depois, que completa o caminho do Gólgota. E que o transcende. Por isso, quando José escreve no seu Guia dos Perplexos, «é na Paixão que reside o carácter mais essencial, a beleza mais transcendente, o carácter mais distintivo da nossa Fé Cristã», eu vacilo.



Acho que é na Páscoa, na Ressurreição, que reside, na minha modesta opinião, o carácter mais essencial e distintivo da Fé. E é isso que é quase omitido no filme de Gibson. De raspão, no final, dá-se conta da Ressurreição de Jesus. Da vitória da Vida sobre a morte, a dor e o sofrimento.



Mas isso não parece o importante para o realizador australiano: sublinhar a dor e o sofrimento será uma perspectiva redutora, simplista e (quanto a mim) ultrapassada do cristianismo. «A nossa cruz», uma expressão tantas vezes usada pelos nossos pais e avós, ou sacrifícios estéreis como de muitos peregrinos de Fátima, deviam ser "erradicados" da linguagem da Fé. Para que esta seja verdadeiramente uma Festa.

Março 04, 2004

A desintegração dos transportes

Miguel Marujo

A Carris acabou com muitos dos seus postos de venda de passes e bilhetes. Depois do Metro, a mesma Carris (e a Soflusa e a Transtejo) adoptou o «Lisboa Viva», um cartão com um chip que é "lido" pelas máquinas destes meios de transporte para se poder usar comboios, autocarros e barcos. Para usar o cartão nas máquinas é preciso «activar» (validar) o "chip". Em todas as estações de metro é possível fazer esta activação. O problema é que os passes podem ser usados noutras empresas (CP e LisboaTransportes, por exemplo), que não activam os passes. Resultado: comprei o passe L12 na estação da CP em Campolide e agora quando entro num autocarro diz-me sempre que o meu «título é inválido».



Inválido é este sistema todo modernaço que não prevê o óbvio: uma verdadeira política integrada dos transportes de Lisboa, ao contrário do que vão afirmando os nossos governantes.