Das leituras soltas deste fim-de-semana, vale a pena lembrar a de Ana Sá Lopes (imprescindível) no Público (sábado).
«[...] Quando o PSD invoca a "fuga" de António Guterres esquece-se do mais mirabolante abandono da vida política dos últimos anos, que foi o de Cavaco Silva: Cavaco Silva inventou um "tabu" que deixou o país suspenso e o partido de mãos atadas; "mandou" elaborar uma moção de estratégia a um congresso; já a moção de estratégia estava pronta, anunciou que não era candidato; já não havia tempo para fazer mais moções; os candidatos que apareceram ficavam (e ficaram) sujeitos à moção de Cavaco Silva; Cavaco manteve-se primeiro-ministro, enquanto Fernando Nogueira, o desgraçado vencedor do congresso, fingia que era líder do PSD. E por aí fora, até à derrota eleitoral do partido. [...]»
[sublinhado nosso]
Acrescento outro dado: Cavaco nos dias anteriores às autárquicas, que levaram à demissão de Guterres, pediu várias vezes que os portugueses dessem uma «vassourada» nos socialistas. Depois, qual virgem pura, acusou o primeiro-ministro de então de «fugir às suas responsabilidades». Os espelhos estão todos partidos lá na travessa do Possolo.
Na Dois (ou 2: ou RTP2, para todos os efeitos) falou-se da blogosfera. Não haverá comentários, nem piadas, nem observações de outros blogues & blogueiros. Afinal, passou no «Setenta vezes Sete» (às 9h30!) - e também se perguntou por Deus, aqui, nestes espaços. O Tolentino disse de si, dos seus companheiros, dos blogues (e de Deus, claro) melhor do que nós.
Pacheco Pereira e Miguel Sousa Tavares disseram tudo sobre o vazio de uma possivel candidatura de Santana Lopes a Belém. O que me preocupa mais é o que ele tem feito à cidade onde vivo e o que ele não tem feito para melhorar Lisboa. Pior é (quase) impossível. Mas de política virtual estamos cansados. Como estamos fartos de ouvir Durão (acolitado por Ferreira Leite) a encher a boca com os 2,8 por cento. Guterres afinal tinha razão: o seu défice estava abaixo dos 3 por cento. Bastava fazer engenharia financeira, como fez então e como foi duramente criticado por... Durão & Ferreira.
Pois: o post anterior devia estar isento de sinais estranhos, mas quis o blogger que ficassem alteradas as palavras com acentos... Por isso, este texto ficou assim: isento de acentos, o que se revela complicado de escrever. Mas, sim, conseguimos - e driblamos os gajos...
[Actualização: este "post" perdeu a validade depois de termos actualizado os textos com os acentos...]
Esperei mais de 24 horas e nada. Nem um e-mail simpático a agradecer a disponibilidade e "sem mais" blá-blá-nos-despedimos-até-à-proxima, mas o senhor afinal não cumpre o critério de ter o cartão do partido. Nada!
Senhora ministra da Justiça. Sou jovem, tenho alguma experiência profissional. Posso aprender rapidamente algumas coisas sobre leis, mas já tenho umas quantas ideias sobre «auditoria e modernização» da justiça. Posso remeter CV. Uma remuneraçãozinha na ordem dos 5 mil e poucos euros não estava mal, mas aceito algo mais em conta. A bem do défice. [Responder a este blogue]
Há um sofrimento explorado à exaustão. Parece ser esta a linha de Mel Gibson na sua «última tentação»: «The Passion of the Christ», que filma as últimas 12 horas de Jesus, colocando (segundo os relatos mais ou menos inflamados que nos chegam dos EUA) a culpa da morte de Jesus nos judeus. Na Rua da Judiaria, Nuno Guerreiro introduz - de forma ponderada e documentada, como sempre - o filme, depois de o ter visto, e lança um desafio aos seus «amigos cristãos» para falarem/comentarem o filme. Não fui interpelado, mas as notícias (à volta) do filme têm-me interpelado. E há interpelações novas, pelas respostas ao "post" da Rua da Judiaria. Voltaremos a elas...
«O primeiro-ministro italiano, Silvio Berlusconi, afirmou esta quarta-feira que fugir aos impostos elevados não só é "moralmente justo", como também entra no terreno das "verdades" do chamado "direito natural". Depois da polémica suscitada pelas declarações que proferiu na terça-feira de que os impostos altos fazem com que os cidadãos se sintam autorizados a fugir ao seu pagamento, Berlusconi voltou a justificar a tese: "Não é uma ideia minha, é uma verdade que existe porque existe o direito natural que está dentro da mente e do coração de todos os homens em todos os países do mundo", disse numa entrevista na rádio.» [in PortugalDiário]
O que dirão Durão e os nossos liberais blogueiros, que tanto gostam de elogiar Berlusconi e a sua "famiglia"?
A Agência Ecclesia publicou, na sua edição de 10 de Fevereiro, um dossier sobre a religião na blogosfera... A Cibertúlia pára por lá. Lá dentro descobre-se uma interessante entrevista a Manuel Pinto, um dos promotores do especialista Jornalismo e Comunicação, que expressa a vontade das igrejas «interagirem com outra gente» por estas novas "ágoras".
«Quem trabalha comigo, e mesmo o vereador Pedro Pinto, sabe que sempre que ando na rua estou constantemente a ligar-lhes para lhes dizer que aquele sinal de trânsito está torto ou que faltam pedras num passeio. Temos de ser exigentes, por uma questão de brio», comentou Santana Lopes [in Público].
Em Valença, o gasóleo está a ser vendido a 0,708/litro, a gasolina sem chumbo 98 a 1,039 euros, a de 95 a 0,969 euros e a super a 1,035 euros. A pouco mais de um quilómetro, a principal "bomba" da cidade de Tui (Espanha) tem vindo a absorver toda a sua clientela (e a de outros estabelecimentos da região) com os seus preços altamente concorrenciais: 0,69 euros para o gasóleo, 0,932 para a gasolina sem chumbo 98, 0,842 para a gasolina sem chumbo 95 e 0,91 para a gasolina super.
A tentação é grande - vir à net e não blogar... Não resisti, homem de pouca fé que sou, e vi-me a espreitar os «clássicos». E aí percebi que a Flor de Obsessão vai acabar. O blogue de Pedro Lomba, com quem tantas vezes aqui andámos às turras (sozinhos que, ele a nós, não nos ligou nenhuma), vai acabar - e de vez. Lomba diz que apagará os registos da blogosfera. Sem deixar rasto do que escreveu. Nós lamentamos - o fim, o fim do arquivo, tudo. Deixamos de ter alguma da direita interessante (que há, que há), que (ainda) anda por aqui. Mas, na despedida, Lomba escreve algo que mais do que português fala muito também da direita (peço desculpa, por polemizar na hora da despedida).
«Nós somos os únicos habitantes deste mundo que deixamos as coisas a meio, que não terminamos nada, que saímos quando ninguém espera. Adiar, interromper, parar, são verbos muito portugueses. Eu sei disso. Eu tenho todos os defeitos dos meus compatriotas.» De repente, só me lembrei de Santana Lopes...
Freitas do Amaral deixou ontem escapar na SIC Notícias que a direita portuguesa está a ser pouco inteligente em relação à sua pessoa. E explicou: ele é de direita, recolhe simpatias ao centro e à esquerda, tem tido posições moderadas e de consenso. Perante isto, esperava Freitas, a direita portuguesa deveria olhar para ele e dizer: «Epá (a direita não diz epá, mas desta vez passa), o gajo até, se calar, consegue ganhar esta gaita das presidenciais, arruma-se ai o Santana e o Cavaco, que voltou ao tabu, que se lixe».
Esta é a ideia de Freitas. Uma ideia de quem evoluiu demais para a direita que existe hoje em Portugal. Dois exemplos para esta frase: quem despenalizou o aborto em França foi a direita, quem ainda ontem à noite falava que os esquerditas tinham dado cabo da economia a 11 de Março de '75 foi Paulo Portas, o jovem.
Freitas está assim condenado ao limbo. Ele lá tinha razão no nome do partido, Centro Democrático Social. Ele até defendia a ideia de Deus e da democracia cristã, adepto do Vaticano Segundo, da Rerum Novarum.
Mas estes senhores que pegaram agora na «direita» portuguesa estão ali porque a geração de Freitas fugiu a sete pés. E a geração de Freitas à esquerda ainda mexe.
O que o ex-candidato presidencial não percebe é porque não pode agora o CDS/PP tomar um Ulcermin, uns sais de fruto, como o PCP tomou, e engolir um candidato consensual. Freitas não é um pacóvio, é um consensualista, até pode ter participado no arrepio do «integralismo lusitano». Mas os seus escritos e a sua participação pública não chocam os mais atentos. Não se enreda. Evoluiu. Fez o que queria: Prá frente Freitas, já que Portugal não o quis em 1986.
Será que Santana ou Cavaco são melhores Presidentes que Freitas?
E, ao cingirmo-nos a esta questão, a resposta parece dramática. Não que Cavaco fosse um péssimo presidente. Mas falta-lhe um lado magnânime, um lado de charme político, uma certa credibilidade internacional e, julgo, uma inversão do radicalismo com que deixou a vida política - se bem se lembram a comer bolo-rei de boca aberta.
Mas a direita não vai sequer avaliar a hipótese do «Judas» do Amaral. A direita, uma vez conservadora, outra vez liberal, tornou-se hoje, um pouco por todo o lado, um nicho onde neo-liberalistas, neo-capitalistas e neo-empresários que vêem na liberalização dos despedimentos a saida para a crise se sentaram com o poder.
A democracia-cristã só enche a boca aos que, no poder, tentam a todo o custo safar-se dos rótulos impropéricos que o centro e o centro-esquerda lhes tenta colar. Quase que apetece dizer que, 30 anos depois, enquanto a nossa esquerda acaba a adolescência, do outro lado começa o «complexo de direita».
Freitas não se encaixa em lado nenhum. À esquerda, BE e PCP não o podem apoiar (antes o Boaventura Sousa Santos ou mesmo a Lurdes Pintasilgo). Mas pode existir um pauzinho na engrenagem: Mário Soares.
Será que o «bochechas», vendo o drama Guterres-Constâncio, não irá obrigar o seu PS a tomar sais de fruto e apoiar Freitas? Será que a ironia final da vida de Soares e do PS de Soares vai ser derrotar a direita com a bomba atómica direitista de 1986?